Nas últimas décadas, a agroindústria florestal avançou significativamente em técnicas e mecanização de colheita e no melhoramento do processamento da madeira para o beneficiamento da indústria. Avançamos em otimização e alternativas de químicos, adaptação de equipamentos e máquinas, eficiência do processo como um todo, conquistando posições de destaque e excelência mundial. Porém, a produção florestal que dá origem à nossa indústria não acompanhou esse desenvolvimento nos mesmos passos.
O investimento focado em volume e qualidade que acompanhassem a moderna indústria sofreu flutuações que eram ditadas pelos ciclos econômicos. A preocupação com a qualidade da floresta é uma constante, mas orquestrar um conjunto de ações direcionadas a, de fato, incrementar a qualidade e oferta da madeira, que é nossa principal matéria, não foi na verdade uma ação setorial.
Acredito que, nesses últimos anos, despertamos para essa realidade e iniciamos uma corrida contra o tempo que, felizmente, já apresenta resultados positivos que serão tratados mais à frente. Agora, além dos fatores internos do manejo e da oferta de madeira, se eu disser que o desenvolvimento sustentável dos territórios onde estamos instalados é primordial para a qualidade da produção florestal, quantos dos leitores irão concordar? Pois me proponho a apresentar alguns argumentos para uma reflexão cuidadosa e necessária:
1. Desenvolvimento sistêmico: quando o território avança, as questões sociais que antes originavam conflitos e crises que despendiam recursos, foco e aumentavam o risco do negócio, reduzem em intensidade e quantidade. Famílias prosperando e pessoas motivadas com trabalho reconhecido se tornam aliadas do desenvolvimento; inclusive criam ambiente para diversificação da economia e redução da dependência de um setor somente.
2. Proteção da floresta: as comunidades vizinhas às áreas de produção florestal buscam encontrar oportunidades de também fazer parte da cadeia produtiva e se beneficiarem dela. As florestas plantadas e as áreas de conservação oferecem usos múltiplos que podem e devem ser compartilhados de forma organizada com os habitantes desses territórios. Quando essas comunidades se beneficiam direta ou indiretamente da floresta, passam a auxiliar os produtores florestais na fiscalização e combate os incidentes indesejáveis, como incêndios, invasões, corte e uso ilegal, entre outros. É preciso construir uma relação próxima que permita edificação de pontes de convergência e não de convencimentos.
3. Conservação da biodiversidade: comunidade beneficiada, engajada e que compreende os benefícios ambientais da floresta, torna-se protetora da biodiversidade local valorizando os serviços ecossistêmicos dos quais faz parte. É um processo cultural, obviamente não imediato, mas que, ao alcançar maturidade relacional, apresenta resultados esperados.
4. Incremento da produção florestal: quando a agroindústria oferece entrada à participação da produção florestal local em sua cadeia de suprimento, um incremento necessário na produção de madeira autônoma ou com coparticipação da empresa começa a se fortalecer. A chance de prosperar é proporcional à possibilidade de segurança contratual e ganho efetivo do produtor, o qual deve caminhar concomitante com a segurança jurídica e benefícios à empresa.
5. Foco e dedicação: com o desenvolvimento das relações com as comunidades vizinhas, o que, leva tempo, investimento e esforço, e com o perceptível desenvolvimento socioeconômico do território, é perceptível a redução do tensionamento do tecido social local que, muitas vezes, retira a concentração e o foco na produção florestal. Esse relacionamento com comunidades locais é um processo contínuo com nuances diferentes de esforços e resultados na curva do tempo. Assim como a produção florestal, o engajamento, se bem plantado, cultivado e manejado, colhe resultados muito positivos e o processo como sabemos não acaba na colheita, mas com o caminhar dos ciclos se torna mais prático.
A abordagem do desenvolvimento dos territórios onde as florestas coabitam não é algo inovador, é inclusive exigência de alta complexidade e materialidade das próprias certificações. O que está diferente talvez seja o modo como é percebida agora, passando em muitos casos de uma obrigação para uma necessidade vantajosa.
Aliada ao desenvolvimento socioeconômico do território, a produção florestal per si, atualmente, está utilizando novos conceitos que já despontam como marcadores positivos de tempo, com resultados expressivos. Entretanto, saliento que não podemos perder o foco no incremento da área e volume de produção florestal.
A oferta de madeira está crescendo compativelmente aos negócios que estão surgindo? Não menos importante, mas há um crescimento neutro quando a área incrementada já nasce com seu uso comprometido com algum negócio. Falo do crescimento não comprometido integralmente, da reconquista da produção florestal sob cuidados de pequenos e médios produtores, e dos grandes que estagnaram em área por alguma razão que não faz sentido aqui adentrar.
Provoco a reflexão se estamos com olhos brilhando para expandir os plantios, qualidade de mudas, a qualidade e volume da produção florestal, na mesma medida em que estamos voando baixo para buscar novos negócios, contratos e usos para nossos produtos e subprodutos.
Esses somente irão prosperar se naturalmente investirmos em produzir madeira. Acredito fortemente que essa deve ser uma indagação constante da liderança construtiva do setor.
Considerando que concordamos com o urgente e necessário incremento do volume de madeira de floresta plantada disponível, embora não seja minha especialidade, mas compartilho alguns novos conceitos que já percebo que estão fazendo diferença positiva para quem os pratica:
1. Silvicultura de precisão e de reduzido impacto;
2. Em tempo de escassez hídrica, não concorrência com uso da água para abastecimento humano - plantio com chuvas;
3. Implantação florestal em áreas degradadas e sem conversão de uso originário - restauração florestal; inclusive com materialidade do conceito de adicionalidade para fins de créditos de carbono;
4. Manejo integrado de paisagem e biomimética;
5. Uso sustentável da biomassa para geração de energia alternativa;
6. Sensoriamento remoto para controle da produção, proteção e eficiência de operação;
7. Biofertilizantes e controle biológico de pragas;
8. Uso sistêmico de previsões e modelagens meteorológicas para prevenção, mitigação e adaptação aos riscos climáticos;
9. Inovação tecnológica (Agtech) - Inteligência Artificial, automação, análise dinâmica de dados múltiplos, internet das coisas (IOT);
10. Integração e parceria setorial: unidos somos mais fortes e chegamos rápido onde pretendemos.
O caminho é longo, repleto de desafios diários e muitas surpresas, mas, quando os resultados aparecem, fazem os obstáculos parecerem pequenos diante da enorme capacidade do setor agroindustrial de florestas plantadas ser a principal resultante da economia verde no Brasil. Somos materiais em práticas ESG. Na visão mais simplista, no mínimo limpamos grande parte do ar que respiramos, e isso é para poucos.
Nenhum desafio foi suficiente para desestimular essa gigante e pulsante agroindústria que resiste às mais fortes crises globais e que possui perspectivas cada vez mais motivadoras. Estamos construindo um novo mundo, com uma matéria-prima que acompanhou todas as civilizações que por nosso planeta passaram e que a cada dia nos surpreende com uma nova possibilidade, um novo uso para uma sociedade que clama por soluções limpas, renováveis, resistentes e que agreguem valor à nossa existência. Juntos, unidos por convergências de interesses, seja por meio das entidades que participamos, seja nos fóruns que impulsionamos, já não somos mais os produtores florestais de ontem.
Cultivamos, inovamos, comunicamos, produzimos e conservamos os territórios onde estamos contribuindo para o desenvolvimento. Somos, e a cada dia estamos melhores, ao nos apropriarmos de uma nova imagem e novo posicionamento que estão surgindo.