Diretor da Teca e Daplan - Gestão e Serviços Florestais e Administrador da www.facebook.com.br/comunidadeDeSilvicultura
A silvicultura é uma atividade bastante abrangente que envolve as pessoas de diferentes formas e intensidade. Plantar para produzir madeira ou diferentes produtos, para fornecer bens e serviços, manejar florestas, arborizar cidades, restaurar áreas degradadas, reflorestar para proteger nascentes, enriquecer matas degradadas para proteção da biodiversidade e mais centenas de outras atividades: tudo isso é silvicultura.
E tudo isso envolve pessoas. A ciência, as pesquisas, os trabalhos de campo, enfim... tudo é tocado por pessoas. E a árvore é o centro de toda atenção e cuidado. Independente de ser exótica ou nativa, a silvicultura dispensa a mesma atenção à mesma estrutura biológica.
No Brasil, os conceitos de silvicultura são apreendidos nos bancos acadêmicos em toda sua abrangência, mas a aplicação vai se modificando e se estreitando e, às vezes, chega ao final da linha como sinônimo de plantio de eucalipto para produção de madeira para essa ou aquela empresa. A silvicultura, pela abrangência dos temas tratados, permite atalhos que se desenvolvem com mais ou menos intensidade e podem se agigantar.
Serão sempre parte da silvicultura. Mas o gigantismo dessa ou daquela atividade pode inibir inúmeras alternativas e oportunidades. O atalho da silvicultura, que levou ao uso do eucalipto e outras espécies exóticas, foi de grande sucesso e deu origem à silvicultura comercial e intensiva, quase “de uma nota só”. Cresceu, se desenvolveu e se destacou em nível internacional. Sucesso econômico marcante e fruto de meritório trabalho de excelentes profissionais. Gerou riquezas e criou seu universo próprio. Virou modelo para o mundo.
Mas a silvicultura é muito maior do que a simples cultura dessa ou daquela espécie. É muito maior que a cultura de eucalipto ou pínus, que se transformou, para muitos, em sinônimo da silvicultura brasileira. Entender, desenvolver e aplicar a silvicultura em sua dimensão, com certeza, vai abrir um leque de novas oportunidades. Esse é um grande desafio aos silvicultores, principalmente nos próximos anos, em que o formato dessa silvicultura de “uma nota só” dá sinais de exaustão.
Ela precisa ser repensada, mesmo havendo muito espaço para mais crescimento. Há de se entender o nível atingido, os incontáveis benefícios alcançados e as limitações surgidas para que se possa discutir o redesenho da nova silvicultura. Tivemos um crescimento espetacular, nos últimos 50 anos no Brasil.
A tecnologia florestal continua em franca evolução; integraram-se conceitos, necessidades e exigências ambientais e, acima de tudo, foram gerados milhões de empregos diretos e indiretos no meio rural. Foi dado um salto extraordinário na direção do social em benefício das pessoas. E o trabalhador florestal, aquele residente nas comunidades distantes e que representa o elo mais frágil da cadeia de produção, foi o mais beneficiado, com toda a sua família.
Há muitos dados que mostram que o trabalhador florestal, longe de estar num céu de maravilhas e de regalias, é um privilegiado no meio rural. Em sua grande maioria, recebe tratamento decente e se cerca de todas as obrigações trabalhistas. Infelizmente, a realidade do trabalhador rural brasileiro é bastante precária, e essa comparação, isoladamente, não teria tanto significado.
Mas há muitas diferenças e avanços com respeito à segurança, às condições de trabalho, ao treinamento, ao transporte, à alimentação e à assistência geral a todos os seus familiares. Quer a empresa tenha seus próprios colaboradores ou sejam terceirizados, as necessidades e as exigências trabalhistas são sempre respeitadas.
Há espaço para melhorias, mas “o prato de comida quente” para trabalhadores, que nem sempre eram minimamente reconhecidos, embute avanços significativos. A comida quente no campo sempre vem seguida de transporte decente, cuidados e prevenções de acidentes, além de assistência médica a toda a família.
