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João Carlos Augusti e Bruno Marco de Lima

Gerente de Meio Ambiente e Certificações e Gerente Sênior de P&D Florestal, da Bracell, respectivamente

OpCP68

A silvicultura do carbono, na prática
Embora carbono e biodiversidade tenham se tornado os temas mais importantes do momento, as discussões e os debates sobre as causas e os efeitos do complexo processo das mudanças climáticas vêm de muitos anos. O número de COPs - Conferências das Partes da Nações Unidas é uma evidência disso.  Já foram realizadas 25 delas, e ainda não chegamos a um acordo definitivo que traga as mudanças necessárias para frear o aquecimento global. Em meio a tanta incerteza, podemos dizer que o setor florestal é uma exceção e exemplo a ser seguido por outros setores. Aqui, não somente debatemos, mas buscamos soluções práticas que envolvem nosso principal ativo: a árvore e o seu importante papel nessa equação climática.
 
Para entender o papel das árvores, volta-se ao passado, quando, ao final do século XVIII, o padre e cientista Jean Senebier teve as primeiras suspeitas de que as plantas absorviam carbono diretamente do ar. Tempos depois, essa e outras ideias corroboraram para a descoberta da fotossíntese (síntese utilizando a luz), processo que permite às plantas absorver e converter o CO2 em carboidratos, liberando oxigênio no processo. Ou seja, as plantas são as grandes responsáveis em regular as concentrações de carbono atmosférico. E as árvores se destacam pela biomassa gerada e alocada em seus compartimentos, em sua quase totalidade composta por esse carbono oriundo do ar, liberando, em contrapartida, quantidades significativas de oxigênio na atmosfera. Pela perenidade das árvores, plantios e áreas de conservação, atuam, por fim, como os grandes sumidouros de carbono. 

As florestas, plantadas e nativas, ganharam destaque pouco antes da COP24, em Madri. Naquele momento, a partir de estudos, papers e, principalmente, pela posição dos negociadores, ficou claro que a conta não iria fechar baseada somente nos acordos internacionais e instrumentos de mercados centrados no estabelecimento de limites e comércio de créditos de redução de carbono, no modelo chamado de cap and trade. Eles não seriam suficientes para controlar o aumento da temperatura em 1,5 °C, conforme definido no Acordo de Paris da COP de 2015. 

O mundo precisava de um poderoso mecanismo de offset das emissões industriais, que removesse e estocasse grandes quantidades de CO2, de forma eficiente.  A solução poderia vir da produção de créditos de carbono advindos do sequestro e estoque do carbono realizados pelas árvores nativas e plantadas (silvicultura). Isso reforçou o que a UNFCCC havia declarado em 2015, que “as florestas são a chave para a solução climática” (https://unfccc.int/news/forests-as-key-climate-solution), e, de lá para cá, as árvores tornaram-se o centro da discussão do controle do aquecimento global.

Nesse contexto, a Bracell, empresa de base florestal com o eucalipto como sua principal matéria-prima, é líder mundial na produção de celulose solúvel. Atualmente, a empresa tem plantios nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Bahia, nos biomas Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga, formando verdadeiros mosaicos florestais na paisagem e removendo enormes quantidades de gás carbônico da atmosfera. Ainda usando os produtos da silvicultura, em SP, a fábrica da Bracell possui tecnologia de ponta e diversos avanços em sustentabilidade. Ela opera com 100% de energia de fonte renovável e sem uso de combustível fóssil (fossil fuel free), graças a um moderno gaseificador de biomassa. Além disso, produz um excedente de energia elétrica limpa e renovável, disponibilizado para Grid nacional, que é capaz de abastecer uma cidade com até 3 milhões de habitantes (750 mil residências).
 
Quantificar com qualidade como o carbono está sendo capturado pelas florestas é essencial para se tornar ainda mais eficiente e verde. Por exemplo, em 2020, a Bracell teve balanço de emissões negativo, ou seja, sequestrou mais do que emitiu, com um superávit de 3,9M tCO2. Na gestão setorial dos gases do efeito estufa, é essencial que todos passem a gerenciar as suas próprias contas, ampliando o rol de soluções climáticas, ajudando o planeta, com cada um fazendo a sua parte.

Do mesmo modo, a silvicultura sustentável tem se ampliado no Brasil. Uma importante premissa de sustentabilidade é a expansão da silvicultura somente em áreas já antropizadas e muitas vezes degradadas. Essa prática, além de prevenir o desmatamento, proporciona um grande potencial de sequestro e estoque de carbono, na forma de florestas. Projetos de medição de carbono em nativas, estruturação de crédito pelo CCB/VERRA e o gerenciamento da paisagem são importantes e também estão em andamento na Bracell. Essas ações devem contribuir e motivar outros profissionais e empresas a ampliarem as opções ambientais e econômicas da silvicultura do carbono. 

Permanecendo na vanguarda, a Bracell mantém e investe em estudos relacionados ao sequestro de carbono. Se destaca o projeto cooperativo Eucflux (Ipef), do qual a companhia faz parte desde 2008 e objetiva estudar os fluxos de água e carbono em plantações de eucalipto. O projeto, inclusive, conta com diversos artigos científicos publicados em revistas internacionais. 

Os resultados desses projetos ajudam a Bracell e demais cooperadas do projeto a entenderem e direcionarem ações relacionadas ao tema. Como a inovação e a melhoria contínua são valores fundamentais da Bracell, novos projetos de pesquisa estão sendo desenvolvidos nesse tema, gerando conhecimento e suportando as decisões da companhia, em benefício de todos.

Hoje, todos os profissionais têm a oportunidade e o dever de inovar, reduzir emissões, gerar e compartilhar energia limpa. Sequestrar carbono nas plantações e nas áreas de conservação é parte do trabalho das empresas de base florestal. Há convicção de que a maior contribuição nesse processo se faz a partir do protagonismo nas instâncias de discussão do tema. Nesse campo, é capital a precificação do carbono sequestrado, por promover a qualidade do ar, proteger e regenerar paisagens, além de outros serviços fundamentais à sociedade e às gerações futuras.

É papel de cada um atuar no desenvolvimento de políticas públicas e de certificações em fóruns setoriais e multisetoriais, como a Florestar SP, o IBÁ, o Cebds, o Diálogo Florestal Brasileiro, através do Fórum Florestal de SP, o Pacto pela restauração da Mata Atlântica e na recente decisão em aderir à Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura. Por fim, cabe destacar a filosofia dos 5 C’s, da Bracell e do grupo RGE, no qual se faz o que é bom para a Comunidade, o País (Country), o Clima e o Cliente e, por consequência, a Companhia também se beneficiará. Assim, fica claro que, com o investimento no plantio de árvores, será possível ter empresas saudáveis em um mundo sustentável.