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Acelino Couto Alfenas

Professor de Fitopatologia da UF-Viçosa

Op-CP-43

Estratégias de manejo integrado de doenças florestais
Há, atualmente, no Brasil, entre 7,7 (IBÁ, 2015) e 9,3 (IBGE, 2015) milhões de hectares de plantações florestais, envolvendo principalmente eucalipto, pinus, seringueira, cacau, acácia, paricá, teca, araucária, mogno, mogno-africano, cedro e cedro-australiano. As plantações florestais têm expandido mundialmente, especialmente em regiões tropicais e subtropicais, para a produção de matéria-prima para suprir a crescente demanda de produtos de base florestal.

Simultaneamente com a expansão florestal, surgem doenças. Até o início da década de 1970, por exemplo, praticamente não havia relatos de doenças nas plantações florestais no Brasil. Todavia a expansão das culturas para regiões com pouca tradição florestal, o plantio de materiais sem o conhecimento prévio de sua adaptabilidade e resistência genética a doenças, as incertezas climáticas e as mudanças das técnicas de manejo, bem como os ciclos sucessivos da cultura numa mesma área, têm favorecido o aparecimento de várias enfermidades, quase sempre resultando em perdas de alto impacto econômico.

Portanto a possibilidade de incidência de doenças e seu controle devem ser considerados em todo empreendimento florestal. As doenças são causadas por patógenos nativos ou acidentalmente introduzidos. Nas últimas décadas, a movimentação global de pessoas e produtos tem facilitado muito a introdução e a disseminação de doenças, as quais, quando plenamente estabelecidas na nova área, causam grandes prejuízos econômicos e constituem um dos fatores limitantes ao sucesso das plantações florestais. 

 
Nos últimos anos, tem sido crescente o número de novas doenças estabelecidas em diferentes regiões intercontinentais, como é o caso da murcha-de-ceratocystis (Ceratocystis fimbriata) no Brasil, no Havaí, no Uruguai, no Paquistão, em Omã, na Indonésia e no Vietnã; da mancha-de-teratosphaeria (Teratosphaeria nubilosa) na África do Sul, no Brasil e no Uruguai; da ferrugem (Puccinia psidii) nos Estados Unidos (Flórida, Califórnia e Havaí), no Japão, na Austrália, na Nova Caledônia, na China, na África do Sul e, mais recentemente, na Indonésia. 
 
Embora os riscos de introdução de doenças sejam iminentes, a adoção de novas técnicas biotecnológicas para diagnose e a implementação de programas de melhoramento genético sólidos e bem estruturados podem mitigar os riscos de perdas por doenças. Dentre os métodos e as técnicas disponíveis, merecem destaque:
a. a PCR (Polymerase Chain Reaction), a PCR em Tempo Real e o sequenciamento de regiões específicas do genoma para identificação correta dos patógenos em plantas;
b. as análises filogenéticas e os marcadores moleculares para identificação e monitoramento da variabilidade genética do patógeno em determinada região;
c. os métodos específicos de inoculação e avaliação da resistência a doenças, visando à seleção de clones e progênies resistentes; 
d. o mapeamento de QTLs e genes de resistência a doenças, visando à introgressão desses genes em genótipos superiores suscetíveis, por cruzamento ou por transgenia;
e. a seleção genômica ampla como forma de maximizar a seleção de plantas resistentes com o auxílio de marcadores moleculares, entre outras. Essas novas tecnologias associadas a técnicas já estabelecidas, como os cruzamentos interespecíficos e a propagação vegetativa de clones geneticamente superiores, possuem grande potencial para enfrentarmos os novos desafios das doenças neste século.

No entanto, é fundamental que os profissionais da área de patologia florestal se atualizem continuamente e se associem a especialistas de outras áreas do conhecimento, como melhoramento genético, solos, nutrição mineral, silvicultura, entomologia florestal e biotecnologia. No início do século passado, o Prof. Herbert Hice Whetzel, da Universidade de Cornel, nos EUA, estabeleceu os seguintes princípios básicos de controle de doenças em plantas: exclusão, que visa prevenir a entrada do patógeno numa área, onde ele ainda não exista; erradicação, que consiste na eliminação total ou parcial do patógeno; proteção, que visa proteger as plantas suscetíveis contra patógenos; imunização, que é plantio de plantas resistentes; terapia, que visa à cura de uma planta doente.

Com o desenvolvimento de novos métodos de controle, foram incluídas mais tarde a regulação, que consiste em adotar medidas de controle de manejo do ambiente, e a evasão ou escape, que visa prevenir a doença mediante o estabelecimento da cultura em épocas desfavoráveis ao patógeno ou em áreas onde o inóculo é raro ou inexistente. Esses princípios devem ser aplicados para o controle eficiente de doenças florestais.

 
Em viveiros de mudas florestais, o controle de doenças é realizado primordialmente por técnicas de manejo que visam erradicar, parcial ou totalmente, as fontes de inóculo fitopatogênico, reduzir as condições favoráveis à infecção e favorecer o crescimento das mudas, tornando-as escapes a doenças. No entanto, em caso de incidência de doença, aplicações curativas de fungicidas registrados para a cultura podem fazer parte do manejo integrado, a fim de evitar prejuízos de importância econômica.

Já em condições de campo, à exceção da seringueira onde o controle químico é mais usual, as medidas de proteção são menos empregadas na área florestal em função das extensas áreas plantadas e, principalmente, em virtude das dificuldades de aplicação de fungicidas. Atualmente, para eucalipto, encontram-se disponíveis produtos fitossanitários para o controle de Calonectria spp. (= Cylindrocladium spp.), do oídio (Podosphaera pannosa), de bacterioses e da ferrugem (Puccinia psidii). Dentre esses, apenas os produtos registrados para o controle da ferrugem são recomendados para uso em campo, enquanto os demais são utilizados usualmente em viveiros. No caso específico da ferrugem, a aplicação de fungicidas no campo é facilitada uma vez que o patógeno infecta somente plantas jovens, geralmente com menos de 3 m de altura, ou as brotações após o corte raso.

Convém ressaltar que, nos últimos anos, as pesquisas nessa área evoluíram bastante, havendo produtos menos tóxicos, de menor impacto ao meio ambiente, mais seletivos e com tecnologias de aplicação mais eficientes. Atualmente, o controle de doenças florestais em condições de campo é feito primordialmente por meio do plantio de materiais resistentes, selecionados a partir de inoculações sob condições controladas, de forma integrada nos programas de melhoramento genético.

A chave do sucesso do uso da resistência genética no controle de doenças na eucaliptocultura, por exemplo, se deve à ampla variabilidade genética para resistência encontrada nas diferentes espécies aliada à multiplicação clonal dos genótipos resistentes.

Além disso, a resistência genética pode ser utilizada como forma de controle para praticamente todas as doenças descritas em eucalipto até o momento. Entretanto, para que essa resistência seja efetiva e durável, pesquisas devem ser conduzidas com o objetivo de se identificarem novos genes R, conhecer a herança da resistência e também entender a variabilidade genética das populações do patógeno. 


Tendo em vista os riscos crescentes de perdas por doenças nas diferentes culturas e diante dos avanços da ciência, somente com investimentos contínuos nessa área de pesquisa poderemos ficar preparados para as atuais e outras novas doenças que provavelmente surgirão, a médio e longo prazos.