Certamente, muitas espécies de formigas cortadeiras de folhas dos gêneros Atta (saúvas) e Acromyrmex (quenquéns) são consideradas pragas e estão distribuídas desde a região sul dos Estados Unidos da América até a Argentina, com ocorrência do maior número de espécies na América do Sul e, especialmente, no Brasil.
O fato curioso é que essas formigas, que surgiram entre 10 e 15 milhões de anos, cultivam fungo para se alimentarem e, para tanto, necessitam suprir essa cultura de fungo com partes de vegetais que são cortados por elas. Cortam entre 29% a 77% das plantas em ecossistemas naturais e somam a esses números as plantas exóticas cultivadas na agricultura, na silvicultura e na pecuária.
Daí a importância dessas formigas, pois desfolham as plantas, podendo levá-las à morte com desfolhas sucessivas. As injúrias provocadas às plantas são registradas desde 1560, no Brasil, havendo, desde sempre, a preocupação em controlar as formigas cortadeiras de folhas.
As perdas econômicas nas culturas do Eucaliptus e Pinus são da ordem de 14%, porém, quando as plantas são jovens, as desfolhas consecutivas podem matá-las. A produção de madeira pode ser reduzida em mais de 50% se a densidade de colônias for maior que 80/ha. Na pecuária, as formigas podem reduzir até 10% o número de cabeças de gado.
Em cana-de-açúcar, estimam-se perdas que chegam a 3,2 toneladas de cana por colônia. A complexa vida colonial, com centenas de milhares de indivíduos vivendo em grandes ninhos, a interação formiga-planta-fungo simbionte, a existência de complexa biota (bactérias, leveduras e microfungos filamentosos) e sofisticadas estratégias de higiene colonial dificultam e limitam os métodos de controle.
Vários métodos de controle como candidatos alternativos ao controle químico foram propostos, como controle biológico, uso de extratos de plantas inseticidas ou fungicidas, métodos mecânicos e métodos culturais, porém ainda estão na fase de desenvolvimento da pesquisa e não estão disponíveis para uso, ou seja, não possuem tecnologia disponível no mercado.
A revisão da literatura permite dizer que os resultados desses métodos não são satisfatórios, são inconsistentes e não permitem qualquer indicação de viabilidade técnica, econômica e operacional. O único método com viabilidade técnica, econômica e operacional é o método químico, com uso de iscas tóxicas para os gêneros Atta e Acromyrmex.
As iscas tóxicas começaram a ser utilizadas em larga escala, no Brasil, no início da década de 1960. A isca tóxica eficiente para controle deve possuir ingrediente ativo que se caracteriza por ter ação retardada, tanto em altas como em baixas concentrações; esse ingrediente ativo não deve ser repelente, deve ser inodoro e paralisar as atividades de corte de folhas logo nos primeiros dias após a aplicação.
Dentre os ingredientes ativos registrados no Brasil, a sulfluramida é o único inseticida que apresenta todas as características necessárias para o bom funcionamento de uma isca tóxica, o que a coloca como a única opção eficiente para o controle de formigas cortadeiras.
Esse inseticida, por apresentar, particularmente, ação retardada em ampla faixa de concentrações, coloca como única opção, tanto para o controle das saúvas e quenquéns que cortam plantas dicotiledôneas, como as que cortam gramíneas. Somente dois ingredientes ativos, o dodecacloro e a sulfluramida, apresentam eficiência comprovada para todas as espécies de formigas cortadeiras, porém o primeiro não é mais utilizado, e a sulfluramida é o único ingrediente ativo registrado e em uso no Brasil atualmente.
É difícil e demorado encontrar ingredientes ativos com as características do dodecacloro e da sulfluramida, e isso demanda muitos anos de pesquisa. Mais de uma centena de ingredientes ativos foram experimentados nos nossos laboratórios, nos últimos 40 anos, e a única surpresa gratificante foi o desenvolvimento da sulfluramida, testada a partir do ano de 1989, substituindo o dodecacloro em 1992, e que continua sendo utilizada até o presente momento.
