Há muitas décadas, o Brasil vem tratando a sua economia com muito desrespeito. Arrisco a dizer que as premissas econômicas básicas, discutidas nas disciplinas de “Introdução à Economia”, nos cursos de Economia Brasil afora, de uma maneira ou de outra, foram negligenciadas pelos nossos governantes. Talvez até mesmo a “Matemática Básica” foi negligenciada, pois receita e despesa têm que resultar em um saldo positivo. Esse é o nosso problema básico, que é crônico. Por outro lado, somos uma sociedade anacrônica ainda “recheada de jeitinhos”.
Diante dessa situação miserável, eis que surge, então, um deputado federal, Jair Bolsonaro, que, com uma estratégia de marketing “populista”, começa a esbravejar, via tribuna do Congresso Nacional, mas, principalmente, via redes sociais. Dentre uma enormidade de assuntos lançados nas redes sociais, alguns até que caíam bem ao setor florestal, me refiro às questões ambientais, à posse da terra, à segurança jurídica no campo e até ao pequeno produtor rural. É bem verdade que esse senhor pouco se posicionou quanto às nossas questões econômicas históricas.
Note-se que, na campanha eleitoral para Presidente da República, esse senhor nunca foi enfático ao defender as necessárias privatizações, desestatizações, concessões, parcerias público-privadas, eliminação do déficit público, tudo ficou implícito na área econômica.
De forma sutil e acertadamente, seu economista, hoje Ministro da Economia, Paulo Guedes, se mostrou um grande conhecedor das Políticas Fiscal, Monetária e Cambial. Este desdobrava-se para defender uma política econômica liberal e enfatizava a necessidade de melhorarmos a nossa produtividade.
Após a posse, além de Paulo Guedes, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, incluiu no governo um componente importante: o de apoio da “Polícia Federal, Ministério Público Federal e setores do judiciário”, dessa feita representado pelo Ministro da Justiça, Sérgio Moro. Ainda na estruturação do ministério, surge o componente militar, que defende a ordem e o progresso, além dos bons costumes. Esse componente está, e deve continuar, na retaguarda. Ainda se deve destacar que governo inicia-se com o apoio dos Grupos “BBB” no parlamento, bancada da Bala, da Bíblia e do Boi.
Pode-se afirmar que, tanto na constituição do ministério como na estruturação da necessária base parlamentar, não há correlação política que assuma a agenda econômica de Paulo Guedes, o que nos leva a concluir que estamos em uma situação de alto risco.
Pois bem, estruturado o governo, vamos ao diagnóstico econômico. Como “engenheiro florestal”, me arrisco a postar, e em poucas linhas, ainda em ordem sequencial de grandeza, o diagnóstico da situação econômica do Brasil. Qual seja:
• necessidade de equilíbrio das contas públicas;
• alto e crescente endividamento público;
• alta e estável taxa de desemprego;
• PIB decrescente, com risco de 2018, e talvez 2019, ser exceção;
• PIB per capita ainda mais decrescente (2011 a 2017);
• inflação razoavelmente baixa, porém com leve crescimento nos primeiros meses de 2019;
• taxa de juros estável e baixa, quando comparadas com nosso passado recente;
• carga tributária alta, tanto na folha de pagamento, como na produção e na comercialização;
• baixa utilização da capacidade instalada de alguns setores produtivos;
• baixa ou inexistente capacidade de investimento governamental.
Não precisamos de mais problemas econômicos. No entanto, mesmo o Governo Bolsonaro cortando gastos federais de forma exemplar nos primeiros meses de governo, parece-me que se está apostando na aprovação da Reforma da Previdência como sendo a única medida para solucionar a maioria dos nossos problemas econômicos. Novamente com o jogo político em plena posta marcha no Congresso Nacional, estamos diante de uma outra situação de risco.
