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Philipe Ricardo Casemiro Soares

Professor de Economia e Gestão Florestal da UDESC

Op-CP-52

Gestão da qualidade
A gestão da qualidade é um tema relativamente recente no setor florestal, especialmente quando consideramos as atividades silviculturais e o manejo de povoamentos florestais. Apesar das primeiras ações voltadas para o tema terem sido observadas na década de 1980, grande parte das empresas das diversas regiões brasileiras passaram a se preocupar com a qualidade voltada para o processo mais recentemente.

Esse fato está especialmente relacionado à falta de uma “receita de bolo” para a gestão da qualidade, bem como à dificuldade de adaptação das ferramentas e das metodologias desenvolvidas em ambientes mais controlados (indústrias de processamento) à realidade vivenciada nas plantações florestais, cujos resultados dependem, além do maquinário e da técnica utilizados, das condições edafoclimáticas, do material genético utilizado, dentre outros fatores mais difíceis de serem controlados.
 
Também contribui para a dificuldade na implementação da cultura da qualidade, especialmente para pequenos produtores, o pensamento comum no país do futebol de que “em time que está ganhando não se mexe”. Tal prática ainda é comumente observada quando conversamos com produtores florestais, que executam suas atividades conforme a tradição ou porque a propriedade rural vizinha está obtendo resultados satisfatórios, não levando em consideração as diferenças de sítio e/ou temporal.

Muito dessa realidade está relacionada ao pequeno número de pesquisas documentadas que comprovam a eficiência e a economia da adoção de diferentes metodologias voltadas à gestão da qualidade no setor florestal, especialmente nas áreas de plantações florestais, bem como que os resultados dos estudos existentes cheguem aos produtores. O que observo atualmente é um pequeno número de pesquisadores nas universidades e institutos de pesquisa que buscam desenvolver o tema. 
 
Apesar desses desafios que estão sendo superados, as empresas florestais estão identificando a importância de investimentos na área de qualidade de processos, estudando e implementando metodologias e ferramentas com foco em atender às necessidades de seus clientes, sejam eles internos ou externos.

Nesse contexto, destaca-se também a importância do papel do cliente interno da organização, sendo que, em sua gestão, deve-se levar em consideração que a empresa é um sistema aberto, onde se observa internamente uma relação fornecedor-cliente entre seus diversos setores ou departamentos, como é o caso da colheita florestal que, além de fornecer madeira, disponibiliza a área para posterior implantação ou condução de um novo povoamento florestal.

Ainda sobre a colheita florestal, em função de sua contribuição para os custos da empresa, é nessa atividade que geralmente são observados os primeiros esforços na adoção de programas da qualidade, que posteriormente são difundidos por todo o processo silvicultural. 
 
A implementação da gestão da qualidade nas empresas florestais deve se iniciar com o conhecimento do processo e um planejamento detalhado, objetivando a melhoria da sua situação atual, o que deve se tornar uma rotina. Essa filosofia, iniciada no Japão com o nome Kaizen, busca a melhoria contínua da organização. Na sequência, o planejamento deve ser executado, verificado e corrigido quando necessário, visando atingir um nível de qualidade satisfatório em função das condições e recursos disponíveis. No popular, estamos “rodando” um ciclo PDCA (Plan - Do - Check - Act). Vale destacar que é nessa fase que buscamos adaptar as metodologias às peculiaridades observadas nas empresas do setor. 
 
Dentre as ferramentas e as metodologias mais utilizadas e estudadas, podemos destacar aquelas voltadas para a avaliação de riscos e de não conformidades, bem como para o desenvolvimento de produtos e processos com foco nas necessidades dos clientes. Visando à motivação na continuidade e na comprovação do sucesso da implementação da qualidade do processo, é importante que as empresas monitorem seus custos relacionados à qualidade por meio de indicadores, tradicionalmente divididos nas categorias de avaliação, prevenção e falhas, destacando-se que, quanto maior o investimento nas duas primeiras categorias, menores serão os custos relacionados às falhas ou não conformidades observadas nos processos, gerando impacto positivo sobre a satisfação do cliente.
 
Além dessas medidas de custos, complementadas por variáveis relacionadas à receita, que avaliam a performance financeira da implementação da gestão da qualidade, é fundamental a definição de indicadores de desempenho que avaliem o processo produtivo, de forma a descobrir desvios, permitindo que as ações corretivas sejam prontamente executadas. 
 
Nesse sentido, as empresas do setor estão adotando inúmeras medidas que permitem acompanhar e manter seus processos sob controle, também existindo a possibilidade de avaliação da satisfação dos clientes e dos colaboradores. No entanto deve-se atentar para a qualidade e a quantidade de indicadores, de forma a não inviabilizar técnica ou economicamente a gestão da qualidade. 
 
Alcançado o nível de qualidade desejável, a padronização das atividades por meio do desenvolvimento de procedimentos operacionais deve ser utilizada para manter a empresa dentro dos padrões previamente definidos, passando, assim, para um ciclo SDCA (Standard - Do - Check - Act), até que uma nova melhoria seja possível, situação em que voltamos novamente ao planejamento. 
 
Dessa maneira, apesar de o cenário estar se tornando cada vez mais favorável à qualidade no setor florestal, ainda existem muitas barreiras que as grandes organizações e, especialmente, os proprietários rurais devem superar para que possamos avançar cada vez mais com o desenvolvimento da gestão da qualidade no setor florestal, permitindo a implementação e a adaptação de metodologias mais avançadas, como observamos em diversos setores da economia, atendendo às necessidades da ampla gama de clientes de uma empresa atuante no setor florestal.