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Heuzer Saraiva Guimarães

Diretor de Negócios Florestais na WestRock

OpCP68

Silvicultura: uma cadeia de valor que transversaliza as letras do ESG
O cultivo de florestas no Brasil apresenta, hoje, a maior capacidade fotossintética do mundo. Também conhecida como silvicultura, essa é uma das atividades de maior destaque do País, que, graças à sua capacidade de equilibrar porções geográficas de floresta plantada em nível igual ou superior ao de florestas nativas conservadas, tornou-se vitrine para o mercado global de iniciativas engajadas com os indicadores corporativos de desempenho amplo em sustentabilidade e em ESG (Environmental, Social and Governance).
 
Com áreas de aproximadamente 9,55 milhões de hectares (dados de 2020) e assumindo dimensões territoriais páreas com a extensão de alguns estados brasileiros, como Santa Catarina, as florestas são cultivadas de forma responsável e à base de métodos científicos, focados no aproveitamento de matéria-prima e ganho em eficiência fotossintética. 

Em tempos anteriores, o crescimento e a produção de florestas dependiam exclusivamente da disponibilidade de nutrientes e outros recursos, cujo acesso era circunstancial e dependia de condições específicas proporcionadas pelo meio ambiente. Isso, por sua vez, dificultava os projetos de recomposição florestal. 

Atualmente, o alinhamento entre soluções naturais e uma sofisticada biotecnologia nos possibilita impulsionar o ecossistema florestal brasileiro rumo à sustentabilidade e à preservação do meio ambiente. Fatores como variabilidade genética, desenvolvimento científico, modelos de preparo do solo e de monitoramento da colheita permitem que façamos um uso consciente e adequado das matérias-primas, conservando os recursos naturais, gerando insumos de alta performance e acionando uma ampla cadeia geradora de valores. Aliás, essas iniciativas tomaram proporção tão significativa no Brasil, que chegam a extrapolar o plano das contribuições econômicas para converterem-se em agentes de transformações sociais.

Diante de vastos projetos socioambientais, os plantios florestais podem contribuir, de forma relevante, para suprir as demandas produtivas do mercado e para mitigar as mudanças climáticas, já que, continuamente, removem e estocam carbono – acima e abaixo do solo – significativamente superior a outras atividades desenvolvidas e usos da terra. 

A meu ver, ganha a sociedade, os setores produtivos e o meio ambiente. Afinal, demandas ambientais convertem-se em demandas sociais e vice-versa. Em um tempo em que problemas afetam tanto pessoas quanto negócios, precisamos estar abertos para uma ampla cadeia geradora de valores. 

Assim é o caso da silvicultura, que se consolida como sistema a partir de múltiplos olhares, nos fornecendo os suprimentos a serem utilizados na produção de papéis, embalagens e outros bens de origem renovável. Ao materializar a experiência e a contribuição de muitos em seu setor, ela beneficia, diretamente e indiretamente, o desenvolvimento humano e, é claro, o planeta como um todo. 

O sucesso dos trabalhos praticados no campo florestal está atrelado a uma cultura de sustentabilidade pautada pela responsabilidade, pela inclusão e pela equidade na oferta de oportunidades, integrando os valores sociais aos ambientais. É por isso que, ao me referir à silvicultura, estou falando sobre uma cultura muito mais ampla, que perpassa todas as letras do ESG.

A silvicultura do carbono é a mesma silvicultura do desenvolvimento social. Segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá - 2022), estima-se que, de todos os hectares de área de plantios florestais no Brasil, 71% deles possuem certificados Forest Stewardship Council (FSC) e/ou pelo Programa Brasileiro de Certificação Florestal (CERFLOR – reconhecido internacionalmente) e são responsáveis pelo estoque de aproximadamente 1,88 bilhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2).

Adicionam-se a esse valor ambiental, como parte desse amplo sistema silvicultural, a conservação e a preservação de florestas nativas, que configuram reservas de carbono da ordem de 2,6 bilhões de toneladas de CO2, em 5,9 milhões de hectares na forma de Reserva Legal (RL), Áreas de Preservação Permanente (APP) e outras áreas de conservação. 

Evidencia-se também a relevância do sistema silvicultural como sumidouro e reservatório de carbono, aspectos que devem estar além das demandas produtivas, mas que configuram uma nova paisagem, na qual o desenvolvimento econômico mescla-se com a sustentabilidade ambiental, a diversidade dos valores sociais e a governança.

