Até o final da década de 1970, eram raros os surtos de pragas que afetavam os plantios florestais no Brasil, a não ser os ataques de formigas cortadeiras que exigiam um controle químico sistemático. No início da década de 1980, ocorreram surtos importantes de lepidópteros desfolhadores de eucalipto, principalmente de Thyrinteina arnobia a lagarta parda, em Minas Gerais e São Paulo.
Os plantios de Pinus spp que, desde o início dos incentivos fiscais, passaram praticamente incólumes ao ataque de pragas (à exceção de pequenos surtos de lagartas de lepidópteros em pequenas áreas de Pínus patula em Camanducaia/MG e em Telêmaco Borba/PR), registraram um dos maiores surtos de praga florestal a partir de 1988, com a introdução da vespa-da-madeira, acabando com o sossego do setor.
Com o aumento da movimentação de mercadorias no comércio internacional a partir da assinatura do acordo de livre comércio da Organização Mundial do Comércio (OMC), o registro de introdução de novas pragas florestais também aumentou de forma sistemática, causando impactos negativos na produtividade florestal. Os produtores florestais que até então, antes do registro dessas pragas, não contemplavam em seus planos de manejo o componente “Pragas”, passaram a considerar o programa de Manejo Integrado de Pragas (MIP) em seus planos de Manejo Florestal, uma vez que entenderam o risco a que o patrimônio florestal estaria sujeito.
O MIP contempla medidas de prevenção que são fundamentais para mitigar ou mesmo eliminar o risco de surtos dessas pragas, bem como métodos de monitoramento para detecção precoce das mesmas, permitindo que planos de contingência previamente identificados para o controle possam ser imediatamente acionados para evitar perdas maiores devido ao ataque de pragas.
O Manejo Integrado de Pragas consiste na seleção, integração e execução de métodos de monitoramento e controle de pragas, baseado em princípios ecológicos, econômicos e sociológicos. O MIP deve compor a planilha de custos das plantações florestais, principalmente as atividades de Monitoramento e Controle, visto que as medidas de prevenção como a escolha de materiais genéticos adequados, as condições edafoclimáticas, as boas práticas de manejo e conservação de solos, uso de técnicas adequadas de plantio e de tratos silviculturais já compõem o plano de manejo.
Em alguns casos, pode-se afirmar que a presença de uma praga é uma indicação de que existem sérios problemas silviculturais na área atacada, como plantas sob estresse por fatores bióticos ou abióticos, que inclusive propiciam condições para o aparecimento de uma praga oportunista.
Devem ser avaliados os vários fatores que favorecem o aparecimento de uma praga, como uso de materiais de propagação de baixa qualidade, plantios localizados em áreas com solos rasos, compactados, homogeneidade no plantio (clones, diversidade na composição de idades diante da abundância de material adequado para a reprodução de uma praga, o manejo florestal inadequado como poda e desbastes realizados em épocas de atividade da praga). Dessa forma, é necessário avaliar, durante o planejamento do manejo florestal, todos os fatores bióticos e abióticos que possam favorecer o ataque de pragas.
O estado ótimo de uma floresta plantada está relacionado diretamente ao estado fitossanitário do empreendimento. A ocorrência de pragas está entre os indicadores mais importantes da estabilidade ecológica do plantio, no qual os componentes desse ecossistema (árvores, sub-bosque, animais, clima, solos e demais fatores), devem estar interagindo harmoniosamente para criarem mecanismos de resistência a possíveis alterações no equilíbrio do meio.
A Resistência do Meio é um conjunto de fatores físicos, nutricionais, fisiológicos dos vegetais e biológicos de determinado ambiente que contribuem para diminuir a população de uma praga. Os fatores nutricionais e fisiológicos dos vegetais referem-se à variabilidade na composição do ecossistema, sendo que quanto maior a variabilidade, menor será a susceptibilidade ao ataque de pragas, sendo o inverso também verdadeiro. Os fatores biológicos referem-se à competição intra e interespecífica da praga por alimento/espaço/abrigo, com o parasitismo e com a predação.
Um programa de MIP em florestas requer um exame profundo das táticas de monitoramento e controle para determinar estratégias mais adequadas a cada região, analisando-se soluções de curto, médio e longo prazo. Deve ser flexível e dinâmico, utilizando táticas mais promissoras e adicionando novas tecnologias geradas pela pesquisa científica. Face à maior estabilidade de um plantio florestal em relação aos cultivos agrícolas, deve-se priorizar os métodos de controle biológico, silvicultural e de resistência de plantas.
O controle químico deve ser uma das últimas alternativas, devendo-se restringir ainda a formigas cortadeiras, viveiros e em áreas de maior valor agregado, como área e pomar de produção de sementes e em pomar clonal. O uso de controle químico é praticamente inviável a longo prazo, tanto em função de custos, como a possíveis desequilíbrios que possam causar ao ecossistema. Deve-se analisar: Qual é o princípio ativo? Quando aplicar? Como aplicar? Onde aplicar?
A produtividade de um empreendimento é a relação entre a produção e os recursos e meios utilizados para atingi-la, enquanto a produção é a quantidade de bens produzidos. De modo geral, a produtividade é o melhor indicador para medir a eficácia e eficiência do empreendimento. Na agricultura, ela é definida como a quantidade produzida por unidade de área.
No caso de florestas, é medida em tonelada/ha, m³/ha, estéreo/ha. Porém, em termos financeiros, essa produtividade deve levar em conta o total produzido por área, descontados os custos de produção (mão de obra, máquinas e implementos, insumos, custo da terra, entre outros).
Em uma visão simplista, somente a presença potencial de uma praga em uma plantação florestal, sem que ela tenha atingido o Nível Econômico de Prejuízo (NEP), já afeta a produtividade do empreendimento, porque as ações de monitoramento para sua detecção e avaliação da densidade populacional impactam os custos de produção e, consequentemente, a produtividade. É óbvio que surtos de pragas em florestas têm um impacto na produtividade muito elevado, principalmente porque as plantações florestais ocupam áreas grandes e contínuas.
Isso facilita a propagação de pragas e consequentemente surtos que chegam a causar perdas de até 60% das árvores, como tivemos oportunidade de constatar em áreas de Pinus atacadas pela vespa-da-madeira e do serrador da acácia negra; ou perdas no incremento médio anual, em áreas atacadas por pulgões gigantes-do-pinus, ou por coleópteros e lepidópteros desfolhadores, além de psilídeos-de-concha e percevejo-bronzeado, em eucalipto.
Felizmente, na atualidade, essas áreas estão em equilíbrio face à responsabilidade que o setor florestal teve em adotar programas de MIP, que permitem uma convivência com a praga, sem impacto financeiro significativo.