É importante indicador do tratamento que se dá ao trabalhador florestal. Há muita gente que diz que a grande contribuição da silvicultura ao desenvolvimento social e econômico do Brasil é conseguir alcançar as regiões mais longínquas, quase inacessíveis, e levar os princípios básicos de cidadania e pôr o “prato de comida quente” na mesa do trabalhador, lá no campo. E essa comida quente e farta não chega sozinha.
Ela muda conceitos, quebra paradigmas, traz o respeito pelo trabalhador rural, tira a pessoa de cima do caminhão sem nenhuma segurança e cria esperança de uma nova vida a todas as pessoas. O tempo recicla todos esses benefícios, mas a primazia “do prato quente“ é uma marca da silvicultura. E os avanços para novas fronteiras para possibilitar o crescimento das indústrias já desenvolvidas, ou para criar novas utilizações industriais da madeira, vão implicar, obrigatoriamente, estender esses benefícios básicos a mais brasileiros.
Que os sinais de exaustão da silvicultura comercial não tolha os avanços às novas fronteiras. Há muitos brasileiros precisando da chegada da silvicultura. Há dados estatísticos de entidades representativas do setor mostrando a geração de mais de 4 milhões de empregos em toda a cadeia de produção florestal.
E, aqui, estão incluídos todos os serviços para manejo de florestas nativas, plantios, manejo, colheita e transporte de madeira das florestas plantadas em todas as diferentes fases do negócio. Apesar das dificuldades de se dimensionar a fatia do segmento, lá da ponta, envolvido com novas fronteiras e regiões menos protegidas, para os quais a silvicultura é extremamente contributiva, estima-se que, no mínimo, mais de 100.000 brasileiros estão sendo beneficiados.
Não há nenhuma dúvida de que o impacto social nessa ponta do segmento de florestas plantadas, representado pela empregabilidade de significativo contingente de mão de obra desprovida, até então, de total assistência em todos os aspectos, para muitos, é a mais expressiva contribuição social da silvicultura comercial e intensiva. É uma pena que nossos governantes não tenham a devida dimensão e sentimento de tamanha contribuição.
Acrescenta-se a esse grupo de beneficiados pelo emprego direto mais um grupo de pequenos e médios produtores que geram oportunidades dentro de suas propriedades e se utilizam delas. São os produtores florestais. Segundo dados de entidades do setor, mais de 30% da madeira das grandes empresas tem origem nessas propriedades.
E fala-se em mais de 150.000 propriedades rurais que trabalham com silvicultura. E o sucesso dessa silvicultura tem, portanto, relação direta com milhões de brasileiros de todas as classes, com expectativas e esperanças diferentes. Acrescentam-se, ainda, milhares de profissionais capacitados para as diferentes atividades especializadas e complementares, além de mais de 1.000 engenheiros que se formam todos os anos nas diversas faculdades de ensino da engenharia florestal.
Dos milhões de trabalhadores florestais, aos milhares de pesquisadores do mais alto nível acadêmico, dos milhares de famílias que plantam, colhem e vendem a madeira, enfim, para a grande maioria desse exército de servidores, a silvicultura é a razão e a sustentação de suas próprias vidas.
Quando se fala em melhorias sociais, em benefício da atividade, ou quando se discutem alternativas para a cadeia produtiva dessa silvicultura “de uma nota só”, estamos tratando de melhorar as condições de vida de milhões de pessoas. O sucesso da indústria de base florestal e a competitividade da silvicultura brasileira passam, obrigatoriamente, pelas mãos de toda essa cadeia social.
É impossível imaginar que a sustentabilidade de tamanha riqueza prescinda de estreita colaboração de todas as pessoas envolvidas nos diferentes processos produtivos. E estamos tratando, quase exclusivamente, da silvicultura de eucalipto e pínus, ou seja, da silvicultura “de uma nota só”.
É fácil imaginar a multiplicação de benefícios, se aumentarmos os trabalhos com mais espécies, especialmente com nossas espécies nativas, conseguiremos criar mais alternativas para uso da madeira e de outros produtos florestais. Esse imensurável potencial precisa ser desenvolvido para que a silvicultura brasileira possa crescer em toda a sua dimensão e usufruir das extraordinárias condições naturais de nosso país.