Diante desses vastos corredores verdes que as áreas de preservação e cultivo de florestas compõem na paisagem de nosso país, o setor produtivo de papel e embalagens se insere na cadeia da bioeconomia sustentável e imprime, no cerne de sua cultura corporativa, o DNA sustentável. Recentemente, nossa organização obteve a aprovação da Science Based Targets initiative (SBTi) para suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) em todo o mundo.

Nos comprometemos em reduzir, até 2030, nossas emissões em 27,5% – meta alinhada com o Acordo de Paris e que contribui para a mitigação das mudanças climáticas, de acordo com a ferramenta SBTi. Iniciativas como essa revelam o protagonismo da consciência ecológica nos principais projetos desenvolvidos pelas corporações, incluindo as de base florestal, que, por natureza, já possuem um balanço de carbono negativo, com remoções de carbono acima das emissões de suas operações.

Referenciando e concordando com o Professor Laércio Jacovine, da Universidade Federal de Viçosa, frente ao mercado de carbono, o grande desafio é como conseguir transformar essa contribuição relacionada às mudanças climáticas em oportunidades para o setor produtivo. As regras estabelecidas até o momento no mercado regulado e não regulado são ainda pouco favoráveis para a geração de créditos de carbono florestal.

Os conceitos de “linha de base”, “adicionalidade”, “permanência” e outras questões, incluindo o mercado internacional, são gargalos que dificultam o crescimento do mercado de crédito de carbono florestal. Assim, entende-se que alguns paradigmas precisam ser quebrados para que possamos incorporar outros conceitos e entendimentos sobre a questão da sustentabilidade em sentido amplo. 
 
Os conceitos “carbono florestal”, “balanço de carbono”, “intensidade carbônica”, “estoque de carbono em produtos”, entre outros, devem ser reconhecidos e incorporados pelo mercado, de forma que, realmente, se tornem oportunidades para a silvicultura – atividade que tanto contribui não somente para a minimização das mudanças climáticas, mas também para o desenvolvimento humano.

Decididamente, falar em “silvicultura do carbono” é uma forma de aparente limitação desse sistema, porque ele se torna ainda mais pujante quando tem como base de evolução a gestão integrada que efetiva desenvolvimento social, conservação e preservação ambiental, além de governança para o contínuo progresso econômico. Em outras palavras, o sistema silvicultural materializa aquilo que tem sido mundialmente apresentado como boas práticas em ESG.

O sistema da silvicultura reconhece e valoriza sua dependência das pessoas e dos serviços ecossistêmicos, transformando essa condição em compromisso de desenvolvimento socioambiental. As empresas que atuam nessa cadeia têm sido exemplos em investimento na educação e capacitação profissional aos níveis universitário e técnico e destaque na formação operacional que potencializa diversidade e inclusão.

Conforme dados da Ibá (2022), 73% das empresas de base florestal possuem metas ambiciosas de diversidade e inclusão e se valem de iniciativas internas e externas para o seu sucesso. Dentre as iniciativas internas, destacam-se a efetivação de posições organizacionais dedicadas exclusivamente à diversidade e à criação de grupos de afinidade, além de eventos e capacitações sobre o assunto.

Em paralelo, aproximadamente 67% das empresas participam de iniciativas externas voltadas para diversidade e inclusão, como ONU Mulheres, Rede Mulher Florestal, Movimento Mulher 360, entre outros. O sistema silvicultural é referência em engajamento voluntário com todos os stakeholders; certificação de sustentabilidade; iniciativas com instituições de ensino, pesquisa e extensão; iniciativas de desenvolvimento social; atuação em plataformas de diálogo e fórum de empresas; inclusão de pretos e pardos; engajamento dos direitos de toda e qualquer pessoa humana.
 
Além de “silvicultura do carbono”, portanto, certamente esse sistema também pode se apresentar como “silvicultura do desenvolvimento social”. Nesse caso, a “silvicultura do carbono” é apenas uma parte do sistema silvicultural, que se impõe como “silvicultura da sustentabilidade”, e nos desafia a ampliar atuação proativa. Para acompanhar as permanentes demandas da evolução socioambiental e econômica, apostar em inovação com ousadia é o caminho seguro pelo qual o setor ligado à geração de produtos sustentáveis deve percorrer, e isso inclui todas as fases da produção, desde a matéria-prima até a embalagem final.