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Adhemar Villela Filho

Consultor Florestal

Op-CP-06

Desafios e oportunidades da logística florestal

Existe, consensualmente, a visão de mudança do centro de gravidade do negócio florestal, do hemisfério norte para o sul. O principal agente deste movimento, no caso do Brasil, é destacado pela competitividade conferida ao crescimento das florestas plantadas e aos amplos espaços geográficos existentes para o desenvolvimento da cadeia produtiva florestal nacional.

Na realidade, são visíveis a movimentação e o envolvimento setorial, beneficiando grandes, médios e pequenos investidores. A este novo paradigma, adiciona-se o compromisso de sustentabilidade florestal, garantindo o acesso à fibra dos mercados tradicionais, a conquista de novos mercados e ao atendimento das demandas para o desenvolvimento nacional, de forma explícita para o crescimento econômico.

Os desafios, neste ambiente, são, na verdade, oportunidades geradas pela dificuldade global de acesso às florestas nativas, quer seja por limitações e restrições de natureza socioambiental, ou ainda por dificuldades de acessibilidade. Em conseqüência, vivemos o cenário, onde se destaca a importância da biodiversidade, a qual se traduz em mais preservação e conservação dos remanescentes de florestas nativas e de ecossistemas protegidos.

Como resultado desta nova ordem, a demanda por madeira de florestas plantadas tende a crescer. Este processo de desenvolvimento, no nosso país, não requer a conversão das florestas nativas existentes. Assim, quando se abordam as oportunidades para produtos florestais, oriundos de florestas plantadas, seja in natura ou semiprocessados, temos de reconhecer que em um ambiente crescente de escassez de madeira, existe a conveniência da inserção do Brasil como um dos mais importantes produtores de madeira de origem sustentada.

A madeira é produto estratégico para as diversas cadeias produtivas que compõem a base industrial do país. Ao seu valor, deve ser adicionada a capacidade de ser transformada em produtos, através de seu processamento na floresta e transporte ao mercado de destino. As operações de colheita e transporte ganham importância econômica e estratégica. A história recente mostra que, nas últimas décadas, os desafios foram traduzidos no progresso setorial contínuo, baseados em cinco mudanças estruturais do negócio florestal.

1. Mudança do perfil tecnológico: De atividade de uso intensivo de mão-de-obra, para máquinas inteligentes de colheita e movimentação, associadas aos modais de transporte de seguros, de grande capacidade e velocidade, e baixa emissão atmosférica.
2. Valorização constante da madeira: Por pressão de demanda e efeito substituição, a madeira é reconhecida como valioso produto. Regimes de manejo migram de modelos de biomassa, para produtos de alto valor agregado, onde se destaca a floresta, com perfil de multiprodutos.
3. Desenvolvimento sustentável: A sustentabilidade, fundamentada no princípio do triplo resultado, é incluída no planejamento estratégico de projetos florestais e industriais.
4. Escala industrial: A escala de produção é ferramenta de competitividade global. Grandes projetos industriais viabilizam-se com a criação de clusters periféricos de madeira sólida, na busca de integração de resultados da floresta e da indústria.
5. Globalização da economia florestal: Entendimento que a operação florestal vai além dos seus limites produtivos geográficos (efeito China).

Neste quadro evolutivo, a floresta plantada caminha na busca do binômio produtivo de madeira fresca (fresh forest fibre) e subprodutos florestais (recovered fibre). Em países de tradição florestal, cerca de 95% da árvore colhida é aproveitada. Cerca de 16% é destinada ao uso para energia, 20% à fabricação de produtos sólidos da madeira, 36% à conversão de fibras em celulose ou chapas de madeira e o restante para cogeração ou produção de vapor.

O Brasil colhe e transporta cerca de 150 milhões de metros cúbicos de madeira industrial, não considerada a produção de sub-produtos derivados da floresta colhida. O uso da árvore ainda não chega aos padrões dos países tradicionais. Seguindo esta tendência, é irreversível o uso múltiplo das florestas plantadas, bem como a introdução de novas tecnologias e o desenvolvimento de novos processos na colheita e no transporte.

Assim, supõe-se que, além do crescimento vegetativo da colheita e do transporte, serão obtidos mais produtos da floresta plantada, com maior intensidade operacional. Na procura de uma produção mais intensiva, será obtido maior volume de madeira por unidade de área, respondendo a um dos ícones clássicos da sustentabilidade, que é a ecoeficiência.

Da mesma forma, os impactos da colheita e do transporte serão cada vez mais medidos, em termos de desempenho operacional e ambiental. A movimentação da madeira passará pela racionalização, através de acordos “intercompanhias”, na troca de ativos/madeira mais próximos de suas unidades industriais, visando à redução dos custos e das emissões do transporte.

Em países mais tradicionais, esta prática diminui em até 30% os custos e as emissões. Este ambiente de mudanças irá requerer a construção de uma nova agenda, fundamentada em:

 

  • uso de combustíveis alternativos;
  • desenvolvimento de motores mais amigáveis com o meio ambiente;
  • aumento da capacidade de carga dos caminhões;
  • supply chain, evitando que caminhões rodem sem carga;
  • desenvolvimento técnico de processos e equipamentos;
  • diminuição do modal rodoviário, em benefício do ferroviário e hidroviário;
  • modernização da infra-estrutura existente, para responder a estes desafios.

Finalmente, a eficiência na geração de fibras ganha importância estratégica e deve ser alinhada na busca do equilíbrio, no mínimo, entre as emissões geradas e a captura de carbono da floresta, objeto da produção da madeira. Este será o novo desafio para as próximas décadas.