Consultor Florestal e Ambiental Independente
Op-CP-22
Possivelmente, vou contrariar alguns leitores, outros articulistas desta edição e até o editor de Opiniões, mas essa é a intenção. Nada de dizer o que deve continuar sendo feito, o que deve ser mudado ou o que precisa passar a ser feito. Deve-se sair de "o que fazer", sair do "discurso político" e, com planejamento consciente, colocar mãos à obra para obter os resultados desejados para o sistema florestal brasileiro.
Para isso, é necessário considerar que o ambiente para esse trabalho é constituído por atores dos Poderes Executivo e Legislativo e empresas privadas, nem todos sinceros. Cada qual tem interesses próprios. O Brasil espera resultados palpáveis das promessas de políticos. O povo quer uma vida melhor.
Das empresas ele deseja melhor qualidade dos produtos e serviços, com menor preço. Nesse contexto, a satisfação da sociedade deve acontecer sem desgastar (a parte boa) da preciosa herança ambiental recebida. Fazer isso ou ajudá-lo a acontecer em um mundo extremamente competitivo é o grande desafio para o sistema florestal.
Há um livro que trata da arte de obter resultados desejados em contextos como aquele que se abrirá no próximo ano, 2011. Chama-se Everyman´s Prince: A Guide to Understand Political Problems, de William D. Coplin e Michael K. O Leary. Nesse texto, o príncipe seria cada um de nós encarnando o próprio Maquiavel.
Nas primeiras páginas, os autores consideram que, "Para ter sucesso na política da vida você deve:
1) examinar o cenário para saber quais são os atores mais importantes;
2) interagir com eles para conhecer suas tendências e influências nos tópicos que são importantes para você;
3) calcular como fazer para que eles atuem da forma que você deseja; e
4) executar o que foi planejado".
Assim, surge a dualidade em relação à escolha do intercessor: seu interesse em atuar a favor do que você deseja versus ter ele poder para fazer ou mudar o que é desejado. Essa interação é vital para fazer com que o desejado aconteça. Não adianta ao nosso intermediário ter o poder se ele não tem o interesse. A recíproca é verdadeira.
Interagindo com o sistema florestal brasileiro estão os Poderes Executivo e Legislativo – federais e estaduais –, para proporcionar condições favoráveis e estabelecer regras para a atuação do setor privado, mas, infelizmente, na maioria das ocasiões, mais preocupados com os votos nas próximas eleições.
Por sua vez, o setor privado produz bens e serviços sem desviar-se do seu principal objetivo: a própria sobrevivência, que depende do lucro. Para parte desse setor, o ecologicamente sustentável é apenas algo como colocar uvas passas no panetone de Natal; um disfarce para vender mais e ter mais lucro. Felizmente, o sistema florestal brasileiro, em sua maioria, tem um viés evolutivamente ambiental.
Comumente, o planejamento no setor público preocupa-se apenas com “o que fazer”. Não ficam devidamente caracterizadas cobranças sobre metas, prazos de execução, dentre outros elementos. Os prezados leitores têm dúvida quanto a isso? Procurem saber quanto dos orçamentos anuais de planos e projetos é efetivamente executado no ano fiscal de muitas entidades públicas do Brasil. É um paradoxo: não há dinheiro e sobra dinheiro.
Existem muitas metodologias e técnicas para planejar e administrar bem. Muitos cursos têm sido proporcionados ao servidor público, mas falta ainda bastante qualificação e treinamento. Planejamento e administração eficientes somente serão possíveis com gente capacitada.
Causa muito dano ao nosso Brasil lotar os cargos e funções comissionadas com pessoas despreparadas, apenas por interesses políticos. Algumas instituições governamentais têm gestão tecnicamente bem planejada e conduzida, mas é a exceção, não é a regra.
Invariavelmente, há erros frequentes no planejamento feito no setor público. Por exemplo: planejamento estratégico feito sem a participação ativa dos dirigentes mais graduados, sempre muito ocupados; projetos e planos nos quais toda ação é prioritária. Na realidade, essa prática de priorizar tudo é um artíficio político para agradar a todos.
Também o controle efetivo da execução é fraco. Pouco se cobra do compromissado no planejamento. Ah! Que falta faz o uso regular daquelas “planilhazinhas” simples para gerenciar projetos e planos, com as perguntas clássicas: Que ação? Por quê? Como? Onde? Quem executa? Quando/prazo? e Quanto custa?