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Carlos Alberto Guerreiro

Diretor de Operações da The Timber Group

OpCP80

Produtividade na prática

Fui convidado pela Revista Opiniões para apresentar minha opinião sobre o porquê da produtividade média das florestas plantadas no Brasil ter caído. Trata-se de um tema bastante amplo e interessante, que, após mais de 40 anos atuando no setor, acredito que possa contribuir com algumas ponderações.

Primeiramente, acredito que devamos destacar a questão da falta de um cadastro geral das florestas plantadas no Brasil. Os dados mais utilizados pelo setor atualmente são os publicados anualmente pela Ibá (Indústria Brasileira de Árvores). Com relação à área plantada por região tivemos uma grande evolução na precisão dos dados, com o uso de imagens satelitais. Porém, a estimativa de produtividade dos plantios ainda parte de informações enviadas pelas próprias empresas.

Esses dados são muito importantes para diversos fins, mas não creio que possam ser utilizados para uma análise mais profunda e assertiva. O uso de ferramentas de inventário florestal baseadas também em imagens satelitais no futuro vai nos ajudar a ter uma referência mais precisa e confiável para o tema.

Um outro importante ponto a se discutir se refere às diferenças entre os dois principais gêneros utilizados comercialmente no Brasil nas últimas décadas: Pinus spp e Eucalyptus spp. Parece-me que, com relação ao Pinus, não existe uma tendência de decréscimos da produtividade dos plantios. Seja pelas regiões onde esses plantios mais ocorrem (Paraná e Santa Catarina, regiões com menor ocorrência de déficit hídrico e solos mais argilosos), seja pelo constante aprimoramento do material genético disponível no mercado
(sementes, híbridos e clones), não se tem notícia de redução na produtividade dos plantios deste gênero. 

Parece-me que a discussão sobre a queda de produtividade deva ser mais direcionada aos plantios do gênero Eucalyptus. Mesmo dentro deste gênero, não tenho conhecimento de quedas de produtividade significativas nos plantios conduzidos nos estados de São Paulo e Sul do Brasil. 
 
Aparentemente, os decréscimos de produtividade estão mais concentrados nos plantios conduzidos nos estados do Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Maranhão. Um primeiro problema aqui é que a área plantada de Eucalyptus nestes estados representam mais de 60% do total plantado no País. Estas regiões também concentram boa parte dos programas de ampliação das áreas destinadas a esta cultura no País, em especial no Mato Grosso do Sul. 

Parece evidente que, nessas regiões, as variações climáticas constituem um dos fatores mais importantes para o decréscimo da produtividade. Nos últimos 30 anos, a recorrência de períodos prolongados de déficit hídrico, associados a recordes de temperaturas médias mais elevadas, teria contribuído para perdas de produtividade. Períodos com déficit hídrico sempre foram observados nessas regiões, porém a frequência e a intensidade com que têm ocorrido preocupam bastante todos os silvicultores. 

Outros problemas associados às variações climáticas que têm prejudicado a produtividade nessas regiões são a ocorrência de diversos tipos de pragas e doenças que, em condições em que as plantas apresentam alto grau de stress hídrico, se proliferam em maior quantidade e intensidade. 

Uma terceira situação que também deve ser considerada é a maior proporção de plantios manejados por talhadia (brotações). Muitos plantios realizados há 10 – 15 anos, após serem colhidos, hoje estão sendo conduzidos como brotações. Sob o ponto de vista econômico, esta opção de manejo faz bastante sentido em muitas situações.

Porém, de uma forma geral, o manejo de brotações, no qual há maior dificuldade de controle da qualidade das técnicas utilizadas em comparação com a implantação e reforma, pode representar uma menor produtividade, com consequente redução do incremento médio dos plantios como um todo.

Entendo que boa parte dos desafios aqui discutidos relacionados às variações climáticas, ataque de pragas, doenças e manejo de brotações pode e deve ser minimizada com o contínuo melhoramento genético do eucalipto. Clones mais eficientes para a produção de fibras, mais resistentes a variações climáticas e que apresentem maior resistência ao ataque de pragas e doenças estão sendo desenvolvidos pelas grandes empresas integradas.
 
Esses programas representam um grande investimento em recursos e tempo, sendo muito difícil de serem implementos em empresas de médio/pequeno porte ou mesmo por produtores independentes e fundos de investimentos. Muitos materiais genéticos largamente utilizados foram desenvolvidos há mais de 25, 30 anos. Observando o mercado de culturas de ciclo curto, como grãos por exemplo, existe o trabalho de empresas privadas especializadas no desenvolvimento e comercialização de materiais genéticos cada vez mais adaptados às mudanças climáticas. 
 
A Embrapa também conta com trabalho admirável de desenvolvimento de materiais genéticos apropriados a diversas novas situações, em especial a novas regiões de fronteira agrícola. Trabalhos semelhantes de desenvolvimento genético compartilhado podem ser observados no setor sucroalcooleiro e de citrus. 

Como podemos desenvolver mecanismos de acesso aos materiais genéticos de ponta desenvolvidos pelas empresas integradas? Como desenvolver contratos com segurança jurídica para que esses materiais possam ser plantados por diversos produtores não integrados, que, ao final, irão vender suas florestas para os grandes consumidores industriais? Desenvolvimento cooperativo poderia funcionar no setor florestal?
 
O grande diferencial de competitividade mundial da indústria de base florestal brasileira é o custo da madeira posto fábrica. Uma maior produtividade florestal, como um todo, deve contribuir para a manutenção dessa vantagem competitiva.