Para entendermos o mercado florestal e para que possamos vislumbrar a magnitude e a importância do controle de pragas nesse setor, faz-se necessário informar que, na distribuição geográfica mundial do capital dos investidores financeiros em ativos florestais, 18,2% estão em terras brasileiras. Dos 12 maiores fundos investidores em ativos florestais, 10 deles também se encontram atuando no Brasil, porém detêm uma fatia relativamente modesta de terras como proprietários de florestas comerciais.
Isso porque, nesse mercado, 29% pertencem aos produtores independentes, que não investem tanto quanto as grandes indústrias. Outros 34% do filão são das florestas de empresas de celulose. Em relação às outras participações, 14% estão com as siderúrgicas que o exploram para o carvão, enquanto o restante se refere a 6% para produção de painéis, 4% para confecção de produtos sólidos em madeira e 3% com outros produtos. Essa é a atual divisão do mercado florestal no País.
Desde que esse expressivo mercado surgiu no Brasil com a introdução do eucalipto em 1909 e, pouco depois, em 1922, com a introdução do pínus, o mercado se expandiu muito. Dominamos em nossos dias a tecnologia em termos mundiais na produção do eucalipto em volume, peso e geração de clones.
É bom lembrar que, numa previsão dos anos de 2010 até 2020, a grande expectativa no setor florestal era a substituição de produtos. E por que isso? Nos 7.840.000 hectares que existem plantados no Brasil, sendo a maioria deles com eucalipto, as grandes empresas detêm imensa fatia e grandes maciços florestais, onde suas produções são certificadas da FSC (Forestry Stewardship Council, Conselho de Manejo Florestal), um certificado conferido para grandes florestas, nas quais existe o impedimento do uso de inúmeros produtos químicos.
Contudo existem algumas “derrogas” desses produtos químicos, que estão autorizando, por enquanto, essas empresas a usarem os pesticidas conforme orientações da própria FSC. E é nesse ponto que entra o mercado de desenvolvimento de novas metodologias para controle de pragas, porque muitas dessas “derrogas” vão cair em 2021. Logo, existem dúvidas se, a partir daí, teremos produtos para utilizarmos em florestas certificadas para combate à formiga, caso essas “derrogas” não persistam. Então está posto, nesse aspecto, o grande sinal para o desenvolvimento de novas tecnologias, principalmente as de produtos biológicos para controle de pragas dentro das áreas florestais.
Alguns dos desafios dentro de um sistema florestal continuam sendo o aumento da produtividade, o surgimento de novas doenças e pragas e a criação de novos clones resistentes às pragas, às doenças e ao déficit hídrico. Esse cenário gera grandes oportunidades para o autodesenvolvimento de tecnologia em produtividade, ciclo da floresta, manejo integrado de pragas e manejo florestal, entre outras operações.
A preocupação que o produtor de floresta tinha era simplesmente com formiga e cupim. Hoje, com o advento da introdução e o aparecimento das pragas exóticas, o cenário florestal mudou bastante. Temos, agora, a presença de lagartas desfolhadoras como pragas, coleópteros como os besouros desfolhadores, percevejo bronzeado, psilídeo-de-concha, gonípteros (principalmente em São Paulo), formigas e a vespa-da-galha. São pragas que ainda demandam muito estudo e conhecimento no quesito do controle biológico.
Como já citado, a maioria dos plantios florestais brasileiros são certificados da FSC, e isso restringe o uso de praticamente todos os inseticidas sintéticos disponíveis para a silvicultura aqui no Brasil. Em vista disso, esse cenário tende a piorar com as novas restrições que estão surgindo. Isso demanda, naturalmente, a busca de alternativas para redução dos danos com pragas e, ao mesmo tempo, para atender às exigências da certificação, garantindo um maior acesso dos produtos florestais nacionais no mercado.
A boa notícia é que os avanços nas pesquisas e no estudo de manejo integrado de pragas florestais já conseguiram reduzir bastante os danos causados por essas pragas em florestas. As pesquisas voltadas para as pragas sustentáveis, como o controle biológico, estão se destacando muito, como a produção do uso de parasitoides e predadores, principalmente por empresas privadas de biotecnologia.
Existe também o posicionamento de microrganismos biológicos, como fungos para combate ao psilídeo-de-concha, ao percevejo bronzeado e aos gonípteros, com bastante sucesso. A maior dificuldade desse manejo é, na realidade, a falta de inimigos naturais. Por isso, vários programas estão em desenvolvimento visando à introdução dos inimigos naturais, igualmente exóticos, dessas pragas. Porém é insuficiente toda pesquisa em controle e manejo integrado de pragas se todas as outras tecnologias não acompanharem a evolução do manejo. Para isso, citamos o exemplo dos clones.
Se não há o desenvolvimento de um clone resistente a essas pragas ou a certas doenças, não resolve ter um controle ou um possível controle até mesmo biológico com muito sucesso, caso não tenhamos a base também controlada, que passa pela resistência da planta em relação àquele inseto ou média resistência ao inseto.
Cada vez mais, grandes empresas estão se comprometendo com a parte econômica e social, de sustentabilidade e pesquisa e inovação em tecnologia, diferente de tempos atrás, quando a pesquisa se concentrou muito no manejo sustentável, onde os plantios industriais já contribuíam para a conservação da biodiversidade, a conservação do solo, a regulação dos recursos hídricos, a recuperação de áreas degradadas e a geração de energia renovável.
Mas de nada adianta se um dos elos da cadeia for rompido, pois todo o processo, desde o viveiro até a floresta em ponto de corte, é interdependente. Se temos uma árvore bem nutrida, um clone resistente às pragas e às doenças, um manejo integrado de pragas efetivo, o resultado não poderá ser outro a não ser grande produtividade. Os grandes desafios, hoje, passam pelo desenvolvimento de novas metodologias para o controle de pragas e de doenças florestais.
Para isso, temos aliados nesse desenvolvimento junto com universidades e empresas do setor: o Ipef (Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais), a SIF (Sociedade de Investigação Florestal) e a Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), associação responsável pela representação institucional da cadeia produtiva de árvores plantadas. O futuro com sucesso das florestas comerciais no Brasil passa pela etapa de inovação, principalmente dos produtos biológicos, e, para isso, é fundamental o apoio dos governos para políticas de apoio a esse segmento e aceleração dos processos de aprovação de registro através de novas legislações criadas pelos órgãos responsáveis e competentes.