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Pedro Rafael Lapa

Diretor de Gestão de Desenvolvimentodo Banco do Nordeste

Op-CP-10

Oportunidades e desafios dos pólos de desenvolvimento florestal no nordeste

No momento em que os temas ambientais estão sendo intensamente discutidos, sobretudo em função das interferências climáticas na relação homem e natureza, é inadiável o debate sobre formas de utilização dos recursos ambientais, considerando aqui o triplo desafio que o conceito de sustentabilidade aponta: ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente equilibrado.

Neste sentido, um dos temas emergentes refere-se às atividades econômicas de base florestal, segmento que vem crescendo no mundo inteiro e que se apresenta como alternativa relevante para o desenvolvimento territorial, em todas as regiões do país. No Nordeste, a delimitação e implantação de pólos de desenvolvimento florestal, mais do que uma alternativa para atração de empresas ligadas ao setor (que compreende as indústrias madeireira, moveleira, de papel e celulose e seus derivados), representa também uma possibilidade de reversão de indicadores sociais e de dinamização de subespaços, economicamente deprimidos e ambientalmente degradados.

Adicionalmente, a delimitação de tais pólos, em bases socialmente inclusivas, abre perspectivas para que a região ofereça produtos e serviços florestais, oriundos dos produtores de base familiar. Publicações recentes informam que as cadeias produtivas relacionadas com florestas respondem por 5% do PIB brasileiro, geram 7,2 milhões de empregos diretos e indiretos e uma receita anual de R$ 20 bilhões. Tais cadeias recolhem, anualmente, R$ 3 bilhões de impostos e respondem por 7% das exportações, com grande potencial de expansão.

Em consonância com este movimento, destaque-se o trabalho que vem sendo realizado no Piauí, onde o Governo do Estado, a partir de estudos elaborados pela Codevasf, Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, e em parceria com outras instituições, a exemplo do Banco do Nordeste, estima gerar cerca de 9 mil empregos, através do Programa de Desenvolvimento Florestal do Vale do Parnaíba.

Implementado no Alto e Médio Parnaíba, o Programa consiste em preservar o meio ambiente, estimulando o plantio do eucalipto em áreas degradadas, para produção de papel e celulose. A expectativa é alcançar uma área plantada de 500 mil hectares de florestas e estabelecer um parque industrial composto de fábricas de celulose, de serrados e de outros produtos de maior valor agregado de madeira.

O Programa visa atrair investimentos da ordem de R$ 4 bilhões, nos próximos 10 anos, e sua divulgação vem despertando interesse de fundos de investimento estrangeiros e empresas de grande porte, que devem funcionar como âncoras. A dinamicidade do setor florestal pode ser percebida também pelo aumento da demanda recente de crédito junto ao Banco do Nordeste. O BNB vem ampliando sua participação junto ao setor, tanto na disponibilização de recursos, quanto no apoio à organização da cadeia produtiva, por meio da sua atuação territorial.

Até 2003, o volume de negócios ligados ao segmento florestal era pouco significativo, mas, só no período de 2005 a 2007, foram investidos mais de R$ 120 milhões, através dos programas FNE Rural e FNE Verde. Em que pese este incremento recente, o volume de aplicações ainda está aquém do potencial apresentado pela região para o desenvolvimento de atividades florestais, nos estados da Bahia e do Piauí, no norte de Minas Gerais e Espírito Santo.

No que tange ao desenvolvimento territorial, a atuação do banco está focada na mobilização e integração de grandes e pequenos produtores, com vistas à formação de redes de negócios, transferência de tecnologias, abertura de canais de comercialização, adoção de soluções logísticas compartilhadas e qualificação profissional, aspectos essenciais para garantir o retorno do crédito e, principalmente, para assegurar a sustentabilidade dos empreendimentos.

Todavia, não se pode esquecer, que as temáticas ligadas à atividade florestal ainda são polêmicas, quanto aos seus reais impactos provocados, sob diferentes óticas. Ao lado dos evidentes ganhos econômicos, a questão dos impactos ambientais ainda gera controvérsias e carece de aprofundamento, tendo em vista, sobretudo, os aspectos ligados à implantação de monoculturas, esgotamento de solo e redução da biodiversidade, como ressaltam alguns estudos dedicados ao tema.

Adicionalmente, os marcos regulatórios e as questões relativas ao licenciamento e à fiscalização apontam para a necessidade de providências imediatas, que garantam a almejada sustentabilidade. O BNB, como instituição voltada ao desenvolvimento regional, está comprometido com a qualificação dos debates, visando ampliar o potencial econômico do setor e minimizar as externalidades negativas.

Além do crédito diferenciado, o banco aloca recursos específicos para a realização de pesquisas e adota políticas de concessão de crédito, voltadas para a minimização dos impactos socioambientais dos empreendimentos. Observa-se, portanto, que as atividades econômicas de base florestal apresentam-se como alternativas promissoras para a dinamização econômica, mas requerem a estreita observância de aspectos sociais e ambientais – premissa da ação de desenvolvimento e determinantes para o êxito das iniciativas. Neste sentido, é fundamental que empresas públicas e privadas, órgãos de fomento e pesquisa, movimentos sociais e organizações civis unam esforços para a definição dos marcos de sustentabilidade, que orientem a definição e a consolidação de pólos florestais, na região.