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Sara Juarez Sales

Gerente de Sustentabilidade da Eco Brasil

Op-CP-36

A sustentabilidade nas operações diárias

A naturalidade com que a base florestal deve tratar a sustentabilidade em seu processo de produção possui diferentes vieses em função do momento, tamanho e visão futura do empreendimento. O momento da empresa pode estar direcionado à busca por captura de valor ao longo de sua cadeia de produção e/ou ao fazer o suficiente para atender a requisitos socioambientais de um processo de certificação.

Mas fazer os princípios de sustentabilidade parte integrante do processo de produção, de forma natural, implica tornar a operação florestal mais comprometida com as melhores práticas socioambientais exercidas no setor. A decisão pela abrangência do compromisso com os princípios de sustentabilidade na empresa florestal diz muito sobre a forma e o respaldo, principalmente financeiro, com que as áreas operacionais florestais executam suas atividades diárias.

As áreas operacionais florestais sabem o que é necessário fazer para se ter uma produção mais sustentável e executá-la com naturalidade, mas necessitam de apoio, assessoramento e motivação. O modelo de governança adotado pelas empresas contribui para ganhar aderência aos princípios de sustentabilidade.

Quanto mais distantes as áreas operacionais e aquelas que atuam de forma transversal ao processo de produção estiverem das discussões sobre sustentabilidade, menor importância terá o exercício das melhores práticas socioambientais. A governança corporativa de sustentabilidade da empresa e de seus clientes influencia as operações diárias. As áreas corporativas demandam, frequentemente, dados para acompanhar o plano de metas ou elaborar relatórios de divulgação, diligência e pesquisa.

 Para tanto, as áreas operacionais são obrigadas a organizar registros e reportes de informações de desempenho socioambiental, o que normalmente toma tempo e afasta a equipe do foco da produção. Para evitar esse tipo de situação, são criadas áreas ambientais e sociais para apoiar a operação florestal.

Por outro lado, algumas atividades devem ser reservadas a áreas ambientais específicas, seja por motivos regulatórios, seja por disputa orçamentária. Por exemplo, a recuperação de áreas degradadas, que, em função de seu custo, quando executada pelas áreas operacionais florestais, disputam orçamento com perda para o processo de recuperação.

Assim, para reconhecer naturalidade no processo de produção, algumas abordagens devem ser observadas, como:
1. os critérios socioambientais para a implantação de projetos florestais sustentáveis;
2. a gestão socioambiental do processo de produção florestal;
3. e o desenvolvimento de relacionamento interno e externo.

Definição de critérios socioambientais em projeto: o projeto florestal tende a enxergar o uso do solo a partir das áreas de aproveitamento e das Áreas de Preservação Ambiental (APP), sobrando áreas para Reserva Legal (RL) e remanescentes. Naturalizar os princípios da sustentabilidade no desenho do uso do solo implicaria adotar critérios de maior aproveitamento, mas dando pesos consistentes à conectividade e preservação de fragmentos florestais, resultando em um zoneamento onde também se consideraria a produção, APP e RL dos vizinhos, buscando impactar positivamente a biodiversidade regional. A tendência atual não é essa, o projeto florestal ainda olha o maior aproveitamento interno da propriedade, adquirindo áreas para compensar a Reserva Legal, até o limite possível, na bacia hidrográfica de mesmo bioma.

Sendo impositivos os critérios econômicos para o uso do solo sobre os ambientais, então, é natural partir para um segundo processo compensatório, fomentando o Desenvolvimento Sustentável Local, ao promover a organização do uso do território em escala regional por diferentes meios, seja no apoio a estudos ambientais, à elaboração de Zoneamentos Ecológicos Econômicos, seja fomentando recuperação de áreas degradadas, seja apoiando a aplicação de políticas de Pagamento por Serviços Ambientais, entre outros.

