Presidente da SBS - Sociedade Brasileira de Silvicultura
Op-CP-05
O fenômeno da globalização tem se acentuado nos últimos anos, com deslocamento dos fatores de produção e de prestação de serviços para regiões que, por diferentes razões, apresentam maiores vantagens competitivas. As facilidades de comunicação e transporte, o grande avanço da tecnologia da informação, a disponibilidade de novas tecnologias e a mobilidade de capitais à busca de investimentos mais seguros e rentáveis são os vários motores da globalização.
Empresas transnacionais abastecem-se de bens e serviços em diferentes partes do globo para atingir seus objetivos corporativos com maior eficiência e custos mais baixos. Apesar da resistência de alguns países e blocos regionais, que procuram proteger seus empregos e mercados, a experiência mostra que essa tendência tende a aumentar.
No caso das atividades florestais, esse processo apresenta uma outra dimensão, que é a possibilidade de relocação da própria floresta em regiões que apresentem melhores condições para o desenvolvimento das árvores e menores custos da terra e de mão de obra. Os recentes avanços da biotecnologia e do manejo intensivo de plantações possibilitaram uma significativa ampliação das áreas consideradas aptas para plantios florestais e um aumento marcante da produtividade.
Plantações x Florestas Nativas: Até a primeira metade do século passado, praticamente toda a produção florestal estava baseada na exploração de povoamentos nativos, manejados com maior ou menor intensidade em regime de rendimento sustentado, ou simplesmente sem nenhuma preocupação com a perenidade do recurso.
O manejo florestal iniciou-se com pequenas áreas na China, por volta do ano 100 AC, mas apenas na Idade Média é que veio a ser aplicado a áreas maiores. Plantios florestais significativos foram feitos a partir do século XIX na Europa, com os primeiros experimentos de manejo de coníferas na região central da Alemanha, no final daquele século.
No continente americano, as plantações florestais só tiveram início, efetivamente, a partir de meados do século passado, principalmente nos Estados Unidos. Datam também dessa época os primeiros plantios em escala de pinus no Brasil, por iniciativa do Instituto Florestal do Estado de São Paulo. Em 1904, no Horto Florestal de Jundiaí, o Eng° Edmundo Navarro de Andrade iniciou pesquisas com essências nativas e várias espécies de eucalipto, com o objetivo de fornecer lenha e dormentes para a Companhia Paulista de Estradas de Ferro.
A partir de 1910 foram iniciados plantios no Horto Florestal de Rio Claro, o berço do eucalipto no Brasil. Foi também a partir de 1950-70 que Nova Zelândia e Chile, hoje dois países com presença significativa no mercado internacional de produtos florestais, iniciaram seus plantios comerciais. A possibilidade de se obter matéria-prima de plantações, que podem ser localizadas em áreas selecionadas por apresentarem atributos favoráveis - como infra-estrutura, clima e solo apropriados, disponibilidade de mão de obra, estabilidade política, etc - trouxe um novo modelo para o estabelecimento de indústrias florestais.
Quebrou-se dessa forma o elo que obrigava que o processamento industrial se fizesse perto da floresta, uma vez que o baixo valor da madeira em tora não permitia seu transporte a longas distâncias, salvo em casos particulares onde predominam as hidrovias. Além disso, como o processo da fotossíntese depende basicamente de energia solar e água, a produtividade florestal nos trópicos é muito superior a das regiões temperadas.
Enquanto nos países escandinavos a produtividade média é de 2 – 4 m3/ha/ano, no Brasil, Chile ou Nova Zelândia essa cifra é multiplicada por dez. Resultado: muitas empresas de países industrializadas do hemisfério norte começaram a migrar para os trópicos, estabelecendo suas próprias plantações e unidades industriais ou atuando em parceria com companhias locais.
Basta uma breve análise do parque industrial florestal do nosso país para se identificar a presença de conglomerados escandinavos, americanos, chilenos, portugueses, etc. Nos Estados Unidos, por exemplo, nos últimos 25 anos as empresas florestais se desfizeram de quase 50% de seus ativos florestais e muitas delas transferiram suas bases de produção florestal para países em desenvolvimento.
O efeito combinado da alta produtividade e do menor custo de mão-de-obra pode, em alguns casos, levar a diferenças dramáticas do custo final da matéria prima. No caso de toras grossas de pinus para produção de lâminas faqueadas, que são as que alcançam melhores preços, hoje por volta de US$ 120-150/m3, a eliminação de nós por meio de podas é essencial.
Comparando-se o Brasil, onde temos ciclo de rotação de 25 anos, produtividade de 30 m3/ha/ano e custo de mão-de-obra da ordem de US$ 5/hora, com um país escandinavo, onde a produtividade é de 3 m3/ha/ano, a rotação é de 75 anos e o custo da mão de obra de US$ 20/hora,e considerando-se que restariam somente 10% das árvores ao final do ciclo, a madeira escandinava seria 30 vezes mais cara. Isso, sem se levar em conta os custos financeiros dos investimentos.
