Me chame no WhatsApp Agora!

Luiz Henrique Tápia

Diretor de Sustentabilidade e Relações Institucionais da Veracel

AsCP23

As relações entre empresas e comunidades
As iniciativas de desenvolvimento sustentável estão cada vez mais inseridas no planejamento estratégico das organizações que, além da preocupação com a escassez de recursos, já perceberam, também, que o cuidado com o meio ambiente é um diferencial competitivo. Trabalhar a sustentabilidade como parte do negócio é uma necessidade e uma estratégia inteligente, sendo crucial que as companhias reconheçam essa responsabilidade e adotem essa prática para minimizar seus impactos e promover a proteção ambiental.

Contudo, será que isso é suficiente quando pensamos na consolidação de mudanças reais na relação entre a sociedade e o meio ambiente? Uma frase dita pelo  meu antecessor na Diretoria de Sustentabilidade da Veracel, Renato Carneiro, faz muito sentido para essa reflexão: “Não existe empresa de sucesso em território fracassado”.
 
Implementar ações ambientais e tratar a sustentabilidade como estratégia de negócio é somente o básico. Para caminharmos em direção a um futuro em que haja equilíbrio entre a atuação humana e o meio ambiente, é necessário olhar para o território em que o negócio se situa, entender as necessidades das comunidades do entorno e ir além, buscando formas de engajar essas pessoas nos ganhos que uma produção sustentável pode propiciar.

Um exemplo dessa relação é a atuação da Veracel para a proteção da vida marinha. Para evitar que o transporte de celulose de Belmonte-BA até o terminal de Barra do Riacho-ES causasse impactos, a companhia desenvolveu programas e parcerias de proteção aos animais, como o feito com o Instituto Baleia Jubarte e um programa de monitoramento de quelônios que, há 18 anos, monitora cerca de 35km de praias para acompanhar as tartarugas da região. Em breve, para complementar essa iniciativa, a empresa vai inaugurar o primeiro centro de reabilitação de quelônios da região Sul da Bahia, uma iniciativa inovadora no setor que salvará a vida de muitos animais.
 
Por si só, esses programas já seriam diferenciais relevantes, porém, sozinhos eles não são suficientes. A Veracel realiza, desde 2014, um monitoramento da cadeia de pesca da região que traz dados detalhados sobre a dinâmica da pesca local. O objetivo é contribuir para a gestão da atividade, e gerar oportunidades de ganhos aos pescadores, além de supri-los de dados que permitam sua inscrição em projetos governamentais de fomento.

Segundo dados desse monitoramento, a pesca representa mais de R$ 4,5 milhões por ano para municípios na área de atuação da empresa, sendo o sustento de famílias inteiras por gerações. Com isso, a Veracel também inclui nesse trabalho ambiental marítimo as necessidades da comunidade de pesca local, tanto para que sua operação não afete o trabalho dos pescadores, quanto para fortalecer a cadeia de pesca. Esse fortalecimento profissionaliza a produção, amplia as possibilidades de renda para essas pessoas e, consequentemente, traz ainda mais benefícios ambientais, pois evita a necessidade do aumento desenfreado da pesca para manter a renda da comunidade. 
 
Apesar dessas iniciativas de sucesso, sabemos que ainda é possível ir além. Existem ações já adotadas pelas comunidades que já são extremamente sustentáveis e de baixo carbono, como a agricultura familiar. Como podemos envolver esse perfil de agricultura nos ganhos de uma possível negociação de créditos de carbono, por exemplo?
 
Vale lembrar que os créditos de carbono são uma forma de compensação usada para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e mitigar as mudanças climáticas. Na agricultura familiar, existem várias práticas agrícolas e florestais que podem gerar esses créditos, como a adoção de sistemas agroflorestais, o uso de energia renovável ou a gestão de resíduos. Sabemos que a participação da agricultura familiar nos mercados de créditos de carbono pode ser desafiadora devido a fatores como acesso a financiamento, capacidade técnica e acesso a programas de certificação e monitoramento. 
 
Por isso, é importante que os agricultores familiares tenham apoio e incentivos adequados para se beneficiar desse mercado. Estamos no momento de olhar para oportunidades como essa, quebrar barreiras e pensar no mercado de créditos de carbono como algo que vai além das corporações e pode chegar também às comunidades, 
 
beneficiando e incentivando projetos cada vez mais sustentáveis. Estou convicto de que, seguindo nesse caminho, as empresas conseguirão ir além do básico em suas ações ambientais, ampliando o acesso da população aos benefícios que essa agenda proporciona. Afinal, o sucesso do território é o sucesso da empresa, e colocar a comunidade como protagonista na conservação ambiental é o que vai fazer a diferença para garantirmos que as ações ambientais propostas sejam realmente perenes.