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Wilson Reis Filho

Pesquisador da Epagri/Embrapa Florestas

Op-CP-35

Formigas cortadeiras em plantio de pinus

As formigas cortadeiras dos gêneros Atta (saúvas) e Acromyrmex (quenquéns) destacam-se pela importância econômica por cortarem e carregarem folhas e outras partes vegetais para os seus ninhos. As espécies de Acromyrmex são reconhecidas por apresentarem de quatro a cinco pares de espinhos na parte dorsal do tórax, enquanto as saúvas possuem somente três pares.

A aparência externa dos ninhos de Atta e Acromyrmex também serve para diferenciar os dois gêneros e auxilia na identificação das espécies. O exterior dos ninhos das saúvas é constituído por um monte de terra solta, enquanto o interior é composto por várias câmaras resultantes da escavação do solo. No caso das quenquéns, os ninhos são mais difíceis de serem encontrados, porque são pequenos, geralmente formados por uma só câmara, e a terra solta pode aparecer ou não na superfície do solo.

Em algumas espécies de Acromyrmex, os ninhos são superficialmente cobertos de palha, fragmentos e outros resíduos vegetais, além de terra, enquanto em outras os ninhos são subterrâneos, sem que se perceba a terra escavada. Em florestas plantadas, encontram-se relatos de que as formigas cortadeiras podem, devido à sua alta capacidade de proliferação e voracidade, causar prejuízos de até 30% do custo da floresta no final do terceiro ciclo.

O cultivo de espécies do gênero Pinus no Brasil está particularmente mais concentrado na região Sul, onde o clima é mais ameno, registrando-se temperatura abaixo de zero durante o inverno. A ocorrência de espécies de formigas cortadeiras de importância econômica para o cultivo florestal nessa região é mais restrita do que nas demais regiões do País.

Entre as espécies de ocorrência mais frequentes estão Atta sexdens piriventris, Acromyrmex aspersus, Acromyrmex crassispinus, A. subterraneus subterraneus, entre outras, mas a predominância de Acromyrmex crassispinus (quenquém-de-cisco) é altamente relevante, chegando, em alguns plantios de Pinus na região norte catarinense, a alcançar 95% de prevalência em relação às outras espécies.

O ataque da espécie A. crassispinus pode ocasionar diferentes níveis de desfolha em mudas de Pinus recém-plantadas, podendo desfolhar até 100% e cortar o meristema apical, o que pode causar a morte das plantas. A porcentagem de plantas atacadas diminui nos meses subsequentes ao plantio, provavelmente devido ao aparecimento da vegetação nativa, que fornece mais opções para o forrageamento dessas formigas.

Desse modo, o ataque de A. crassispinus que pode causar prejuízos às plantas de P. taeda ocorre nos primeiros meses de idade do plantio, com maior impacto nos primeiros 30 dias. Em média, 7,5% das mudas recém-plantadas morrem por ataques de formigas em áreas de reforma do plantio sem combate às formigas, onde, antes do corte raso, tenha sofrido poda e desbastes. Caso contrário, em floresta de Pinus sem poda nem desbaste, quando colhida, não há ocorrência de A. crassispinus, não justificando o seu controle em momento algum do novo ciclo florestal, a não ser nas áreas fronteiriças com os vizinhos, com áreas de APP e/ou de RL.

Após o primeiro ano de idade do plantio, se instalam novos ninhos de formigas cortadeiras nessas áreas, e a eliminação total da vegetal nativa, mesmo quando a floresta já estiver com três anos de idade, pode acarretar em ataque de formigas às plantas de Pinus. No entanto os ataques a partir dos 24 meses não são significativamente prejudiciais ao desenvolvimento das plantas.

Em plantios de Pinus que se aproximam dos seis anos de idade, observa-se que os ninhos de A. crassispinus começam a definhar devido às condições impostas pelo fechamento do dossel da floresta, deixando, além das árvores de Pinus, somente um “colchão” de acículas secas. Isso explica porque não são encontrados formigueiros dessa espécie em florestas de Pinus próxima da colheita, quando o plantio não sofreu poda nem desbaste.

Nesse caso, se, entre a colheita e o novo plantio, não ocorrer revoada dos reprodutores dessas formigas, o que, em maior quantidade, ocorre na primavera, o combate poderá ser amenizado e realizado de maneira localizada somente nas faixas fronteiriças com as áreas vizinhas.

Em plantios que sofreram poda e desbaste, há ocorrência de alguns ninhos de A. crassispinus, havendo necessidade do combate das formigas cortadeiras entre a colheita dessa área e o novo plantio, realizando-se um repasse para o controle localizado dentro de 30 dias do plantio. Após o plantio, o controle de formigas só deve ser feito quando realmente necessário. Assim, existe uma tendência atual, em reflorestamentos do Sul do Brasil, de conviver com formigas cortadeiras durante a fase de crescimento e maturação da floresta de Pinus.

O monitoramento baseado na presença de ninhos de formigas cortadeiras e/ou plantas cortadas indica a necessidade ou não de controle. A utilização de isca granulada é recomendada na quantidade de 5 gramas por ninho de Acromyrmex ou de 8 a 10 gramas por m2 de terra solta, no caso de Atta (saúva).

 A redução dos custos no combate às formigas cortadeiras em plantios de Pinus deverá levar em conta o manejo florestal e a duração do período entre o corte raso e o novo plantio, podendo haver casos, em determinados talhões, em que o combate não seja economicamente justificável. A utilização de isca granulada continua a ser o meio mais empregado para combater essas pragas, mas o uso sem levar em conta os aspectos já mencionados certamente levará a superdimensionar o problema e elevará os custos para combatê-las.