Plantações x Demanda de Madeira: Segundo recente estudo da FAO, a produção mundial de madeira é da ordem de três bilhões de m3/ano, dos quais metade é usada para energia e metade como matéria-prima industrial. O valor estimado da produção florestal é de 64 bilhões de dólares para madeira e 4,7 bilhões de dólares para produtos não madeireiros. A cobertura florestal do nosso planeta é de um pouco menos que quatro bilhões de hectares, o que corresponde a 30% da área terrestre e a 0,62 ha/habitante.
Desse total, 36% são de florestas primárias, que estão desaparecendo ou sendo alteradas, ao ritmo de seis milhões de hectares por ano, a maior parte na África e América do Sul. As plantações florestais totalizam 140 milhões de hectares, cerca de 3,8% da área florestal total, das quais aproximadamente 30 milhões de hectares são florestas de proteção e 110 milhões de hectares são plantios produtivos.
Embora essas florestas de produção representem menos de 3% de toda a cobertura florestal, respondem, hoje, por 35% do suprimento de toda matéria-prima industrial, que é da ordem de 1,5 bilhão de m3. Nos últimos cinco anos, os plantios florestais cresceram, em média, 2,8 milhões de hectares por ano, 87% dos quais dedicados à produção de madeira para fins industriais.
Na medida em que as florestas nativas são substituídas por cultivos agrícolas ou transformadas em áreas protegidas, o papel das florestas plantadas no atendimento da demanda mundial de madeira tende a crescer continuamente. Considerando-se o atual consumo anual per capita de 0,67 m3, apenas para atender o crescimento vegetativo da população que aumenta em um bilhão de pessoas aproximadamente a cada 45 anos, são necessários 15 milhões de m3 adicionais a cada ano.
Tomando-se uma produtividade média de 15 m3/ha/ano, isso representa a necessidade de um plantio adicional de um milhão de hectares a cada ano. Como o consumo de produtos florestais aumenta com o nível de renda da população, na prática, essa demanda vai ser significativamente maior.
Expansão da produção industrial a partir de florestas plantadas: Com 478 milhões de hectares de cobertura florestal, o Brasil é o segundo país em florestas, superado apenas pela Federação Russa, com 809 milhões de hectares.
Segundo a FAO, é um dos países com maior diversidade de espécies madeireiras, com 7.780, enquanto a Islândia e Malta só têm três espécies florestais cada uma. Embora a participação das florestas nativas ainda seja significativa, cerca de 50% dos 300 milhões de m3 consumidos anualmente no país, o papel das plantações se torna cada vez mais importante no fornecimento de matéria-prima industrial.
O total da área plantada é da ordem de 5,6 milhões de hectares, dos quais 61% de eucalipto, 33% de pinus e 6% de outras espécies como: teca, acácia, pópulus, araucária, paricá, etc. Nos últimos cinco anos a produção de madeira em tora para fins industriais cresceu à taxa média de 8,5% ao ano, atingindo 150 milhões de m3 em 2005.
No mesmo período a produção de celulose cresceu 6,9% ao ano, com 10,4 milhões de toneladas em 2005; a de papel 3,6 % ao ano, com 8,6 milhões de toneladas em 2005; a de painéis 8,2 % ao ano, com 4,0 milhões de m3 em 2005; compensado de pinus 11,3%, ao ano e 2,46 milhões de m3 em 2005; madeira serrada de pinus 3,5% ao ano, com 9 milhões de m3 em 2005 e, finalmente, o saldo da balança comercial dos produtos oriundos de florestas plantadas cresceu 12,6% ao ano no mesmo período, atingindo 3,85 bilhões de dólares em 2005.
É importante mencionar também os ganhos ambientais decorrentes do plantio e manutenção das florestas, em particular de florestas plantadas. Como metade da madeira é constituída por carbono, o processo de crescimento da árvore implica a retirada de CO2 da atmosfera. Portanto, do ponto de vista de emissão de gases de efeito estufa, a madeira é um combustível neutro, possibilitando a geração de créditos de carbono, quando substitui combustíveis fósseis.
Neste mês de setembro a Celulose Irani vai receber R$2,6 milhões pela venda de créditos de carbono ao grupo Shell, pela substituição de óleo BPF por biomassa, em suas caldeiras. Trata-se da primeira empresa brasileira do setor de papel e celulose, e a segunda do mundo, a receber créditos de carbono. No último, houve um interesse renovado de países da Comunidade Européia na utilização de biocombustíveis, especialmente pellets produzidos a partir de serragem e outros resíduos da madeira. O mercado potencial para esse tipo de combustível na Europa é estimado entre quatro e cinco milhões de toneladas por ano.