Chefe-geral da Embrapa Florestas
Op-CP-30
Os questionamentos sobre temas ligados às ações que devem ser consideradas para que o sistema florestal mantenha-se competitivo nos fazem refletir sobre a forma institucional de provimento e desenvolvimento de pesquisa no Brasil e qual lição proveitosa podemos tirar.
Os investimentos aplicados e que contemplam o quesito P&D&I estão estimados em aproximadamente 1% do PIB, e a pesquisa florestal não está entre as áreas mais beneficiadas. Os investimentos são baixos comparativamente àqueles de países desenvolvidos.
No Brasil, nos últimos 40 anos, os esforços privilegiaram o treinamento e a consolidação da tecnologia. Pode-se dizer que a maior conquista brasileira reside no seu capital humano.
Nas últimas quatro décadas, foram consolidados os setores de papel e celulose, energia à base de madeira, móveis, chapas de fibras, entre outros. A produtividade dos eucaliptos passou de 12 a 15 m3/ha/ano para a média nacional de 45. No caso do pinus, de 15 para 45 m3/ha/ano.
A parceria entre as instituições públicas, privadas e o setor de base florestal foi a mola propulsora que garantiu melhores resultados e otimização dos recursos materiais, financeiros e humanos. Os conhecimentos sobre silvicultura e ciências correlatas presentes nas instituições ainda é uma referência mundial.
Evoluiu-se nas diversas áreas afetas à silvicultura e que influenciam diretamente na produção sustentável das florestas, como melhoramento genético, solos e nutrição, manejo, inventário, viveiros, sementes, mudas, clonagem, técnicas de plantio, controle de pragas e doenças.
No cenário nacional, observamos que a demanda por madeira é uma realidade assustadora, pois o atendimento do déficit de madeira que é suprido pela vegetação nativa necessitaria do triplo da área atualmente plantada.
Dentro dessas perspectivas, novas fronteiras se estabelecem, atraem os investidores, mas também surgem novas demandas. Novos atores são incluídos, o tema florestal não se resume mais aos empreendimentos verticalizados.
Discute-se o “negócio florestal” nas pequenas e médias propriedades rurais, nos sistemas integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), na expansão da fronteira agrícola e nos processos da recuperação de áreas degradadas.
Na nova conjuntura, podemos constatar e afirmar que a forma de ocupação é quase idêntica àquelas praticadas nas décadas passadas, nas quais o material genético tem que ser testado, e as técnicas silviculturais, adaptadas a essa nova realidade.
Para atender a essa nova demanda, possivelmente os caminhos serão melhores, exatamente pelos conhecimentos acumulados. Devemos, sim, refletir sobre o aporte de recursos atuais.
No passado, as diretrizes, as demandas de pesquisa, as participações institucionais e o uso de recursos humanos eram discutidos de forma multi-institucional, com grandes ganhos para a ciência florestal. Dessa forma, a estratégia de desenvolvimento de projetos em rede, multidisciplinares e multi-institucionais deve ser continuamente estimulada, para que reflitam no uso racional dos recursos.
A análise com base no padrão seguido para os investimentos mundiais indica que a participação pública no aporte de recursos está entre 50% e 63% do total, enquanto os fundos internacionais colaboram com 3%, e os fundos de apoio existentes nos países investem entre 33% e 47%.
A ordem mundial indica que os investimentos europeus devem ser decrescentes, e os americanos, moderadamente ascendentes nos próximos anos. Como alerta, a situação vigente nos convoca a discutir, em conjunto, o que queremos para o sistema florestal no futuro.
Temos desafios, pessoal capacitado, recursos limitados, instituições confiáveis, programas de governo audaciosos para o setor, mas o que nos falta? Em minha opinião, há uma oportunidade para investimentos privados, há necessidade de uma estratégia comum e objetiva que nos torne ainda mais eficientes na geração de resultados e no uso otimizado dos recursos tão escassos.