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Franc Mauro Roxo

Diretor Geral da Remsoft

OpCP78

O protagonismo do planejamento, agora mais que nunca
É sabido que o planejamento florestal é marcado pelo fato de trabalhar com ativo biológico (que, por si só, muda ao longo do tempo) e com a tarefa de, em linguagem simples, gerar planos que resultem na madeira certa, na quantidade necessária, no momento que se precise, de forma econômica e sustentável.
 
Em linhas gerais, podemos dizer que o planejamento é dividido em três pilares principais, conforme seu horizonte: Estratégico (longo prazo), Tático (médio prazo) e Operacional (curto prazo). Esses, de forma ideal, funcionando de forma conectada e harmonizada. Muitas decisões críticas permeiam nesses pilares e, dentre algumas delas, podem-se mencionar:
 
• Terras: Comprar, arrendar, fomentar? Quais, quanto, onde, quando, a que preço? 
• Plantio: Onde, que material genético, quanto e quando?
• Manejo: Reformar ou conduzir? Quais talhões, quando? Compensa fazer desbaste? Como?
• Colheita: O quê, quando, onde, como? Está em harmonia com a malha de estradas?
• Transporte: Para onde transportar? Quais melhores rotas?
• Alocação: Quais melhores origens e destinos para a madeira e seus subprodutos?
• Pátios intermediários: São viáveis? Que capacidade, quantos, onde?
• Madeira: Comprar ou vender? Quando, o quê, onde, preço, como (em pé, posto fábrica)?
• Crescimento: Localização de fábricas futuras, onde, que capacidade? Ou expansão?
• Balanço de carbono: Somos carbono neutro/positivo, ou quando seremos? Como alcançar?
• Ativos: Como o valuation da floresta responde à mudança de cenários e restrições? Como maximizá-lo?
• Restrições: Como lidar com restrições de clima, solo, sociais, ambientais, geográficas, orçamentárias?
 
Olhando mais de perto no âmbito do planejamento operacional, questões importantes surgem, tais como:
• Como está a produção em relação ao que preciso? Cumprirei minha meta?
• Estou com as melhores equipes, no momento certo e nas áreas certas?
• Com base nos dados reais, onde preciso fazer alterações em meu plano?
• Tenho capacidade adequada de colheita e transporte? Estão dentro do orçamento?
• Os pátios estão com nível adequado de estoque? 
• Há como ajustar o fluxo da madeira, para melhorar a eficiência do abastecimento?
• Estamos cumprindo as metas de margem? Como melhorar?
• Que fazer em caso de desvios ou imprevistos? Posso prever, identificar e agir rápido?
• Quais unidades preciso programar ou reprogramar? E quais serão os impactos?
• Tenho disponibilidade para vender? Ou vou precisar comprar? 
 
O planejamento também está exposto, direta ou  indiretamente, a um amplo espectro de variáveis externas tais como mudanças de mercado, preço de terras, questões fundiárias, variações climáticas, apelo a metas de carbono, alterações no quadro político e econômico e seus reflexos em taxas de juros, câmbio, política tributária, infraestrutura, formação profissional, dentre outros.
 
Estamos presenciando um grande movimento de empresas florestais em direção a processos de planejamento cada vez mais inteligentes e integrados, buscando harmonizar os horizontes de longo, médio e curto prazos. Muitas delas analisando, mensalmente, centenas de cenários de planejamento. Diante disso, nos perguntamos: o que é necessário para o planejamento florestal continuar entregando o que precisa daqui para frente? 
 
Como ponto de partida, é fundamental haver clareza em relação a objetivos básicos. Aqui me refiro ao “como” queremos estar e “quando” queremos que isso aconteça? Em planejamento, “como” e “quando” têm relação direta a objetivos norteados pela empresa, os quais são traduzidos em metas comumente relacionadas a disponibilidade de madeira e possíveis sortimentos, níveis de abastecimento, custos, receitas, balanço de carbono, dentre outros, que são definidos ao longo de um horizonte de planejamento. 
 
Mesmo que pareça ser elementar, nem sempre é. Quantos hoje balizam seus planos ao teto de lucro presumido e que terão de se adaptar a uma nova realidade trazida pela reforma tributária? Sem falar daqueles projetos que estão na dependência de uma melhor taxa de juros para destravar a aprovação, mas cuja taxa demora a acontecer.

E as oportunidades não mapeadas que aparecem no meio do caminho, para fusão, aquisição, desinvestimento? E o que dizer em relação às metas de carbono que passam a integrar os planos de diversas empresas florestais e a influenciar o planejamento? Ou seja, é esperado que o “como” e o “quando” sejam passíveis de revisão, desde que se preserve a clareza desses objetivos.

Isso significa que a dinâmica do planejamento florestal é bastante intensa, seus resultados podem ser refletidos de forma expressiva em, por exemplo, valuation da floresta, preço da madeira, custo do carvão vegetal, margem da celulose, papel, aço, resinas, biomassa, viabilidade de projetos de carbono etc.
 
Se, por um lado, hoje estamos avançando em processos de planejamento e tecnologias para obtenção e armazenamento de dados do campo, por outro temos ainda importantes gargalos. Sem sombra de dúvidas, hoje um desses é a disponibilidade de profissionais de planejamento. Colocar as tecnologias e o conhecimento ao alcance dos profissionais de planejamento, e mantê-los, tem sido tarefa dolorosa para muitos. O desafio humano para o planejamento está enorme, como nunca antes.

Nossas equipes estão preparadas? O mercado de formação profissional está atendendo à demanda? Ou há algo a ser feito para se evitar um colapso humano ali na frente? É sabido das dificuldades enfrentadas pelas nossas universidades, que de certa forma são mitigadas pelo papel louvável e, muitas vezes, heroico de professores e profissionais de instituições de ensino.

Como se não bastasse, testemunhamos a queda na procura pelas vagas disponibilizadas por universidades na área florestal de nosso país. Estamos diante da enorme necessidade de estabelecer a constância de entrada de um fluxo mínimo de novos profissionais de planejamento ao mercado. Também de grande valor, impulsionar o fomento ao encontro do planejamento, para troca de experiências e melhores práticas.

A deficiência de pessoas pode estar sinalizando para a necessidade de um esforço conjunto entre empresas de base florestal, fornecedores e universidades, cujo fruto será em benefício amplo para toda a cadeia. Outro importante aspecto a analisar é o avanço sendo feito na esfera de coleta e banco de dados, mas que precisa continuar.

Mais e melhores dados enriquecem resultados do planejamento, e também criam uma verdadeira mina de ouro, por exemplo, para a inteligência artificial. É necessário e urgente continuar com os avanços nessa jornada digital, que requer a adoção de sistemas de planejamento ágeis, inteligentes e integrados.

O protagonismo do planejamento florestal, que já é enorme, será ainda maior daqui para frente. Para que possa estar no patamar necessário, dependemos que seja integrado, inteligente, com processos definidos e amparado por pessoas capacitadas.