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Sergio Anibal Martini

Presidente da Ekomposit

OpCP45

Madeira engenheirada
Se uma casa de alvenaria pega fogo, os jornais reportam o fato como “fatalidade”. Mas se o incêndio ocorre numa edificação de madeira, a manchete é: “Casa de madeira pegou fogo!”. Desinformação é a lenha que mantém acesa a chama do senso comum, especialmente quando o assunto tem viés técnico. Madeira, muitas vezes contrariando o que se fala dela, é material construtivo ecológico, de alto desempenho estrutural e que, uma vez engenheirada, torna-se peça-chave para a construção industrializada. Aumenta a escala de produção no canteiro de obras e reduz custos.
 
Apesar de o Brasil ser um país de reconhecida vocação florestal, muitas vezes, na visão local, as construções em madeira ainda são associadas ao improviso, a uma arquitetura pobre. Nada mais enganoso. A boa notícia é que esse quadro começa a mudar, e a mudança poderá ser surpreendentemente rápida. A moderna indústria brasileira dispõe de tecnologia e produz respostas de excelência no campo das madeiras engenheiradas e construções industrializadas.
 
O conceito de madeira engenheirada é relativamente novo no Brasil. A madeira ganhou novas propriedades e desempenho, a partir de tecnologias avançadas, desenvolvidas recentemente no País, em parcerias que envolvem empresas e centros de pesquisas. O material permite aplicações ousadas em projetos construtivos inovadores. Mas não é só. Associada a outros materiais – por exemplo, fibras sintéticas ultrarresistentes e leves –, forma compósitos e ganha novas possibilidades. É a textura natural e a originalidade, únicas da madeira, como material de engenharia de alto desempenho e adequado a variadas aplicações.
 
Madeira engenheirada resulta de tecnologias e de processos produtivos avançados, com uma criteriosa seleção da matéria-prima. O objetivo é eliminar imperfeições naturais, mas comercialmente indesejáveis, como deformações, rachaduras e a variabilidade de resistência mecânica. Podem ser produzidas peças em seções e comprimentos muito superiores aos da madeira serrada. 
 
A madeira de Pinus originária de florestas plantadas é opção vantajosa pelos aspectos de desempenho, disponibilidade e competitividade. Conta, hoje, com extensas áreas de cultivo e variedades de qualidade em diversas regiões do País. A serra catarinense, na região de Lages, é um dos bons exemplos de manejo sustentado em florestas de Pinus, contando geralmente com certificação FSC – Forest Stewardship Council.
 
Os principais segredos da qualidade da madeira engenheirada estão na matéria-prima selecionada. Ela deve ser 100% permeável a tratamentos químicos normalizados, visando à garantia de durabilidade do produto. Também precisa ser compatível com as resinas de colagem e de revestimento, com características estruturais e à prova d’água. Deve facilitar o emprego de modernos maquinários industriais de alta produtividade na serragem, laminação e secagem rápida em estufas. Nesses quesitos, o gênero Pinus se adapta perfeitamente. 
 
Versatilidade – Madeira engenheirada é um produto inovador, capaz de revolucionar a construção civil brasileira. Hoje, países como Estados Unidos, França, Canadá, Itália e Espanha, entre outros, apresentam ao mundo projetos arquitetônicos de vários pavimentos construídos em madeira engenheirada, associada ou não a outros materiais. No caso brasileiro, é exemplar a experiência recente (agosto/2016) da montagem em tempo real, na região metropolitana de Curitiba, do primeiro prédio com três pavimentos e 12 apartamentos empregando tecnologia wood frame.
 
O material também deve alcançar com sucesso outros setores como os de móveis, automotivo, ferroviário, agropecuário e tantos outros onde a viabilidade técnica e econômica recomende sua aplicação. A experiência mostra que o mercado brasileiro busca por soluções que sejam, ao mesmo tempo, resistentes, duráveis, leves, econômicas, belas, agradáveis e, sobretudo, sustentáveis. Madeira engenheirada oferece as melhores respostas. 
 
Madeiras do gênero Pinus são amplamente conhecidas do meio acadêmico nacional. Hoje, é a matéria-prima mais estudada nos institutos de pesquisa nacionais altamente capacitados. É o caso, por exemplo, do Laboratório de Madeiras e Estruturas de Madeira da USP em São Carlos-SP (LaMEM). Os tratamentos executados em modernas plantas industriais conferem alta durabilidade à madeira contra a ação deterioradora causada por insetos xilófagos e fungos. Por conta disso, a expectativa de durabilidade de uma construção em madeira tratada não é menor do que a de uma similar em alvenaria.
 
Em razão das modernas tecnologias para tratar e processar madeira, existem, no Brasil, construtoras que empregam o sistema construtivo industrializado denominado wood frame alemão. Está presente em edificações como conjuntos habitacionais de alto padrão e edifícios de apartamentos com até três pavimentos, proporcionando acabamento impecável, segurança e rapidez inimaginável na comparação com uma construção convencional. 
 
Com a madeira engenheirada, o mercado brasileiro ganha um novo conceito. Inaugura-se uma nova era para comercialização da madeira como material de Engenharia, nos moldes das revendas norte-americanas, europeias, canadenses e australianas. Recebem e disponibilizam madeira com acabamento, pronta para uso e em grandes comprimentos fracionáveis, permitindo redução no capital de giro e menores áreas para estocagem. 
 
Mudando o jogo – A madeira engenheirada poderá, no médio prazo, inverter o jogo a favor da sustentabilidade. A matéria-prima natural e seus compósitos são alternativas às madeiras nativas, originárias da Amazônia. Contribuem, assim, para desacelerar o aquecimento do planeta e para a conservar uma das maiores reservas globais de bioma.
 
Setores da indústria como o automotivo, o moveleiro e o da construção civil terão na madeira engenheirada e seus compósitos um forte aliado. Literalmente. Fabricantes de implementos rodoviários de cargas poderão contar com as vantagens comparativas do novo material. Carretas poderão ter assoalhos cerca de 700 a 1.000 quilos mais leves do que os atuais em chapas de aço, com a mesma capacidade para suportar cargas.
 
Por outro lado, madeira engenheirada também facilita a elaboração de projetos arquitetônicos e sua aplicação pelos profissionais de carpintaria Além da leveza e da resistência, a textura natural da madeira do novo material também atenderá às demandas de profissionais de paisagismo, decoração, mobiliário e adeptos da bricolagem.
 
Seus usos e aplicações nas obras civis são normalizados em todo o País pela NBR 7.190 (estruturas) e pela NBR 16.143, (classes de risco). Construções nacionais de médio e alto padrão consomem, todos os anos, cerca de três milhões de metros cúbicos de madeira estrutural. Há espaço para que a madeira engenheirada e compósitos ocupem, inicialmente, uma fatia desse volume.
 
Para conquistar esse mercado diferenciado na construção civil brasileira, faz-se necessário adotar estratégias diferenciadas. As revendas devem ter um showroom especializado em áreas centrais de comércio nas cidades grandes e médias. Devem oferecer um espaço adequado para consultoria, especificação e aquisição do produto entregue posteriormente, embalado e protegido das condições agressivas nos canteiros de obras. Vigas e complementos não estarão sujeitos a respingos de materiais e marcas de pegadas, entre outros riscos comuns, da instalação à conclusão da obra.