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Mário Higino Leonel

Presidente do Conselho de Administração da Eco Brasil Florestas

Op-CP-26

Florestas para a energia do futuro

A silvicultura brasileira está diante de novo desafio. Produzir, competitivamente, biomassa para geração de energia em quantidade e qualidade. Depois de assegurar condições suficientes para que setores industriais se posicionassem com destaque no mercado internacional, como os de celulose, papel e chapas, surge outra grande oportunidade para os empreendedores nacionais.

Na economia globalizada em que vivemos, na procura incansável por energias limpas e na preocupação mundial com os efeitos das mudanças climáticas, a produção de biomassa de florestas plantadas é mais que um negócio, é uma necessidade para a construção de  um mundo com melhores perspectivas.

Basta lembrarmos que a biomassa florestal é fonte renovável e tem balanço nulo na emissão de gases de efeito estufa quando usada para energia. O Brasil tem condições excepcionais para se colocar na dianteira desse processo de produção energética.

Embora países como a Rússia e a China estejam investindo na expansão de florestas para produção de energia renovável, temos aqui um conjunto de características únicas para liderar a produção mundial. Entre elas, a localização geográfica, a adaptação de espécies florestais e o alto nível de conhecimento em silvicultura.

Com uma área de cerca de 7 milhões de hectares de florestas plantadas de alta produtividade e potencial de crescimento, a produção de biomassa para energia no País apresenta perspectivas animadoras. Além disso, esse segmento da bioeconomia pretende ganhar espaço na composição da matriz energética brasileira.

Já existem diretrizes governamentais que prevêem a expansão da utilização de florestas para esse fim. Assim, torna-se necessário o investimento em pesquisas científicas e desenvolvimento de tecnologias que sustentem econômica e ambientalmente a produção de biomassa. 

Nesse sentido, um bom exemplo é o projeto Florestas Energéticas, esforço multi-institucional liderado pela Embrapa Florestas com a participação da Esalq-USP e cerca de 70 empresas públicas e privadas de todo o país, inclusive dos setores florestais e agrícolas. O objetivo é alavancar pesquisas na área de expansão de plantios de florestas e de tecnologias inovadoras para o uso da madeira na produção de biomassa.

É interessante lembrar que a indústria nacional de celulose e papel teve uma significativa participação na instalação de uma base florestal para fins produtivos. Para tanto, reuniu os melhores insumos e desenvolveu tecnologias a ela relacionadas, como manejo florestal, melhoramento genético, monitoramento e preservação ambiental, entre outros pontos que garantiram a competitividade e o avanço do setor em termos mundiais.

Tal capital de conhecimento acumulado deverá ser aplicado na criação de novas tecnologias voltadas para a geração de energia que utilize a madeira como matéria-prima. É o caso da biomassa originada de árvores cultivadas especialmente para essa finalidade, com características próprias, como ciclo reduzido de colheita e maior poder calorífico.

Sem esquecer, é claro, de alinhar esse cultivo à responsabilidade socioambiental. Já há exemplos nessa direção, como as recém-iniciadas atividades da Suzano Energia Renovável, no Maranhão. A partir de florestas plantadas de eucalipto próprio para produção de energia, a empresa produzirá pellets (partículas desidratadas e prensadas de madeira moída), com alto poder calorífico e que servem como combustível para caldeiras residenciais, industriais e usinas termoelétricas, especialmente no exterior.

Alguns dados reforçam o cenário de oportunidades para o estabelecimento da geração de energia a partir de fontes renováveis. No Brasil, as condições de crescimento para o consumo de energia derivada de biomassa são boas, especialmente no setor industrial. Segundo dados do estudo O Valor das Florestas, de autoria dos especialistas Marco Antonio Fujihara, André Guimarães, Roberto Cavalcanti e Rubens Garlipp, entre 2000 e 2009, o consumo de energia oriunda de biomassa registrou um aumento de 65%.

A maior parte desse consumo (47,5%) ocorreu no segmento industrial.  Também no final desse período, a participação das fontes de energia renováveis na matriz energética passou a ser de 47,3%, dos quais cerca de 10% representados por energia obtida de biomassa florestal, lenha e carvão vegetal, segundo dados do Balanço Energético Nacional de 2010. Sem dúvida, há espaço para uma maior participação dos recursos florestais no mercado de geração de energia sustentável no País.