Obrigatoriamente, aqueles que lidam com silvicultura deveriam procurar conhecer a história do desenvolvimento do setor de plantações florestais no Brasil. Uma história repleta de desafios e conquistas. Não se trata de saudosismo, mas, sim, de uma ótima oportunidade de aprendizado.
Quem fizer isso, conseguirá compreender, com maior robustez, a nossa silvicultura atual. Foram muitos erros, superados por uma quantidade muito maior de acertos, que a tornaram um Made in Brazil exportável, despertando a atenção de muitos países.
Sem entrar nos detalhes, é certo que a passagem da escala de milhares para milhões de hectares e produções de madeira, que, várias vezes, se multiplicaram, ocorreu graças a investimentos públicos e privados, que suportaram a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico, a inovação e a formação especializada de recursos humanos.
E hoje? Decorridas várias décadas, está mais difícil e complicado produzir florestas? Muitos poderão dizer que sim, mas sou de opinião contrária. Julgo que os desafios do passado foram até maiores, pois, praticamente, os conhecimentos sobre como cultivar árvores, em grande escala, eram muito limitados em todos os aspectos.
Além do mais, comparativamente aos dias atuais, os instrumentos e as metodologias eram bem mais restritos. Mesmo assim, o processo avançou e os milhões de hectares apareceram e, hoje, o Brasil é um player com liderança mundial no setor.
Fica então a pergunta: por que há tanta manifestação de que estamos estagnados ou, em algumas situações, estamos tendo reduções de ganhos de produtividade nas nossas plantações florestais? A partir dessa indagação, poderão surgir diversas tentativas de respostas, cada uma com suas peculiaridades. Não pretendo avançar nesses detalhes, pois o tema tem sido a bola de vez em muitos encontros, eventos e fóruns, envolvendo pesquisadores e profissionais do setor.
No entanto, eu acrescentaria apenas um ponto à discussão. Podem até discordar, mas arrisco afirmar que, hoje, são colhidos os frutos de uma certa acomodação dos players da cadeia produtiva, considerando as universidades, centros de pesquisa, empresas, fornecedores de insumos e serviços etc. Essa acomodação corresponde, praticamente, a um ciclo completo de rotação média dos plantios florestais. Colhe-se, hoje, seus frutos. Mas no que consistiu essa acomodação?
A acomodação pode ser identificada a partir do momento em que houve uma redução do pensamento crítico sobre o saber brasileiro de fazer florestas. Com raras exceções, houve uma simplificação muito grande no modelo plantar-e-colher, mediante a repetição dos mesmos princípios tecnológicos dos ciclos anteriores. Novas práticas, novos materiais, novos insumos, novas formas de pensamento, novas formações profissionais etc. foram colocados num certo estágio de banho-maria.
O modelo foi, sim, efetivo em seus resultados, considerando as condições existentes à época do primeiro boom da silvicultura no nosso país. No entanto, entende-se que, para as condições atuais, há uma série de novos fatores a influenciar a nova geração de plantios. Várias narrativas aqui também poderiam surgir em relação à identificação desses fatores. Na ponta da língua, estariam as mudanças climáticas, as pragas e doenças, os solos degradados, a carência de recursos humanos qualificados, as pressões antrópicas, o monitoramento e a manutenção etc. Na verdade, tais aspectos são apenas a ponta do iceberg. Certamente, há espaço para se discutir muitos outros aspectos relevantes, que renderiam um outro extenso artigo.
De qualquer forma, há uma percepção de que se faz necessário aperfeiçoar o modelo, para que se possa alavancar um novo salto tecnológico para o jeitão brasileiro de se cultivar árvores. A resposta está no colo dos cientistas, dos responsáveis pela formação dos profissionais que atuarão no setor e dos investidores, que dependem da madeira como matéria-prima para abastecimento de suas indústrias.
No entanto, não se pode esperar por milagres repentinos. Há que se ter em mente que a silvicultura lida, diretamente, com recursos inerentes à natureza e que os ciclos de respostas das florestas são longevos. Portanto, se há pressa, apressadamente devem ser tomadas as decisões em torno do que, do quando e do como conduzir as ações e os suportes que irão trazer as respostas.
A corrida espacial do século passado fez com que o homem pisasse na Lua. Recursos altamente expressivos foram aplicados em pesquisa, desenvolvimento e inovação aeroespacial. Com o passar do tempo, o interesse pela Lua se reduziu. Parecia que tudo estava dominado e garantido como conquista.
Até mesmo justificada por questões de sobrevivência da raça humana, uma nova e intensa fase de desenvolvimento se apresenta no setor aeroespacial. Não somente o retorno à Lua, mas, também, a bem mais difícil conquista de Marte se tornou alvo.
Interessante observar que o setor de plantações florestais no Brasil se mostra com muitas semelhanças com o ocorrido no setor aeroespacial, até mesmo em termos de proximidades temporais. Um passado com fortes investimentos e desenvolvimentos, seguido por um período de certa acomodação, e um recente e expressivo retorno em cena, demonstrado pelos anúncios e efetivações multimilionárias de novos projetos e novas plantas industriais.
Fica apenas a pergunta se, na mesma proporção, estão visíveis os Bezos, Musk e Branson das Florestas que, com elevadas visões estratégicas estariam, literalmente, dispostos a queimar motores de starships, aportando os tão necessários recursos para a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e a inovação, peças-chave para responderem aos anseios por maior sustentabilidade e maior produtividade das nossas plantações.