Florestas plantadas representam uma das culturas com melhor estabilidade ambiental no Brasil. Isso se deve ao fato de esse setor obedecer às leis de preservação da vegetação nativa em escala maior que muitos outros tipos de plantios. Áreas de Reserva Legal próximas a mananciais de água são preservadas de acordo com a legislação ambiental brasileira. Além disso, são interligadas por corredores de vegetação nativa que facilitam a movimentação da fauna.
Esses corredores têm um maior número de plantas com flores nas suas bordas contribuindo para o aumento de populações de inimigos naturais e a redução de lagartas desfolhadoras e de ninhos de formigas-cortadeiras.
A preservação de áreas nativas, muitas vezes acima de 30% em relação àquela com plantio, intercaladas aos plantios florestais, permite a manutenção de uma fauna diversificada, incluindo inimigos naturais de pragas. Dessa forma, lagartas desfolhadoras, mesmo com surtos esporádicos, não têm periodicidade como em plantas agrícolas. Lagartas desfolhadoras em cultivos florestais são de diferentes famílias, como Eupseudosoma aberrans e Eupseudosoma involuta (Lepidoptera: Arctiidae), Euselasia eucerus (Lepidoptera: Riodinidae), Psorocampa denticulata (Lepidoptera: Notodontidae), Sarsina violascens (Lepidoptera: Lymantriidae) e Thyrinteina arnobia (Lepidoptera: Geometridae).
Essas espécies são nativas e relatadas em plantas brasileiras. Várias espécies desses Lepidoptera podem ser encontradas em um mesmo surto, mas o predomínio de uma delas representa o padrão mais comum. A maioria dos surtos de lagartas desfolhadoras tem sido registrada no período mais seco do ano, embora algumas, como Psorocampa denticulata, ocorram em épocas chuvosas devido ao fato de permanecer no solo, como pré-pupa, e seus adultos precisarem de umidade para a emergência.
Os primeiros surtos de lagartas desfolhadoras em plantios de eucalipto datam de 1949, quando lagartas de Sarsina violascens (Lepidoptera: Lymantriidae) desfolharam plantas de eucalipto. A partir desse ano, foram sendo relatados, em pequena escala, até esse problema atingir níveis insustentáveis, no início da década de 1980, quando desfolhas de eucalipto por lagartas foram relatados em mais de 400.000 hectares no cerrado de Minas Gerais.
Thyrinteina arnobia (Lepidoptera: Geometridae) foi a principal praga nessa infestação e, mesmo hoje, é a espécie mais frequente desfolhando plantas de eucalipto. A área com danos por lagartas desfolhadoras atingiu um tamanho sem precedentes e um dos principais fatores que contribuíram para esse problema foram plantas mal adaptadas para a região. A falta de produtos para controlar um problema dessa magnitude levou a pesquisas com produtos químicos e biológicos aplicados com equipamentos terrestres e aéreos (aviões e helicópteros) para o controle de lagartas desfolhadoras de eucalipto.
Isso permitiu a redução desses problemas a níveis muito baixos, mas a indústria florestal brasileira se conscientizou dos riscos de uma dependência nesses métodos de controle de pragas, levando ao aumento com pesquisas, e o desenvolvimento de estratégias visando à prevenção, ao invés de, apenas, controlá-los quando ocorressem. Além disso, pode-se observar que as desfolhas eram maiores em plantas de eucalipto com menor crescimento, isto é, aquelas com deficiência de adubação ou mal adaptadas aos locais. Outras observações têm mostrado menores infestações de lagartas em plantas de Eucalyptus grandis e de seus clones. Clones baseados em Eucalyptus urophylla têm maior produtividade, mas podem ser mais suscetíveis a lagartas desfolhadoras.
O manejo integrado de lagartas desfolhadoras visa à redução de problemas com esses insetos, sendo baseado em amostragens populacionais e no uso de métodos de controle com menor impacto ambiental, como o silvicultural e o biológico. Armadilhas luminosas são utilizadas para a captura de adultos de espécies desfolhadoras e, de acordo com seus números e a biologia de cada uma delas, podem-se tomar medidas mais eficientes e com menores custos e impactos ambientais. Além disso, a contagem de lagartas em galhos de eucalipto é utilizada para se avaliar a possibilidade de danos por esses insetos.
Métodos silviculturais se baseiam em observações e pesquisas mostrando que lagartas desfolhadoras de eucalipto preferem se alimentar de folhas da parte inferior da copa de plantas com 2 a 3 anos. A remoção de 30% da copa do eucalipto, a partir da parte inferior da planta, reduz a oferta de alimento e, consequentemente, populações e danos por lagartas desfolhadoras. Além disso, o manejo do sub-bosque é importante para a manutenção de inimigos naturais desses insetos e pode explicar, pelo menos em parte, a menor incidência de problemas com desfolhadores em plantas mais velhas de eucalipto.
A hipótese, com alguns estudos comprovando isso, é que, nessa idade, os plantios florestais têm maior densidade de plantas no sub-bosque com melhores condições de alimento e sobrevivência de inimigos naturais. O controle biológico aumentou em importância quando foi observado um número muito grande de insetos parasitoides e predadores, além de doenças controlando lagartas desfolhadoras.
Com isso, o uso de inseticidas químicos, para o controle desses insetos, foi reduzido a níveis muito baixos e passou-se a priorizar e a usar a bactéria Bacillus thuringiensis e a se produzirem predadores como Podisus nigrispinus (Heteroptera: Pentatomidae) e parasitoides como Palmistichus elaeisis (Hymenoptera: Eulophidae), os quais são liberados em plantios de eucalipto. Podisus nigrispinus é o predador mais comumente relatado em plantios, mas esse inimigo natural, na maioria do casos, atinge altos níveis populacionais quando os danos por lagartas já são elevados.
Esses inimigos naturais são produzidos pela própria empresa que os utiliza ou por outras que os comercializam. A liberação de inimigos naturais é feita, principalmente, em áreas onde a contagem do número de lagartas por galho de eucalipto ou de indivíduos adultos em armadilhas luminosas indiquem possibilidades de surtos de lagartas.
O manejo integrado de lagartas desfolhadoras em plantios florestais deve incluir a manutenção da diversidade ambiental com preservação de, pelo menos, 20% da área com vegetação nativa, o monitoramento de pragas, a implantação de corredores de vegetação nativa, a remoção de 20% da copa das plantas de eucalipto com idade de 1,0 a 2,5 anos, a partir de sua parte inferior, dependendo do crescimento das mesmas, e a liberação de parasitoides e predadores e, em casos de extrema necessidade, o uso de inseticidas biológicos à base de Bacillus thuringiensis.
O alto investimento das empresas florestais no manejo integrado permitiu o desenvolvimento de um pacote tecnológico com redução das áreas infestadas e dos danos por lagartas desfolhadoras.