Pesquisador do Inpa Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia
Op-CP-11
Na biosfera, o vegetal é o único ser vivo capaz de transformar energia solar em carboidratos. A importância de cada produtor primário do reino vegetal depende de sua biomassa e de sua capacidade de troca gasosa com a atmosfera. Neste sentido, a floresta e o fitoplâncton desempenham papel importante nesta interação. Em geral, 50% do peso da massa seca de uma árvore é carbono, que está (mais de 95%) em forma de celulose, hemicelulose e lignina.
Segundo o Global Forest Re-sources Assessment 2005 da FAO, o estoque de carbono das florestas brasileiras é de, aproximadamente, 50 bilhões t C. A emissão anual brasileira, via queima de combustível fóssil e produção industrial, é de 70 milhões t C. Isto quer dizer que as florestas poderiam neutralizar as emissões brasileiras, durante 700 anos.
No entanto, a floresta no chão desempenha o papel de vilã da atmosfera. Quando queimada, a floresta emite monóxido e dióxido de carbono e, pela decomposição, a emissão é de metano. O desmatamento na Amazônia, por exemplo, no período de 1978 a 2007, apresentou um potencial médio de emissão de 220 milhões t C, por ano.
Quando esta emissão é acrescentada às emissões brasileiras, o Brasil passa a ser o 5° maior emissor de gases de efeito estufa do mundo. Isto é demais para uma região que contribui com menos de 10% na formação do PIB nacional. E quais serão os efeitos das mudanças climáticas globais sobre a Amazônia? Com base em modelos climáticos, a Amazônia vai esquentar até 8 ºC e vai haver queda de chuvas, segundo o estudo “Mudanças Climáticas e seus Efeitos sobre a Biodiversidade Brasileira”, que foi divulgado pelo MMA, em 27/02/07.
Conseqüências? Até 18% da área que é hoje mata vai virar uma vegetação rala, semelhante ao cerrado. Segundo ainda este estudo, a perda da floresta, combinada com a menor umidade, pode converter a Amazônia em grande emissor. De outro lado, existem os “céticos” do aquecimento global, que não concordam que o homem seja o responsável pelas mudanças globais, e sim os raios cósmicos galácticos.
E mais, nos próximos 50 anos, o número de raios deve aumentar, elevando a produção de nuvens baixas e, com isso, haverá um resfriamento da Terra, ao invés de um aquecimento. Na região de Manaus, há 3 parcelas permanentes de 1 ha cada, em floresta primária, que são monitoradas desde 1980. São 27 anos de medições sobre árvores, com diâmetro maior ou igual a 25 cm.
Durante este período, ocorreram três fenômenos climáticos fora do padrão regional, que foram: El Niño, em 1983 (1.958 mm de precipitação anual), 1997 (2.242 mm) e em 2003 (1.958 mm); La Niña, em 2000 (3.566 mm); e Seca, em 2005 (2.698 mm). A precipitação média anual, durante o período de 1980 a 2005, foi 2.598 mm. Os El Niño ficam bem definidos, com precipitações anuais bem abaixo da média do período, enquanto que no ano da La Niña, a precipitação foi bem maior do que a média.
A seca de 2005 não foi, aparentemente, ocasionada pela falta de chuvas, porque a precipitação deste ano foi quase igual à média histórica. E o que aconteceu com os 3 hectares de florestas primárias, sob impacto dos três fenômenos climáticos, em cinco ocasiões diferentes? A floresta não tomou conhecimento dos fenômenos climáticos, pois continuou crescendo e seqüestrando carbono da atmosfera.
Os estoques de carbono total (parte aérea + raízes grossas) das 3 repetições eram 115, 118 e 102 t C ha-1, em 1980 e passaram a ser 135, 141 e 122 t C ha-1, em 2007, proporcionando um incremento médio anual das 3 repetições igual 0,77 t C ha-1ano-1.
Se for baseado neste comportamento, um modelo linear pode apontar para uma biomassa dobrada, a cada 140 anos. Seria aceitável esta projeção? Outra coisa é saber se o comportamento destes 3 hectares repetir-se-á nos demais 299.999.997 hectares de florestas da Amazônia. Afinal, as mudanças globais vão aquecer ou esfriar a Terra? O quanto disto afetará as florestas da Amazônia? São perguntas que precisam ser respondidas, sob pena de confundir a opinião pública.
Depois de 100 anos, nevou em Bagdá, em 2008. Então, os “céticos” estão certos. Que dirão os moradores do leste e do sul da Europa (Hungria, Romênia, região dos Bálcãs, Grécia e Itália), que sofreram com a forte onda de calor em 2007? Além disso, as seguintes constatações precisam ser consideradas:
1. de 1850 a 2005, a concentração de CO2 na atmosfera saltou de 280 ppm, para 380 ppm;
2. a Terra levou 1.800 anos para atingir o primeiro bilhão de habitantes e, em 2008, está muito próxima de atingir 7 bilhões;
3. o tempo de residência do CO2 na atmosfera é de mais de 1.000 anos e,
4. a quantidade de lixo que se produz diariamente.
Nesta altura dos acontecimentos, o importante é levar em consideração os cenários da modelagem, as críticas dos “céticos” e o comportamento dos 3 hectares de Manaus. É melhor estar, hoje, um pouquinho certo, do que completamente errado daqui a 100 anos. O fato é que pouco se sabe sobre os efeitos das mudanças climáticas sobre a floresta amazônica e vice-versa.
Se não temos certeza destes efeitos, o melhor caminho é investir pesado para melhorar o conhecimento e usar a cautela na utilização dos recursos da floresta. Manter a floresta amazônica em pé parece ser o melhor negócio, tanto para neutralizar as emissões, como para preservar os seus serviços ambientais e o seu papel de proteção de outras formas de vida.