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Salo Davi Seibel

Presidente do Conselho de Administração da Duratex

Op-CP-17

E então, a crise acabou?

A crise acabou! Não, ela não terminou, o pior ainda está por vir. Não houve crise. É um tsunami! Não passa de uma marolinha. É um movimento em V. Que nada, é em L. Bobagem, no mínimo será em W. Ou seja, se vocês quiserem mesmo conhecer um diagnóstico da grande crise econômico-financeira internacional e seus efeitos sobre o Brasil, abram qualquer edição recente de um bom jornal e lá encontrarão a abalizada análise dos mais conceituados especialistas brasileiros e mundiais afirmando... o que vocês preferirem ler.

Há suficientes artigos e opiniões para todos os gostos. Portanto, não esperem de mim mais uma dessas avaliações. Mesmo porque, como um empresário do setor florestal brasileiro, com atuação na produção de painéis de madeira industrializada - MDF, MDP e Chapa de Fibra, eu não preciso me preocupar com aqueles que, através dos empréstimos subprime - e de inúmeras outras operações financeiras inacreditavelmente irresponsáveis - induziram uma boa parcela da humanidade a um comportamento de exuberante irracionalidade, todo mundo dançando uma frenética ciranda, que acreditavam eterna e retroalimentada.

Eu me explico. Esse delírio coletivo que atingiu, em todos os continentes, centenas de milhões de consumidores, bem como perspicazes comerciantes, sólidos industriais e banqueiros tarimbados, também contaminou o empresariado do nosso setor de painéis, que dobrou, no curto período de três anos, a capacidade instalada no Brasil, investindo cerca de R$ 2,5 bilhões.

Evidentemente, quando as decisões desses investimentos foram tomadas, por volta de 2006, a convicção generalizada era a de que o país estava entrando em um longo período de significativo crescimento do seu mercado interno e de que, simultaneamente, o custo Brasil passaria a ter uma gradativa redução, favorecendo igualmente as nossas exportações.

Ninguém sequer imaginava assistir à valorização do Real ocorrida nos últimos dois anos. É por isso que, no nosso segmento, a crise internacional não é a grande preocupação. Ao contrário, aflige-nos muito mais a crise intramuros que nós mesmos fomos capazes de gerar. Agora, “quem pariu Mateus que o embale!”. E, “embalar Mateus”, aqui, significa buscar obsessivamente produtividade e diminuição de custos.

Ou seja, através de ganhos de escala e de um saudável processo de consolidação, já iniciado, as empresas do nosso setor terão condições de se tornar as mais competitivas do mundo. Se, em um futuro breve, espero, o custo Brasil finalmente começar a baixar, e o nosso câmbio deixar de ser tão perverso, não tenho dúvida de que o Brasil terá o maior e melhor setor de painéis de madeira e, consequentemente, de móveis do mundo.

Por outro lado, não obstante o fato de que o setor de florestas plantadas no Brasil (6,5 milhões de hectares, a maior parte certificados pelo FSC e/ou Cerflor, produtividade superior a 50m³/ha/ano, exportações de US$ 7 bilhões/ano, R$ 9 bilhões de tributos anuais e 5 milhões de empregos gerados) ser considerado internacionalmente como a grande referência mundial, ele tem sido alvo de uma série interminável de ações - e omissões - que, se fôssemos dados a teorias conspiratórias, poderiam nos fazer imaginar a existência de um complô montado com o objetivo de fragilizá-lo, se não inviabilizá-lo completamente.

Sem mencionar a exagerada burocracia e a crescente despesa com todos os tipos de taxas que as empresas que plantam florestas têm que enfrentar, as exigências dos órgãos ambientais também não cessam de aumentar, e chegaram a um limite com a edição do decreto 6.514 de 2008 que, ao tentar regulamentar as infrações ambientais e as respectivas penalidades, atinge fortemente a atividade de plantio de florestas, colocando em perigo o seu futuro.

A
lém disso, a proliferação de áreas protegidas, com a criação de novas unidades de conservação e suas consequentes faixas de amortecimento, reservas extrativistas, áreas de comunidades e de povos tradicionais, também ameaça inviabilizar o negócio de florestas plantadas no Brasil, uma vez que, em que pese a imbatível produtividade que conquistamos, o custo da nossa madeira não cessa de subir, não sendo difícil prever que, dentro de alguns anos, não mais estaremos entre os produtores mundiais de baixo custo.

E então, a crise acabou? Bem, "a deles", como já disse, eu não sei. E também não sei se vem ao caso. Mas "as nossas", as crises do setor de florestas plantadas no Brasil, e em especial do segmento de painéis de madeira industrializada, essas, com certeza, não acabaram. Algumas delas, ao contrário, estão apenas começando.

A grande vantagem é que, para enfrentá-las, não dependemos do Bernancke, do Obama, do Sarkozy ou mesmo do Henrique Meirelles. E, se é verdade que as soluções dessas crises não dependem somente de nossa mobilização, não é menos verdade que essas soluções passam bastante por nós. Mexamo-nos, portanto!