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Rodrigo Eiji Hakamada

Pesquisador Florestal da International Paper do Brasil

OP-CP-34

O manejo da brotação é altamente saudável

Colaboração: Cristiane Lemos, Adriano Almeida e Gabriela Moreira, pesquisadores na International Paper

Quando a rotação de uma floresta plantada está perto do final, se inicia a dúvida sobre qual seria o próximo sistema silvicultural (talhadia x alto fuste) mais adequado. A capacidade de brotação de algumas espécies florestais cultivadas em larga escala, como o eucalipto, a acácia e o álamo, as torna altamente viáveis para a chamada condução da brotação.

Esse manejo é extremamente importante em todos os aspectos da sustentabilidade: econômico, social e ambiental. Sob o ponto de vista econômico, o manejo da brotação se torna viável graças à redução do número de operações florestais em relação ao plantio de novas mudas.

No entanto só é sustentável quando tomados os devidos cuidados com as cepas remanescentes para que se tornem árvores sadias e produtivas. Assim como em um novo plantio, deve-se pensar em ações que garantam a máxima sobrevivência e uniformidade do povoamento. Trabalhos recentes em Eucalyptus têm demonstrado que cada 1% de perda de uniformidade pode resultar em até 6 m³ por hectare ao final de uma rotação de 7 anos.

O mesmo ocorre com a sobrevivência, em que cada indivíduo que não atinge o final da rotação deixa de compor a produção final do povoamento, e cada 1% de falha pode gerar até 1% de redução da produção na idade de corte. Para atingir altas sobrevivência e uniformidade, devemos pensar em cinco momentos distintos da brotação: planejamento, pré-colheita, colheita, estabelecimento da brotação e condução da brotação.

A primeira fase é quando são definidas quais áreas podem ser “conduzidas”. Devem-se evitar talhões com alto índice de falhas, heterogeneidade, ocorrência de doenças ou danos abióticos, como vento ou déficit hídrico. É nessa fase que são eliminadas as áreas com materiais genéticos não adaptados, pouco produtivos ou com características não mais desejadas.

A fase seguinte, que ocorre cerca de três meses antes da colheita, é quando se planejam as atividades de colheita na escala do talhão, a fim de se evitar ao máximo o tráfego de máquinas sobre as cepas e a determinação da altura de corte das cepas, sendo também de fundamental importância o combate a formigas.

A fase de colheita é quando se deve ter um único objetivo com o enfoque na brotação: evitar danos às cepas. As duas fases seguintes são mais triviais e parecidas com o manejo de novas mudas. Os resultados de um bom manejo silvicultural podem ser refletidos na produtividade madeireira. Após a crise de 2008, muitas empresas adotaram o manejo por condução como uma forma de reduzir os gastos com plantio de floresta.

Em muitas áreas, a produtividade é igual àquela onde foram plantadas novas mudas, sinalizando que o adequado planejamento, prescrições silviculturais e qualidade operacional podem definir a qualidade da brotação.

Outro aspecto econômico é a mudança das características do mercado de trabalho. Com a industrialização e o êxodo rural, apenas 4% da população do estado de São Paulo vive no campo, e, com o aumento de oportunidade de emprego nas cidades, o número de trabalhadores rurais vem caindo, necessitando que as empresas florestais e produtores se adaptem a esse novo cenário. A condução da floresta reduz o uso da mão de obra na produção de mudas e plantio, dois gargalos atuais para operacionalização.

Em relação à sustentabilidade ambiental, deve-se pensar em um aspecto mais amplo. Simulando apenas um hectare nesse sistema silvicultural, utilizaríamos cerca de 20% menos fertilizantes, 15.000 litros a menos de água e 50% a menos de combustíveis fósseis em relação a um novo plantio. 

O manejo da brotação também traz claros aspectos de sustentabilidade social, no amplo sentido do conceito. Um sistema silvicultural que utiliza menos insumos, por si só, reduz a emissão de gases de efeito estufa, interferindo diretamente na sociedade. Apesar de todos esses benefícios do manejo da brotação, ainda conhecemos pouco esse sistema silvicultural em relação aos aspectos fisiológicos de crescimento e sua relação com o sistema solo-clima-árvore. Seria maior o consumo de água da brotação pelo seu sistema radicular já estabelecido?

Qual a real necessidade de fertilização, considerando a enorme variabilidade climática e edáfica do País? O que sabemos sobre a 3ª e a 4ª rotação, sistemas altamente utilizados por pequenos produtores? Sem contar que todos os requisitos exigidos no planejamento de condução ainda precisam ser atendidos. São perguntas que precisamos responder para que possamos tornar ainda mais saudável e sustentável o manejo da brotação.