Nos últimos anos, o emprego dos bioinsumos vem apresentando grande evolução no mundo, tendo o Brasil uma posição de destaque, em função de sua vocação agroflorestal, seu tamanho, biodiversidade e investimentos privados e públicos.
Eles estão vindo para transformar estratégias relacionadas, principalmente, ao controle de pragas e doenças, à nutrição vegetal e até a resistência à seca. No entanto, na maioria das vezes – e especialmente no setor florestal – o sucesso dos bioinsumos depende de integração com as diversas práticas de manejo, sendo que a principal meta a ser alcançada é a resiliência da cultura.
Algumas razões, para que essa integração tenha papel de destaque na silvicultura, são o ciclo longo da cultura, a grande extensão das plantações e a diversidade tanto biótica (pragas, inimigos naturais etc.) quanto abiótica (solo, clima etc.). Enquanto em certas culturas agrícolas é sustentável realizar aplicações de insumos químicos e biológicos com frequência mensal ou até semanal, na silvicultura isso é pouco viável, com raras exceções, como são as aplicações de herbicidas nos primeiros anos, de formicidas nos primeiros meses, de desenvolvimento da plantação florestal; assim como em casos pontuais de controles químicos e ou biológicos de pragas.
Na silvicultura, mais do que na agricultura, os bioinsumos precisam contar com a contribuição do controle biológico natural, do controle cultural e, algumas vezes, até do controle químico para o manejo de pragas. Assim, deve ser considerado o planejamento das áreas de conservação, fontes de biodiversidade e, consequentemente, do controle biológico natural. Também é necessário contar com o melhoramento genético e nutrição florestal, que conferem resistência às pragas, além de considerar todas as interações com produtos químicos aplicados e operações realizadas.
Só o eucalipto, principal base da silvicultura no Brasil, tem dezenas de pragas potenciais. Por outro lado, existe um número ainda maior de inimigos naturais dessas pragas. Sendo assim, a principal estratégia é manter ambos coexistindo em equilíbrio na plantação, onde os bioinsumos representam um recurso de reserva, preferencial aos insumos químicos, por serem mais específicos para a praga-alvo e porque não afetam os inimigos naturais.
O sub-bosque das florestas plantadas poderia ser outra fonte de biodiversidade capaz de interagir positivamente com os bioinsumos. Contudo, nos moldes atuais, ele prejudica a produtividade e aumenta a severidade dos incêndios. Estudos ainda precisam ser conduzidos para avaliar sua viabilidade, embora existam exemplos positivos na agricultura, não exatamente com o sub-bosque, mas com o consórcio de culturas com outras espécies vegetais que, de certa forma, podem até ser consideradas bioinsumos.
No caso dos bioinsumos voltados a conferir resistência ao estresse hídrico, não adianta investir nessa tecnologia, sem realizar o trabalho de base, que inclui selecionar um material genético adequado à região. Da mesma forma, não adianta investir em bioinsumos, para controle biológico de pragas e, ao mesmo tempo, adotar práticas químicas cujo princípio ativo, formulação ou método de aplicação possa comprometer a efetividade dos bioinsumos,por não conservar os inimigos naturais e microbiota benéfica do solo e da planta, que se somam para obter o controle das pragas e/ou a resiliência da plantação florestal.
A interação dos bioinsumos em todo o manejo é complexa, mas precisa ser considerada. Há exemplos em que o controle químico de uma praga, além de apresentar eficácia duvidosa, atrapalhou a ação dos bioinsumos e outros em que a integração entre insumos biológicos e químicos foi essencial. Um bom exemplo ocorreu há cerca de 20 anos, quando o gorgulho do eucalipto, Gonipterus sp., surgiu nas plantações de eucalipto do Estado do Espírito Santo, desacompanhado do seu principal inimigo natural, a microvespa parasitóide Anaphes nitens.
Nessas condições, a praga expandiu sua ocorrência e densidade populacional, provocando danos econômicos. Na época, a estratégia adotada foi aplicar um inseticida químico (piretroide, deltametrina) nas áreas de maior infestação e liberar o parasitoide, criado em laboratório, nas áreas menos infestadas, que não sofreriam danos expressivos. Essa estratégia contou com outra operação essencial: o monitoramento, que permitiu identificar e quantificar as áreas a receberem cada tratamento.
A cada nova geração da praga, diminuía a quantidade de áreas com sua alta densidade populacional e aumentava a presença do inimigo natural, reduzindo gradativamente o uso do controle químico e ampliando a liberação do inimigo parasitoide, até o químico poder ser dispensado e, posteriormente, até o biológico. Essa ação de controle do Gonipterus é um exemplo de sucesso do “controle de biológico clássico”, que envolve a introdução do inimigo natural.
Assim, no controle biológico de pragas em áreas florestais, a prioridade deve seguir a ordem: controle conservativo, controle clássico e, por último, o controle aumentativo, que consiste na introdução de inimigos naturais em grande quantidade, para obter controle rápido da praga e evitar danos econômicos. O controle aumentativo ocupa a última posição, devido aos aspectos econômicos e operacionais de aplicação, especialmente no caso de macros bioinsumos (insetos inimigos naturais), cuja produção em escala é difícil. Neste aspecto, microrganismos como bactérias e fungos apresentam grande vantagem, assim como os bioinsumos de nova geração, baseados em moléculas e substâncias orgânicas.
Sabe-se que a nutrição florestal pode favorecer ou desfavorecer o surgimento de focos de pragas e doenças. Tanto deficiências quanto excessos, geralmente, contribuem para a ocorrência de focos. Outros fatores de estresse também podem desencadear questões fitossanitárias. Nesse sentido, a contribuição dos bioinsumos tende a ser positiva, seja pelo fornecimento complementar de nutrientes m menores taxas e por períodos mais longos, seja pelo melhor desenvolvimento das raízes ou pela maior resistência ao déficit hídrico, dentre outros benefícios.
Concluindo, o emprego de bioinsumos na área florestal precisa começar pela conservação deles próprios e do ambiente como um todo e avançar para a interação positiva com todos os outros insumos e operações florestais, visando, acima de tudo, a resiliência e o equilíbrio. Afinal, os inimigos da produção e da qualidade estão no campo, apenas esperando que esse equilíbrio se rompa.