Gerente de Desenvolvimento Florestal da Dexco
OpCP65
Quando estudamos a evolução das plantas utilizadas na agricultura, podemos observar a enorme diferença das características morfológicas das plantas que cultivamos atualmente para aquelas que eram coletadas ou cultivadas de forma primitiva.
Isso ocorre não apenas em fatores de volume produzido, mas também por apresentarem características totalmente diferentes de sabor, conteúdo nutricional e adaptabilidade. Podemos citar como exemplo a cultura do milho, na qual há informações de que as espigas primitivas (até 10.000 AC) possuíam uma dúzia de grãos, muito diferente dos dias atuais, quando se podem alcançar milhares de grãos. Podemos dizer que são plantas totalmente diferentes, no porte e nas características morfológicas, além de o sabor do milho primitivo provavelmente ser irreconhecível comparado com os atuais.
Apesar da domesticação das plantas pela agricultura ser datada de milhares de anos atrás, no caso do cultivo de árvores para produção de madeira, é muito mais recente, podendo ser consideradas as iniciativas mais próximas ao conceito que temos hoje de florestas plantadas apenas nos séculos XVIII e XIX.
Portanto podemos afirmar que a busca por aumento na produção de madeira e na melhoria nas características das árvores com finalidade energética ou produção industrial possui pouquíssimos ciclos de cultivo e de melhoramento (talvez menos de 10 ciclos), enquanto, na agricultura, temos milhares de ciclos (provavelmente mais de 5 mil ciclos para o milho). Temos ainda que considerar que, inicialmente, em florestas, por longos anos, a busca foi por características como adaptabilidade em locais diferentes, e não necessariamente para a evolução das espécies.
No Brasil, quando foram iniciados os plantios florestais com os gêneros Eucalyptus e Pinus, o foco também foi dado para introdução de diferentes espécies e variedades, buscando-se adaptabilidade, volume de produção e caracterização da madeira para os diferentes usos. Apenas quando essas etapas estavam mais avançadas é que se intensificou a busca por melhorias nas características mais específicas da madeira.
Podemos considerar que, a partir dos anos 1960 e 1970, durante intensificação dos plantios florestais, posteriormente seriam utilizados para abastecimento industrial, que o olhar para dentro da árvore ganha maior importância do manejo florestal.
Nesse sentido, é possível concluir que ainda pouco se avançou na densidade da madeira através do melhoramento genético e do manejo florestal, apesar de essa característica ter alta herdabilidade. O que é feito (e muito bem-feito) na maior parte dos casos é uma excelente triagem, através da seleção de espécies e materiais genéticos, com as melhores características e sua replicação através da clonagem.
A densidade da madeira ganha maior importância quando o olhar é voltado para duas vertentes complementares: 1) aumento da massa produzida por hectare, onde a densidade é característica fundamental para seu alcance; 2) melhoria da qualidade da madeira, visando ao aumento do poder calorífico e rendimento industrial.
Atualmente, quando olhamos para áreas que já possuem diversos ciclos de plantios de eucalipto consolidados, onde a produtividade potencial em volume é atingida frequentemente, é importante que o programa de melhoramento passe a trabalhar bastante focado no aumento de massa através do aumento da densidade da madeira e, eventualmente, mantendo-se o volume. Cada vez mais frequente, o desafio para essas áreas é não perder produtividade e ganhar em qualidade da madeira frente aos fatores de restrição impostos, como alterações de ciclo climático e ocorrência de pragas e doenças.
A densidade da madeira e a produção de painéis: Os painéis de madeira reconstituída foram criados originalmente a partir do aproveitamento de resíduos vegetais, sejam agrícolas ou de serragem de madeira ou de partes menos nobres das árvores, como ponteiros e costaneiras. Apesar de parecer um destino interessante para materiais de baixo valor agregado, quando falamos sobre o uso de resíduos agrícolas ou florestais para fabricação dos painéis da atualidade, como o MDF (Medium Density Fiberboard), HDF (High Density Fiberboard) e MDP (Medium Density Particleboard), resulta em produtos acabados de menor qualidade e heterogêneo, além de originar inúmeros desafios para o processo fabril.
