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Francisco Bertolani

Diretor da Chabana Consultoria Florestal

Op-CP-19

Os desafios de ontem, de hoje e de amanhã

A silvicultura brasileira surgiu no início de 1900, porém só tomou importância e corpo quando, em 1966, a Lei 5.106 dos Incentivos Fiscais desencadeou um surto de reflorestamento visando ao aproveitamento de tais recursos. Com exceção dos governos estaduais, as empresas privadas ou estavam usando os recursos naturais de araucária, ou estavam plantando pinus e eucalyptus.

Essas empresas sabiam o que fazer e como fazer. Eram poucas, contavam-se nos dedos. As demais tinham a visão de utilizar o máximo de recursos e plantar onde pudessem gastar o mínimo possível. Preço de terra não era o fator limitante. Naquele tempo, as empresas florestais eram verticalizadas na sua grande maioria. Ou eram empresas de celulose de fibra curta ou longa - e mesmo as duas -, ou eram empresas de painéis, serrarias, laminadoras etc.

Surgiram, então, vários tipos de manejo em gêneros distintos. Nós, particularmente, trabalhamos em florestas de multiuso na Freudenberg. Outras que manejavam eram a Cia. Melhoramentos de São Paulo, Klabin e PCC. Fomos buscar o manejo na África do Sul, que seguia as escolas europeias, agregando valor à madeira através de podas e desbastes seletivos.

Outros colegas procuravam o fomento; outros, a maior capacidade produtiva florestal; outros, novas tecnologias. Isso tinha uma particularidade, todos se ajudavam, pois o desafio era o mesmo, e as florestas estavam concentradas no Sul e Sudeste brasileiros. A criação do IPEF foi o marco de um avanço e uma ferramenta que nós soubemos aproveitar no bom entendimento entre as lideranças florestais.

Essas lideranças eram tão fortes e tão unidas, que, se algum industrial quisesse visitar outra indústria, utilizava a influência e as boas relações dos florestais. Ganhos em volumes, em plantios de florestas, em maquinários de exploração, desenvolvimento de caminhões de transporte, ferramentas foram os iniciais. Veio a clonagem. As mudanças do cultivo mínimo, a proteção da floresta nativa, primeiro com fragmentos, depois dos corredores de proteção.

Estudos iniciais de fauna e flora foram desenvolvidos, criando a base da proteção florestal. O meio ambiente não era o problema naquela época, mas, diante dos erros e acertos, obrigou-nos a definir regras, discutir opiniões e esclarecer constatações, que estão sendo utilizadas hoje como regra. Estávamos escrevendo o manual do reflorestamento, da silvicultura brasileira.

Hoje o enfoque do reflorestamento tem uma terceira face. Antes, era a verticalização, depois os incentivos, com as vantagens e as desvantagens da massificação. Hoje, é a implantação da floresta como um investimento produtivo de futuro. Investidores veem a floresta como um ativo de médio e longo prazo, com garantia de retorno econômico.

Assim, com a mudança de enfoque da floresta, novos desafios estão incomodando os florestais de hoje e de amanhã. As florestas devem ser formadas em locais viáveis para um mercado interno e externo, já que a globalização florestal é uma realidade; os custos, compatíveis com uma rentabilidade, assim como as taxas de crescimento; a qualidade da madeira com atendimento da necessidade de mercado e o manejo florestal versátil para suprir as qualidades múltiplas na utilização da madeira.

O florestal de amanhã não pode desconsiderar que a condução clássica da floresta sofre uma influência direta com o avanço da tecnologia. As novas serrarias, as manufaturas, as máquinas modernas de fingerjoint, as serras múltiplas, as recobridoras, os novos adesivos, os scanners de leituras óticas têm trazido tecnologia para correção e incremento de aproveitamento da madeira, permitindo e aceitando madeiras com defeitos.

Os novos produtos de substituição devem ser considerados norteadores de seu manejo. Portanto, não perder o foco dessa tecnologia. O florestal de hoje e de amanhã terá muito mais responsabilidade ambiental; os manejos de florestas de talhadia simples, energéticos e de cortes precoces deverão ser revistos; e a luz da proteção do solo, da água, da flora e da fauna deverão sofrer adaptações e variações entre e dentro da floresta, com manejos mais inteligentes e mais conservadores.

Plantios mistos para nitrificação do solo (coníferas e folhosas) em áreas experimentais e em pequenas escalas deverão ser incentivados, não só pelas autoridades, mas pelos próprios florestais responsáveis. Um manejo de múltiplo uso dentro de áreas de corte raso constante já seria um bom começo. Nós já fazíamos isso há 40 anos, mesmo em florestas de Eucalyptus, para produção de madeira de valor agregado.