A gestão socioambiental do processo de produção florestal: é importante a independência da área que monitora os impactos ambientais e sociais ao longo da cadeia de produção florestal da área operacional. Não que seja necessário haver vigilância, mas sim o monitoramento e o assessoramento para o processo de melhoria contínua, de integração da gestão, de articulação das diferentes áreas em processos de certificação, de obtenção de dados, de sistematização de informações e de organização de reuniões de análise crítica que concluem o processo de monitoramento.

Também cabe a essas áreas gerenciar dados e informações que são reportados nos relatórios de sustentabilidade, Due Dilligence
Socioambiental, ou utilizados em projetos especiais como os Relatórios de Emissões, de Pegada Hídrica, Investimento Social, entre outros. Esses projetos são, comumente, centralizados em áreas corporativas específicas, conhecidas ou não por sustentabilidade.

Importantes resultados são obtidos quando todos os assuntos ao redor dos princípios de sustentabilidade são levados para as reuniões mensais da área operacional florestal, ao tornar as decisões socioambientais próximas aos diretores, gerentes e supervisores, possibilitando que esses colaboradores contribuam para o experiente olhar de quem executa as atividades em campo.

Esses momentos são importantes para identificar oportunidades de sinergias e parcerias com as áreas de desenvolvimento, pesquisa e tecnologia na busca por eficiência do uso dos recursos naturais no processo de produção. Desenvolvimento de relacionamento externo: o setor florestal, principalmente as grandes empresas, vem acompanhando todas as discussões socioambientais que foram travadas internacionalmente e que repercutiram no Brasil.

Ao longo desse processo, o conceito de sustentabilidade do negócio se fortaleceu ao conceito de desenvolvimento sustentável, que ficou menos visível dentro das políticas de responsabilidade social. Desenvolvimento sustentável na perspectiva de uma territorialidade onde se encontra instalada uma empresa e sua cadeia de produção, que atinge colaboradores, comunidade, municípios, e, em grande escala, regiões, estados e País.

Nessa perspectiva, o setor florestal pode e deve exercer a liderança nas discussões atualmente colocadas internacionalmente e que impactam diretamente o País, nos questionamentos sobre as emissões, alteração do uso do solo, utilização de novas tecnologias e necessidade de adaptação do processo de produção às alterações climáticas.

Também importante é a participação da empresa no desenvolvimento de localidades. A empresa florestal deve exercer sua responsabilidade social nas regiões onde atua, promovendo o desenvolvimento sustentável do seu entorno, compatível com o seu próprio crescimento.

Cabe destacar a importância de monitorar os impactos provocados pelo processo de produção e de manter canais de diálogos para apresentar planos de correção, mitigação ou compensação para o público afetado. Esse relacionamento acontece de forma natural e é exercido pelos colaboradores operacionais, o que otimiza recursos, mas deve ser acompanhado de perto por pessoal especializado, para evitar a exposição da área florestal à situação de conflito.

Desenvolvimento de relacionamento interno: atuar na área de sustentabilidade exige uma grande dose de resiliência e paixão. Internamente, todos percebem a sustentabilidade como um dos mais importantes compromissos da empresa, mas, na definição de prioridades e, principalmente, das financeiras, essa percepção perde espaço.

É muito importante para o sucesso da política de sustentabilidade um padrinho de peso, o CEO. Comprometer as metas corporativas às metas de sustentabilidade também repercutem muito positivamente, como também envolver novos atores ao processo de tomada de decisão, sobre os diferentes assuntos que compõem a agenda estratégica.

Dentro da estrutura de gestão, já existem espaços consolidados para diálogo interno, como as reuniões de gestão integrada, reuniões operacionais e comitês. Esses espaços podem e devem receber agenda programática a ser discutida, e seus resultados, incorporados ao processo de tomada de decisão das instâncias superiores, como os comitês ou conselhos de sustentabilidade. A naturalidade com que os princípios da sustentabilidade venham a ser aplicados será mais consistente quanto mais vezes e mais pessoas tratarem do assunto e, cada vez, com mais profundidade. A empresa que não tem conversa não tem sustentabilidade!