O Brasil foi pioneiro na utilização de florestas plantadas para o uso total na produção de chapas, onde foi possível colocar, no mercado internacional, produtos de qualidade superior, além da homogeneidade entre unidades e lotes, o que garantia o atendimento das expectativas dos clientes.
Ao longo dos anos, pouco se aprofundou nos estudos para se entender quais são as características ideais na madeira para a produção de painéis. A principal característica e que se tem melhor conhecimento sobre os impactos no rendimento fabril é a densidade da madeira. À semelhança do setor de celulose e papel, que aprofundou o entendimento do teor de ligninas, glucanas e xilanas, o impacto de extrativos vegetais, o rendimento da madeira no cozimento industrial, assim como o impacto no consumo de insumos químicos nas fábricas de acordo com características da madeira, com certeza, apresentam impactos significativos no custo de produção de painéis, seja por rendimento, seja pelo consumo de resinas.
A densidade da madeira se comporta de forma um pouco diferente para a produção dos painéis de MDF, HDF e MDP. Para o MDF e o HDF, onde a madeira é transformada em fibras antes da prensagem, a densidade da madeira tem pouca influência na densidade final do painel, pois, no processo fabril, é possível se controlar a densidade das fibras, dentro de um certo range.
Nesse caso, a densidade da madeira tem papel fundamental para o rendimento fabril, onde quanto maior a densidade da madeira, maior será o rendimento industrial. Para o MDP, onde a madeira é transformada em partículas antes da prensagem, a densidade da madeira tem maior relação com a densidade final do painel, pois as partículas conservam a densidade original da madeira.
Na floresta, muito se faz para o aumento da densidade da madeira, principalmente com ações de melhoramento genético. Com a utilização mais intensiva da clonagem, foi possível obter maior velocidade no ganho em densidade da madeira através da replicação dos melhores indivíduos, maior previsibilidade das características da madeira e a realização de cruzamentos direcionados para ganho de densidade e massa.
No gráfico em destaque, podemos fazer uma estimativa do ganho em densidade da madeira pela adoção de plantios clonais em florestas da Dexco no estado de São Paulo. Em 2004, como referência, podemos observar a densidade da madeira dos materiais genéticos recomendados em plantio seminais.
Nos demais anos, é possível observar uma média simples da densidade básica da madeira dos clones recomendados para plantios comerciais. Entre 2004 e 2021, podemos observar um aumento de 10% em densidade média da madeira nos materiais comerciais. No horizonte de ciclo florestal, é um período bastante curto para tamanho ganho.
Nesse mesmo período, o ganho de produtividade em volume em IMA (incremento médio anual) em áreas comerciais, determinada pelo inventário florestal contínuo, foi de aproximadamente 16%. A combinação desses dois fatores leva também à conclusão para um substancial aumento da massa de madeira por área.
Para áreas plantadas no estado de São Paulo, onde se tem bastante conhecimento das condições edafoclimáticas, dos materiais genéticos e do manejo florestal, os desafios maiores são em não se perder produtividade, focando em manter o potencial produtivo das áreas e buscar continuamente o aumento da densidade da madeira para ganhos em massa, além de outras características que resultarão em ganhos industriais.
Quando comparamos as florestas com culturas agrícolas como a do milho, na qual, em milhares de ciclos de evolução, levaram a produtividade e a qualidade inimagináveis no passado, como podemos nos provocar para a evolução das árvores plantadas na densidade da madeira? Quais são as técnicas que podemos inovar para aceleramento no ganho de densidade da madeira, massa e volume por hectare sem perder a qualidade e a sustentabilidade dos plantios?
Cada vez mais, os desafios referem-se ao olhar do processo como um todo: do melhoramento genético à superação das expectativas do consumidor final dos produtos gerados pelas florestas plantadas, passando pelo adequado manejo florestal. Os profissionais florestais deverão buscar, cada vez mais, o conhecimento dos processos fabris e da integração com os times industriais e comerciais, com o objetivo de identificar oportunidades na floresta para o ganho máximo da cadeia florestal.