O uso de Unmanned Aircraft Systems (UAS), também conhecidas popularmente como drones, consiste atualmente na melhor oportunidade de automação da coleta de dados de povoamentos florestais. O custo de planejamento florestal é formado pela necessidade de se realizar, em campo, atividades como instalação das parcelas de inventário florestal, cubagem rigorosa, classificação de sítio, planejamento de estradas, controle de estoque madeireiro de pátio industrial, monitoramento de colheita e vários outros processos intermediários.
No caso de florestas nativas, o planejamento ganha uma complexidade maior, em decorrência da diversidade de espécies e distintas tipologias florestais. Agora, imagine que toda a coleta de dados necessários para a gestão dos povoamentos florestais e o controle de estoque industrial fosse realizada de maneira automatizada. E, melhor, essas máquinas/robôs fazem o trabalho voando.
Esse cenário não saiu de roteiro de ficção científica, mas da rotina de várias instituições de pesquisa, universidades, empresas florestais e startups de geotecnologias. O bem mais importante na administração de um negócio é a informação de qualidade, abrangente e de baixo custo; isso permite que o gestor tome decisões assertivas, de maneira a minimizar os riscos do negócio.
Por meio das ortofotos de alta resolução espacial, geralmente de 3 ou 4 cm, obtidas a partir das imagens coletadas por drones, é possível realizar a contagem censitária da mortalidade de mudas de um talhão recentemente plantado. Essa prática é bastante conhecida no dia a dia do monitoramento na agricultura de precisão e, agora, passa a ser empregado na silvicultura.
Avançando no processamento dos dados das ortofotos, a etapa seguinte, a contagem de um povoamento recém-implantado ou já estabelecido, é a segmentação das copas das árvores, ou seja, delimitar automaticamente a área de projeção de copa. Os drones nos permitem estudar a floresta numa perspectiva aérea considerada nova para a engenharia florestal e, ainda, aplicar conceitos clássicos de morfometria de copa, propostos no século passado.
Assim, existe um enorme espaço para o aperfeiçoamento do planejamento florestal, onde os dados de copa se consolidarão nas principais variáveis de interesse do planejamento, em substituição ao diâmetro e à área basal, ou melhor, resgatando o conceito original de dominância florestal de cada árvore individualmente.
Essa nova fase do planejamento florestal, com uma visão aérea das copas, demandará novas equações de volume, classificação de sítio, afilamento e prognose da produção madeireira. Ainda há um longo caminho a ser percorrido, porém, agora, estamos voando. No trabalho de volumetria de toras, árvores individuais e parcelas permanentes, os drones e a fotogrametria digital têm muito a contribuir para a automação da atividade.
Atualmente, vários projetos de pesquisa estão em desenvolvimento, e a expectativa é a coleta automatizada dos dados biométricos (diâmetro em distintas alturas, altura comercial, área basal e volume), a partir da fusão de projetos fotogramétricos de solo e de imagens aéreas. E, assim, reconstituir em uma nuvem de pontos de alta densidade das parcelas amostrais (Figura 1). Ao longo do desenvolvimento do povoamento florestal, novas camadas de nuvem de pontos poderão ser sobrepostas e indicar o crescimento do povoamento monitorado, tudo isso num ambiente computacional em 3D.
No controle da volumetria de toras em pátio, tanto na floresta, como na indústria, isso já é uma realidade. A Embrapa Acre publicou, em 2017, o detalhamento do procedimento da obtenção da volumetria de toras com drones e realiza treinamento de profissionais em diversos estados. Essa metodologia já é empregada pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB) no monitoramento do volume estocado em pátio, nas áreas de concessão das florestas nacionais.
Em florestas nativas na Amazônia, o desafio tecnológico para o inventário florestal com aeronaves não tripuladas é muito maior do que no ambiente de um povoamento plantado. Recentemente, a Embrapa publicou o primeiro calendário de inventário florestal com drones. Em cada mês que a floresta é sobrevoada com a intenção do mapeamento/geolocalização das espécies, se registra uma fenofase do povoamento. Dessa forma, em cada mês, uma determinada espécie apresenta uma peculiaridade de composição e de coloração da folhagem, possibilitando que a espécie de interesse seja inventariada ou não.
Respeitando o calendário de inventário, é possível delimitar com precisão centimétrica a copa das árvores, visando à extração das informações morfométricas (Figura 2). Daí a necessidade de estabelecer um calendário de inventário florestal com drones e que considere as muitas tipologias florestais. O esforço de pesquisa é enorme, mas, agora, estamos voando baixo.
Quando se compara o rendimento de trabalho de campo, referente ao inventário censitário das árvores comerciais na Amazônia, realizado de forma tradicional e com o uso de drones, temos uma diferença enorme. Uma equipe de inventário tradicional, utilizando técnicas de precisão, consegue inventariar cerca de 20 hectares/dia, enquanto uma equipe de inventário com drones consegue cobrir mais de 1.000 hectares em um único dia de trabalho e com uma jornada de 4 horas.
No entanto vários desafios tecnológicos e restrições normativas ainda precisam ser superados. No campo normativo, o Brasil avançou muito, e o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) é um grande parceiro e oferece mais segurança a todos os usuários do espaço aéreo brasileiro. A normativa sobre fotogrametria ainda pode avançar; espera-se que a nova legislação sobre inovação no País possa reposicionar a atividade, de maneira que os drones se transformem numa ferramenta de trabalho do silvicultor. No campo tecnológico, ainda temos que avançar na autonomia de voo das aeronaves, em equipamentos ajustados para o setor florestal, em computadores e softwares que melhor processem e gerenciem Big Data.
O caminho é longo, e o desafio é grande, mas como disse, agora, estamos voando.