O Brasil sempre foi uma potência mundial em produção de biomassa, sendo inigualável em produtividade por hectare. Essa condição vem de vários aspectos, mas, principalmente, de fatores que já estavam aí quando chegamos, ou seja, intensidade luminosa, solos e clima adequados e grande quantidade de terras com relevo favorável e disponível para o grande desenvolvimento florestal que tivemos nos últimos 50 anos.
No entanto essa vantagem ambiental tem se mostrado insuficiente para mantermos nossa posição de liderança mundial. Nesse momento, nossa vocação de silvicultor está nos mostrando o caminho para retomarmos essa liderança, e isso deverá ocorrer através da tecnologia. A silvicultura da matraca e do tratorzinho de pneu deve dar lugar a outras tecnologias mais eficientes, que, associadas a conceitos agronômicos modernos e a modelos de gestão inteligentes, devem trazer uma nova onda de avanços na produtividade florestal.
Há quase 50 anos, mais precisamente em 1968, nascia o Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais (Ipef), ligado à Esalq-USP, e, em 1974, foi criada a Sociedade de Investigações Florestal (SIF), ligada à Universidade Federal de Viçosa (UF-V). Essas duas instituições de pesquisa e desenvolvimento, juntamente com outras universidades brasileiras, fizeram com que as empresas de base florestal atingissem sua maior expressão silvicultural de pinus e eucalipto.
Durante esse período, foram feitas inúmeras experiências e estudos para alcançar a excelência em produtividade florestal e tecnologia de plantação e colheita de madeira. Fizeram parte também da missão dessas instituições a divulgação e o treinamento de profissionais ligados ao setor florestal, sedimentando os conhecimentos e os avanços tecnológicos conseguidos nos esforços de pesquisa. Os fatores ambientais e o aprendizado capturado nesses últimos 50 anos nos trouxeram até aqui.
Será esse nosso limite como provedor de madeira e biomassa? Chegamos ao topo? Penso que não, com ressalvas. A produtividade brasileira de eucalipto, medida em IMA (Incremento Médio Anual), está em 40 m³/ha/ano, e o pinus, em torno de 38 m³/ha/ano; já a produtividade potencial pode chegar a 80 m³/ha/ano para o eucalipto, em algumas regiões do País. Na contramão desse crescimento potencial, temos alterações significativas no clima do planeta, que nos desafia a continuar crescendo nesse sentido e a nos questionar qual será o limite sustentável desse processo.
Já que estamos aprendendo e nos adaptando aos novos tempos climáticos e tentando manter nossos ganhos de produtividade obtidos até agora, abrem-se oportunidades importantes para reduzir nossos custos e ampliar nosso sistema de gestão florestal utilizando as tecnologias que foram criadas nos últimos anos e ainda utilizadas timidamente pelo setor.
Do que se tem notícia: Na área de planejamento e controle, muitas empresas já adotam sistemas de planejamento de apontamentos operacionais bastante sofisticados, com celulares e tablets que podem dar ao gestor florestal inúmeras informações que facilitam e calibram suas decisões. O planejamento florestal de longo e médio prazo, atualmente, é feito com a ajuda de solvers específicos, que conseguem traduzir com ótima precisão o futuro da produção florestal face a variáveis dadas por cenários esperados.
Nas mensurações, a utilização de Vant (Veículo Aéreo Não Tripulado), tem se mostrado uma boa ferramenta de imagem para levantamentos diversos de campo, como sobrevivência de plantio, locação de curvas de nível e planejamento das linhas de plantio, identificação de erosões, etc. A utilização de RNA (redes neurais), para facilitar e melhorar a precisão do inventário florestal, permite a redução de 70% das medições de alturas das árvores, consequentemente reduzindo o seu custo. A utilização de Big Data para entender melhor a reação das florestas mediante variáveis externas de clima, fertilização e manejo tem apoiado significativamente os gestores na tomada de decisão do que plantar e como plantar a mais adequada floresta em cada site.
Na área de melhoramento genético, a utilização de estratégias genético-estatísticas visando à geração de clones híbridos entre diferentes espécies de eucalipto, o uso de marcadores moleculares para seleção precoce de matérias superiores, com a finalidade de redução do ciclo de seleção, são avanços significativos na preparação na nova floresta, que virá mais adaptada a cada local de plantio, com ganhos expressivos de volume e características físico-químicas desejadas.
Atualmente, a fertilização das áreas florestadas conta com softwares específicos e desenhados para alocar fertilizantes em dosagens diferentes para cada talhão plantado, conseguindo a melhor eficiência do uso desse recurso, de acordo com a possibilidade de utilização pela planta, face às condições do local, clima e capacidade de utilização biológica da árvore. Manejadas adequadamente, as futuras florestas serão mais sustentáveis, pois contarão com mapas estratégicos de manejo operacional, com base em características de solo, balanço hídrico e temperatura e, combinadas com material genético apropriado, conseguirão alcançar as melhores produtividades por hectare plantado.
A mecanização das atividades desenvolvidas para plantar, manter e colher florestas também está mudando com o ingresso de novas tecnologias. O preparo do solo, hoje, é bastante mecanizado, com máquinas mais robustas e com mais tecnologia, como trituradores de resíduos e auto propelido, plantio com plantadeiras no lugar de plantio manual, irrigação mecanizada com detectores de presença da planta, fertilização aérea ou quando com equipamento de solo, dosadores que garantem precisão na distribuição dos fertilizantes.
A marcação de linhas de plantio, a subsolagem, a aplicação de agroquímicos apoiada com tecnologia embarcada nas máquinas quase não exigem interferência do operador para conduzir o trabalho. Na área de manutenção mecânica, o uso da telemetria mantém sob rígido controle a performance dos equipamentos e são rastreados via satélite, com abastecimento organizado, com controles automatizados. Na gestão dos ativos florestais, a utilização de equipamentos como o GISagri Mobile, tablets ligados a sistemas de controle específicos, conseguem, em tempo real, criar mapas temáticos com informações da floresta, uso do solo, material genético, localização de pontos de interesse, tornando mais fácil a vida do silvicultor no campo, pois é como se o médico tivesse todos os exames de imagem e sangue do paciente no início da primeira consulta.
O diagnóstico fica mais rápido, e ações mitigadoras podem ser implementadas rapidamente. Concluindo, podemos dizer que as iniciativas de uso de tecnologias mais avançadas estão surgindo de forma natural, porém com velocidade e intensidade ainda baixas, visto que muitas empresas plantadoras de floresta ainda utilizam metodologias antigas de preparo de solo, plantio e manejo florestal, exceção somente para as operações de colheita, que já utilizam máquinas de alta tecnologia para derrubada de árvores na maior parte do País. Outro ponto a ser considerado é a escassez de mão de obra rural, e é cada vez mais evidente a necessidade de aumento da produtividade operacional, assim como melhoria dos postos de trabalho. Como as tecnologias vão surgindo e ficando cada vez mais acessíveis, espera-se que, dentro de cinco anos, estejamos em um outro patamar tecnológico para realizar as operações florestais e, de um modo geral, melhorar nossa gestão desses ativos.