Não bastasse essa situação, o mercado internacional nos observa, nos analisa e só investirá fortemente aqui se tivermos estabilidade política e, por consequência, estabilidade econômica. No fundo, parece que nos falta credibilidade, se é que um dia a tivemos. Mas o que isso tudo tem a ver com o setor florestal nacional?
Bem, não devemos nos esquecer de que o setor florestal foi alavancado, há aproximadamente 50 anos, pela Lei de Incentivos Fiscais ao Reflorestamento. Também não devemos nos esquecer de que grandes grupos internacionais foram chamados a investir em projetos de base florestal no Brasil. Na mesma época, alguns grupos nacionais inseriram-se no setor, muitos com benefícios creditícios. Esses fatos, de certa forma, expressam que o setor florestal se desenvolveu com sua base econômica sustentada pelo Estado.
Por outro lado, muitos negócios florestais surgiram, dessa vez com pouco, ou até nenhum, subsídio governamental. Inúmeros são os empreendimentos viáveis economicamente, temos grandes exemplos nacionais e até internacionais. Também é fato que temos grandes profissionais, grandes pesquisadores, grandes empreendedores no setor. Temos muitos exemplos.
Atualmente, estamos diante de vários problemas, pois nos falta mão de obra qualificada nas prestadoras de serviço, nos falta tecnologia no desenvolvimento de máquinas e equipamentos, temos processos de licenciamentos ambientais extremamente burocráticos, temos que nos livrar das amarras governamentais. Pasmem, ainda temos a necessidade de registro de motosserras, muito utilizadas nos sistemas manuais e semimecanizados de colheita. Estamos diante de, dessa vez verdadeiros, “apagões florestais” regionais.
Por que ainda estamos diante dessas situações? Provavelmente porque negligenciamos, em cada muda, em cada hectare, em cada desbaste, em cada corte raso, em cada transporte, em cada indústria e em cada comercialização, a oportunidade de construir um setor florestal brasileiro produtivo, no real sentido da palavra, de forma que este atenda às demandas nacionais e amplie a nossa base de exportação, repito, sem as benesses do setor público. Claro que não negligenciamos o nosso desenvolvimento correto e de forma unânime, mas deixamos muita coisa ser estruturada de forma errada no nosso setor. Faltou-nos posicionamento político.
Pois bem, como ficam as perspectivas econômicas do investidor independente? Entende-se que o termo independente tenta demonstrar a necessidade de se ter um setor florestal sem amarras governamentais, sem benesses fiscais (política fiscal) e creditícias (política monetária) e, por que não acrescentar, sem benesses à exportação (política cambial). Todas setoriais, é claro. Temos que pôr fim aos subsídios governamentais. O nosso país quebrou e quebrou por causa desse tipo de política.
O reflorestamento tem que ser compreendido como um negócio independente do setor público, seja ele de capital nacional ou internacional. Chegou a hora de:
• as universidades melhorarem suas funções de ensino, pesquisa e extensão. Agora, elas devem ajudar a alavancar a economia, com mais produtividade e a partir da base teórica da inovação;
• a inovação se dar a partir do “Triângulo de Sábato”,
onde o Estado, as universidades e as empresas devem andar juntas. Entende-se por empresa do setor florestal um escritório de engenharia florestal de um recém-formado até uma grande corporação de base florestal;
• a ciência, a técnica e a arte de executar andarem juntas. De nada adiantam projetos de pesquisa esplêndidos, desenvolvimento tecnológico high tech, se, na prática, não se aplicam. Precisamos projetar florestas com base em tecnologias úteis e produtivas;
• o profissional da engenharia florestal se inserir no mercado de trabalho com a visão de empreendedor e não de “empregado”;
• os investimentos florestais terem resultado econômico e em todos os níveis.
Não podemos esperar resultados diferentes agindo da mesma forma. Estamos em situação de risco, é hora de nos desamarrarmos do Estado. Temos que aproveitar este momento, e este governo somente tem que nos dar as condições de estudar, trabalhar e empreender. Por um setor florestal independente do Estado e muito mais independente dos governos, seja ele qual for.