Especialista em Relações com a Comunidade e Diretor Florestal da Bahia Specialty
Op-CP-31
Viver da floresta não é uma condição exclusiva dos produtores rurais, de seus trabalhadores, das reflorestadoras, das indústrias afins e de suas prestadoras de serviço e clientes diretos. O povo que vive da floresta plantada é a população de todo o mundo. Viver da floresta plantada é, também, utilizar produtos obtidos a partir de sua madeira, suas folhas, suas resinas, suas flores... E quem não utiliza?
Em seu livro A história das florestas - a importância da madeira no desenvolvimento da civilização, o pesquisador americano John Perlin mostra como as florestas foram cruciais para o desenvolvimento da humanidade, desde a Mesopotâmia.
Comprovando suas afirmações com registros históricos, ele revela como a existência das florestas foi decisiva para a formação de povos nas mais diversas regiões do planeta, ao mesmo tempo em que sua destruição levou muitas civilizações à ruína. A exploração insustentável da madeira nativa trouxe, num primeiro momento, lucro fácil.
Porém, como consequência, vieram o esgotamento dos recursos florestais, fome, inundações, destruição do solo e estagnação da produção agrícola. A história mostra, então, que o caminho é plantar florestas, não destruir florestas; que o uso sustentável dos recursos naturais é o que pode assegurar a sobrevivência da espécie humana.
Hoje, felizmente, os conhecimentos e tecnologias disponíveis e adotados pela maioria das empresas permitem o manejo dos plantios de modo absolutamente consistente com os compromissos de sustentabilidade do segmento.
É o que, em geral, revelam os relatórios setoriais e de sustentabilidade das empresas de base florestal brasileira. O que se observa nesses registros é que elas, de modo claro, contínuo e objetivo, aprimoram suas práticas de gestão, inclusive incorporando as comunidades aos processos produtivos, como forma de compartilhar os benefícios da cultura de árvores.
Alguns exemplos são as parcerias com produtores rurais em programa de fomento do eucalipto, com apicultores, artesãos, moveleiros e integrantes de movimentos sociais.
Isso sem falar nas iniciativas voltadas à promoção do bem-estar social implantadas e mantidas pelas empresas em parcerias com organizações não governamentais, associações e poder público.
Na Bahia Specialty Cellulose - BSC/Copener, por exemplo, a Política de Gestão Social orienta para a promoção do negócio florestal em sintonia com a valorização do meio ambiente e o fomento ao desenvolvimento socioeconômico das comunidades.
O pressuposto fundamental dessa política se expressa no imperativo de construção de parcerias, valorizando posturas que fomentem a corresponsabilidade, o compromisso, a contrapartida e, dessa maneira, a autonomia das partes interessadas.
Assim, nossas ações sociais – agregadas nos eixos educação, trabalho e renda, agricultura familiar, organização comunitária e associativismo e apoio a demandas sociais qualificadas – focam o fortalecimento dos arranjos associativos regionais, com vistas a garantir conhecimento, educação formal e trabalho para os moradores, em sintonia com os princípios de conservação e preservação ambiental e a manutenção da missão e dos objetivos do manejo florestal.
Voltando ao setor como um todo, o que se percebe na maioria das empresas é que as iniciativas empreendidas por elas conciliam interesses das partes envolvidas e evidenciam o poder transformador e de articulação das organizações, especialmente em favor das comunidades mais carentes e afastadas dos grandes centros urbanos, aquelas que vivem no entorno dos plantios e com maior dificuldade de acesso às oportunidades de qualificação profissional e trabalho digno.
Em termos ambientais, as técnicas de manejo do solo, as medidas de uso consciente e proteção dos recursos hídricos, a recuperação e a manutenção de áreas de cobertura vegetal original, o emprego de tecnologias de controle e monitoramento de pragas, as técnicas e os equipamentos adotados na colheita florestal e, claro, os processos industriais de conversão da matéria-prima formam a base de uma atividade sustentável mundialmente reconhecida. Uma prova desse reconhecimento é a certificação das empresas pelos mais respeitados organismos nacionais e internacionais.
Mas precisamos compreender que há um longo caminho a seguir, com novos e crescentes desafios a cada dia, e que as empresas do setor devem continuar focadas na conquista e na manutenção de selos que permitam à sociedade reconhecer as boas práticas e diferenciar as empresas que desenvolvem produtos para um mercado em contínua evolução da demanda e cada vez mais consciente de suas responsabilidades.
Essa é a garantia para o consumidor de que as empresas e os produtores, que demandam recursos naturais, estão cuidando de toda a cadeia produtiva, o que significa equilibrar os aspectos econômicos, sociais e ambientais relacionados à atividade florestal.
O povo que vive da floresta plantada, ainda que indiretamente, precisa ampliar o uso, em suas reais necessidades de consumo, de produtos de origem sustentável, exigindo boa procedência dos produtos florestais e industriais derivados.
Se, como consumidores, devemos estar atentos às boas práticas de mercado, na qualidade de produtores florestais, devemos ter o compromisso com o aprimoramento constante da atividade para levar aos clientes um produto que atenda às suas expectativas e que contribua para a manutenção dos ecossistemas, honrando a reputação do setor perante empresas e estudiosos de todo o mundo, como Patrick Moore, cofundador e ex-líder do Greenpeace.
Segundo Moore, no livro Desafios da sustentabilidade, Cerflor – 10 anos trabalhando em favor das florestas brasileiras, “toda atividade humana tem impacto sobre o meio ambiente, mas de todas as atividades primárias que fornecem energia e material, a indústria florestal é a mais sustentável”.
Assim, quanto mais pessoas ao redor do mundo viverem das florestas plantadas do Brasil, melhor. Melhor porque temos as melhores florestas plantadas do globo. Melhor porque nossas empresas florestais atuam significativamente na recuperação e na preservação de áreas de mata nativa.
Melhor porque os cultivos de eucalipto são grandes aliados do planeta no sequestro de CO2 da atmosfera. Melhor porque o setor é um dos que realiza investimentos sociais mais expressivos. Melhor porque as indústrias que utilizam produtos de nossa atividade florestal fazem toda a diferença na balança comercial brasileira. Melhor porque o cultivo de árvores é um dos mais importantes geradores de emprego e renda no nosso país. Melhor, enfim, porque mais e mais pessoas estarão, de fato, vivendo melhor da floresta plantada, com a certeza de que não estarão degradando o meio ambiente pelos seus hábitos de consumo.