A silvicultura brasileira é uma das mais produtivas do mundo. Ainda assim, enfrenta uma disputa silenciosa: competir por terras e por recursos financeiros em um país de altas taxas de juros e agricultura vigorosa.
O setor florestal brasileiro pode ser dividido em dois segmentos distintos: florestas plantadas e manejo florestal sustentável. O primeiro está baseado no cultivo de árvores em larga escala para suprir mercados e indústrias de base florestal, como celulose e papel, bioenergia, serrarias, painéis, entre outras.
O manejo florestal sustentável tem como desafio viabilizar o uso racional dos valiosos recursos das nossas florestas tropicais, procurando equilibrar as operações de colheita de madeira com a conservação da biodiversidade e o equilíbrio do ecossistema. É um tema complexo e fascinante, mas neste artigo o foco está nas plantações florestais.
Pode-se dizer que o setor de florestas plantadas faz parte do agronegócio. Em algumas estatísticas os indicadores são considerados, encorpando ainda mais os números; já em outras, o setor é tratado de forma independente.
É importante relembrar que a base florestal plantada no Brasil se iniciou com a famosa Lei nº 5.106/66, conhecida como a Lei de Incentivos Fiscais. De forma bem resumida, para o entendimento das gerações deste milênio, o imposto federal devido à época por pessoas físicas ou jurídicas podia ser abatido e aplicado em projetos florestais para plantio de eucalyptus, pinus, araucária e outras espécies. Com isso, ao longo das décadas de 1960 a 1980, muitas florestas plantadas começaram a surgir, algumas bem conduzidas, outras nem tanto. Para controlar a atividade, foi criado em 1967 o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, o IBDF, vinculado ao Ministério da Agricultura.
Em 1989, o órgão foi incorporado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, IBAMA, junto com as áreas de pesca e borracha. Foi assim que o setor florestal, mesmo com sua vocação produtiva, passou a ser responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente.
Os benefícios da Lei de Incentivos Fiscais foram sendo gradativamente substituídos por outros mecanismos financeiros menos interessantes ao mercado e, antes mesmo da extinção do IBDF, foram descontinuados. Entre erros e acertos técnicos e econômicos, essa política pública ajudou a iniciar de forma consistente a formação da nossa base atual de florestas plantadas, que também permitiu que a indústria de base florestal migrasse da utilização de espécies nativas para madeira cultivada, alinhando-se com os conceitos de sustentabilidade e preservação dos renascentes de florestas nativas, principalmente no Sul e Sudeste (Bioma Floresta Atlântica).
Naquela época, portanto, o custo de formação florestal era subsidiado pela renúncia fiscal, e o custo da terra, em comparação com o que é hoje, era significativamente inferior. Obviamente a produtividade de madeira era muito mais baixa, ainda sem os incrementos do melhoramento genético, mas o custo da madeira em pé era realmente baixo, o que beneficiou a indústria de base florestal na substituição do uso de madeira de florestas nativas pela madeira de espécies exóticas cultivadas.
Nos dias atuais, a Silvicultura brasileira é mundialmente reconhecida por sua competitividade, produtividade e qualidade. Obtivemos avanços tecnológicos exponenciais em melhoramento genético, fisiologia, técnicas operacionais, gestão, manejo etc. Pode-se afirmar que a nossa silvicultura é uma “agricultura de árvores”, obviamente com um ciclo mais longo que as culturas agrícolas anuais.
E é aqui que o desafio de se provar realmente competitiva se apresenta: para plantarmos florestas, concorremos por terras com a pecuária extensiva e com a agricultura. Já saímos perdendo a disputa justamente na duração do ciclo das árvores; entre o investimento na implantação, que concentra os maiores custos no início do ciclo, e a colheita da madeira, que irá gerar a receita lá no fim do período, precisamos assumir que as altas taxas de juros praticadas no nosso País podem inviabilizar o investimento.
Austeridade nos custos de implantação e manutenção e preços de madeira condizentes com o investimento realizado tantos anos antes, além de alta produtividade florestal, são primordiais para a viabilidade do projeto florestal. Isso significa que o “custo do dinheiro no tempo” precisa ser compensado com uma margem líquida adequada, remunerando o investimento com uma taxa de retorno adequada ao perfil do negócio.
Até aqui, falou-se de silvicultura (custo de formação florestal), mas agregada a ela há o custo da terra, seja por aquisição, parceria rural ou arrendamento. A negociação das terras, especialmente para arrendamento, gera certa insegurança aos proprietários rurais, que permanecerão por um longo período com suas terras arrendadas por um valor fixo, apenas corrigido por algum índice de inflação.
Quando ele decide arrendar sua terra para culturas anuais, pode eventualmente obter valores mais interessantes em ciclos mais curtos. O antigo mito de que plantar árvores inviabiliza a futura conversão para uso agrícola ainda é propagado, mas facilmente derrubado por dois fatos bastante simples: não há áreas abandonadas e estéreis onde houve silvicultura (há sim áreas de pousio, com presença de regeneração natural) e, também, existem muitas áreas onde se cultivaram florestas plantadas, que foram destocadas e atualmente são áreas agrícolas.
Estes exemplos demonstram que a silvicultura pode ser praticada em ciclos sucessivos, com necessárias reposições de nutrientes, mas também pode ser substituída por culturas agrícolas sem grandes empecilhos além dos tocos, os quais até já possuem valor econômico como biomassa.
Concorrência por terras: Há 40 anos, a mecanização agrícola era viável apenas em relevos planos a suave-ondulados, o que direcionava as áreas de relevo ondulado para pecuária e silvicultura. Os avanços tecnológicos atualmente permitem o cultivo de grãos, por exemplo, em áreas muito mais declivosas do que no passado, forçando a silvicultura e a pecuária para áreas mais críticas do ponto de vista topográfico.
Isso também significa que a mecanização da silvicultura, inicialmente desenvolvida para áreas planas, agora está mais desafiadora, enfrentando aclives maiores, o que também afeta a colheita e o baldeio da madeira. A tomada de decisão exigirá optar por terras mecanizáveis, mais caras, mas que tornam as operações mais baratas, ou por terras mais baratas devido à declividade, que inviabilizam a mecanização e encarecem todas as operações.
Concorrência por investimentos: Estamos vivendo a era pós-digital, em que a nossa interação com a internet e agora, cada vez mais, com a inteligência artificial, permite comparar instantaneamente diferentes cenários econômicos e financeiros para a tomada de decisões. Isso tanto vale para um investidor de Wall Street/Faria Lima como para um produtor rural do Centro-Oeste do Brasil.
A geopolítica e seus conflitos globais, as decisões/indecisões políticas de Brasília, fatores climáticos e outras infinitas variáveis podem facilitar ou dificultar o aporte de recursos financeiros ao setor de florestas plantadas. Cada premissa do modelo financeiro de um projeto florestal precisa ser calibrada para encontrar viabilidade, sem extrapolar o risco ao qual o investidor se dispôs a aceitar.
As taxas líquidas de retorno estão apertadas e exigem que a gestão seja extremamente aderente ao planejamento, que precisa estar totalmente alinhado com os cenários mais próximos à realidade. Enfim, parece ser oportuno criar e inserir nos currículos dos cursos de Engenharia Florestal uma nova disciplina: Futurologia! Afinal, investir em florestas plantadas é investir no futuro.