É necessário lembrar que a busca de novos ingredientes ativos não é feita ao acaso, pois obedece a critérios específicos, e somente são testados ingredientes ativos candidatos, aqueles que são inodoros, não repelentes, que não apresentam ação de choque e que tenham ação predominantemente por ingestão.
Porém o que buscamos encontrar nos ingredientes ativos candidatos é a ação retardada em ampla faixa de concentrações. Essa é uma tarefa muito difícil, porque a indústria química desenvolve inseticidas que matam os alvos muito rapidamente. O modo de ação bioquímico nem sempre é o indicativo de que o ingrediente ativo possa ter ação retardada.
Por exemplo, inseticidas que apresentam o mesmo modo de ação bioquímico que a sulfluramida, quando testados, não tiveram o mesmo sucesso dela. Assim sendo, a manutenção da sulfluramida é de fundamental importância, e, caso a sua produção seja descontinuada, corremos o risco de um perigoso retrocesso no controle de formigas cortadeiras, com o aumento da população da praga e, consequentemente, um grande prejuízo no agronegócio brasileiro.
Existem outras duas técnicas de controle químico utilizados no Brasil, como a termonebulização e os formicidas em pó, porém são técnicas complementares ao uso da isca formicida. Formulações pó seco (por exemplo, com o ingrediente ativo deltametrina) são recomendadas em situações muito específicas, com uso restrito a algumas regiões do Brasil.
Essas formulações são aplicadas com polvilhadeiras manuais de baixo rendimento e, consequentemente, são usadas para controle de algumas espécies de quenquéns e para colônias iniciais de saúvas. Vamos recordar que os ninhos maduros (grandes) de saúvas podem ter até 7 milhões de indivíduos, 8.000 câmaras e profundidade de até 8 metros.
O uso de formulações pó seco tem muitas outras limitações, como o entupimento dos túneis do ninho; o inseticida não atinge grande parte das câmaras de fungo, e, além disso, há necessidade de remover a terra solta, antes da aplicação do produto, o que torna a técnica operacionalmente impraticável e ainda com riscos de contaminação do ambiente e do operador.
A termonebulização também é utilizada em situações muito específicas; como método complementar ao uso das iscas tóxicas, ela apresenta custo de aplicação bem maior que o das iscas e pode ser utilizada em ninhos grandes de saúvas e é inviável para controlar ninhos de quenquéns.
Esse método tem desvantagens econômicas e operacionais, com problemas graves, como uso de inseticidas formulados em alta concentração (como o fenitrotion e a permetrina), grave risco de exposição dos trabalhadores aos inseticidas, contaminação do solo e a necessidade de equipamento de alto custo para a aplicação.
Aliás, o uso da termonebulização em florestas plantadas pode provocar incêndios, devido ao uso de alguns equipamentos que podem gerar faíscas ao ligar, ou produzir labaredas de fogo no desligamento do equipamento. Diante das limitações impostas por essas formulações (pós seco e termonebulização), fica claro que elas não podem ser recomendadas como principal e nem como o único método de controle de formigas cortadeiras e, muito menos, podem ser considerados métodos ou técnicas substitutas ao uso de iscas tóxicas.
Como podemos constatar, somente o controle químico é viável, disponível no mercado, tendo as iscas tóxicas à base de sulfluramida e resultados com altos níveis de eficácia. Portanto a ideia disseminada, do controle de formigas cortadeiras dentro da abordagem do Manejo Integrado de Pragas (MIP) não é possível ser feita nos dias atuais, pois não existe nenhum outro método eficaz e disponível no mercado além do controle químico.
Para que um programa de Manejo Integrado de Pragas seja implementado, há necessidade de que estejam disponíveis no mercado dois ou mais métodos eficientes de controle para serem utilizados concomitantemente e integrando-os, de modo que possam ser economica e ecologicamente justificado, reduzindo ou minimizando os riscos à saúde humana e ao ambiente.