Há algum tempo, a sustentabilidade deixou de ser um diferencial importante das empresas para se tornar algo essencial, não como compromisso ético, mas como um verdadeiro pilar de negócio. Hoje, a pergunta que se impõe às empresas não é mais “se devemos agir”, mas sim “quando e como podemos acelerar nossas ações” diante dos desafios da crise climática, da desigualdade e da perda de biodiversidade. O conceito evoluiu, e é cada vez mais necessário demonstrar, na prática, esse compromisso e os resultados alcançados até aqui.
Nesse cenário de avanços, o diálogo sobre ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) precisa ir além dos compromissos descritos nos relatórios de sustentabilidade. É preciso mostrar com transparência como as ações empresariais se traduzem em mudanças estruturais reais e consistentes. Esse é um passo fundamental para evitar o descompasso entre discurso e prática – justamente o que vem desgastando a credibilidade da sigla ESG no mercado.
Vivemos um período de instabilidade de mercado e de intensos debates globais sobre o papel das empresas na agenda da sustentabilidade. Isso tem levado algumas organizações a recuarem em suas agendas ESG. E revela algo importante: há quem veja a sustentabilidade como estratégia de imagem e há quem a reconheça como parte da identidade corporativa.
Atuar de forma legitimamente sustentável exige visão de longo prazo, consistência e coerência com seus valores, e materializar o ESG para além da sigla exige coragem. Coragem para revisar cadeias de valor, modelos de governança e processos constantemente. Coragem para reconhecer que o planeta e a sociedade exigem ações concretas e colaborativas, desde a transição para uma economia verde e regenerativa até iniciativas por justiça social que ampliem o acesso à educação, geração de renda e qualidade de vida.
Sabemos que o caminho ainda é longo – e que a responsabilidade não recai apenas sobre as empresas. Ainda assim, é fundamental que o setor privado se reconheça como parte ativa da solução. Fazer ESG de verdade não é sobre perfeição, é sobre coerência. E também sobre refletir quais ações estamos priorizando e por quê; sobre quais impactos estamos gerando, com quem estamos dialogando para entendê-los e como as decisões que tomamos hoje estão construindo o legado que queremos deixar.
Na prática, sustentabilidade é o exercício de compreender que empresas não existem no vazio. Operamos em territórios, com comunidades e ecossistemas complexos. Temos, portanto, o dever de atuar com responsabilidade e visão de futuro.
A boa notícia é que muitas empresas estão avançando e incorporam verdadeiramente o ESG no seu negócio, em produtos e serviços, e buscam certificações robustas que validam suas práticas ambientais. São modelos de negócio pensados para gerar valor compartilhado, um modelo que pode e deve ser continuamente aprimorado, mas que está cada vez mais concreto.
Outro ponto importante dessa jornada é o reconhecimento de que a escuta ativa e o relacionamento com as partes interessadas são pilares fundamentais de uma agenda ESG transformadora. Não se trata apenas de comunicar ações, mas de ouvir com atenção, ajustar rotas e co-construir soluções com as comunidades, parceiros, governos e demais agentes da sociedade. Sustentabilidade também é diálogo contínuo, transparente e transformador.
Além disso, precisamos ampliar nosso entendimento sobre o impacto positivo. Sustentabilidade não se resume a mitigar danos, mas também a regenerar, inovar e liderar novas formas de pensar o desenvolvimento. É um convite à criatividade aplicada aos negócios. Empresas comprometidas com o futuro sabem que investir em sustentabilidade não é um custo, mas uma forma inteligente de assegurar resiliência, relevância e longevidade.
Sustentabilidade, portanto, é uma jornada, e cada decisão empresarial é, também, uma escolha sobre o mundo que queremos ajudar a construir. Com isso em mente, transformar discurso em prática é, antes de tudo, um compromisso com os valores da corporação, com a transparência – e com a entrega. É isso que torna as boas intenções capazes de gerar transformação real.