Na ferrenha disputa para atrair, contratar e reter talentos, as empresas estão apostando cada vez mais em estratégias que vão além das convencionais. Se antes treinamento e desenvolvimento (T&D) não era pauta primordial da alta administração, agora percebemos uma maior receptividade para essa conversa, como mostra o Relatório de Aprendizagem no Local de Trabalho de 2024, publicado pelo LinkedIn.
Esse movimento reflete a compreensão de que a capacitação dos colaboradores e uma cultura de aprendizagem sólida são diferenciais estratégicos, impulsionando a retenção de talentos, a produtividade e a competitividade.
Empresas que investem em treinamentos estruturados e acessíveis garantem maior engajamento de seus profissionais, promovendo um ciclo contínuo de desenvolvimento e inovação.
O manejo e a condução de florestas demandam conhecimento técnico especializado. Se já é desafiador contratar profissionais qualificados, estruturar processos de aprendizagem eficazes para capacitar a mão de obra operacional torna-se ainda mais complexo.
Historicamente, o Brasil investiu na formação de engenheiros e técnicos florestais desde a década de 1960, enquanto trabalhadores da base (operadores, mecânicos, motoristas, entre outros) estavam amplamente disponíveis. No entanto, esse cenário mudou, tornando necessária a criação de soluções para garantir uma força de trabalho preparada para as exigências atuais do setor.
A automação vem transformando os processos operacionais no setor florestal e exigindo novas abordagens para a formação profissional. As empresas precisam equilibrar a capacitação técnica tradicional com o desenvolvimento de novas competências voltadas para o manuseio e monitoramento de tecnologias avançadas. Profissionais que antes realizavam atividades manuais agora precisam operar sistemas automatizados e interpretar dados para otimizar o desempenho operacional.
Nesse cenário, o treinamento deve evoluir com a tecnologia, garantindo que os colaboradores estejam preparados para atuar em um ambiente cada vez mais digital e automatizado.Diante desse desafio, as empresas estão investindo em alternativas para capacitação, tanto por meio de estratégias internas quanto pelo desenvolvimento de iniciativas voltadas às comunidades ao redor.
Muitas dessas ações já são benchmarking no setor. Contudo, um dos principais entraves ainda é a falta de agilidade na formação de competências, uma vez que a reposição de profissionais qualificados não acompanha a velocidade das saídas.
Antes de explorarmos soluções para acelerar o desenvolvimento de competências, é fundamental compreender os desafios desse processo. Profissionais de T&D enfrentam dificuldades em cumprir todas as etapas da aprendizagem: planejamento, implementação e avaliação dos resultados.
Esta última, em especial, continua sendo um gargalo, pois muitas empresas investem em programas abrangentes e onerosos, mas falham em demonstrar os impactos gerados. A avaliação deve evidenciar melhorias no desempenho, engajamento, avanço no conhecimento, mudanças comportamentais e retorno sobre o investimento (ROI).
Quando bem estruturados, esses programas ganham credibilidade, atraem apoio interno e justificam novos investimentos. Para superar esse desafio, é necessário um monitoramento contínuo do impacto das capacitações, bem como a aplicação de metodologias que permitam ajustes rápidos e eficazes.
Para impulsionar o desenvolvimento de competências, a personalização dos programas é essencial. A aprendizagem deve refletir a realidade do campo, com exposição a condições reais de trabalho, equipamentos e rotinas operacionais. Além disso, é crucial adaptar a capacitação à disponibilidade de tempo dos colaboradores e às demandas das áreas solicitantes. Programas bem direcionados promovem maior engajamento e facilitam a mensuração dos resultados.
A efetividade do treinamento não depende apenas da qualidade do conteúdo e dos recursos utilizados, mas também do tempo dedicado à capacitação. Para que os colaboradores adquiram habilidades técnicas e comportamentais suficientes para atuar com segurança e assertividade no campo, é essencial que os programas de treinamento sejam estruturados de forma a equilibrar teoria e prática.
Treinamentos curtos podem ser eficazes para reciclagem ou atualização, mas a formação inicial exige um período mais extenso, permitindo que os profissionais compreendam os processos, simulem cenários reais e desenvolvam autonomia na tomada de decisões. O tempo adequado de capacitação reduz erros operacionais, melhora a eficiência no trabalho e contribui para um ambiente mais seguro e produtivo, refletindo diretamente nos resultados da organização.

Nesse contexto, a internalização do treinamento se destaca como uma solução eficiente. A criação de centros de treinamento próprios, equipados com máquinas e tecnologias utilizadas na operação, permite um aprendizado mais próximo da realidade de trabalho.
O sucesso de qualquer programa de capacitação depende não apenas da estrutura e dos recursos disponíveis, mas também da preparação daqueles que estão à frente dos treinamentos: os instrutores. Investir no desenvolvimento desses profissionais é essencial para garantir que os conteúdos sejam transmitidos de forma clara, eficaz e alinhada às necessidades do setor.
Isso inclui a capacitação contínua dos instrutores em metodologias ativas de ensino, uso de tecnologias educacionais, técnicas de comunicação e feedback, além do aprimoramento técnico constante. Instrutores bem-preparados não apenas elevam a qualidade do aprendizado, mas também servem como referências para os colaboradores, fortalecendo o engajamento e a retenção do conhecimento dentro da organização.
Um exemplo bem-sucedido dessa abordagem é a iniciativa da Eldorado Brasil, com o Centro de Treinamento Itinerante Florestal (CTIF), inaugurado em fevereiro de 2024. Destinado à capacitação e aperfeiçoamento de mais de 2.000 colaboradores operacionais, o CTIF oferece mais de 100 treinamentos distintos em 8 unidades móveis, contando com mais de 20 máquinas e equipamentos em uma área de 3 hectares.
Este espaço conta ainda com um campo de provas, que é uma área destinada às práticas com os equipamentos, e permite a simulação de manobras e também o embarque e desembarque destes equipamentos em caminhão prancha. Anualmente, são realizadas mais de 70 mil horas de formação, abrangendo cerca de 4 mil pessoas.
Os impactos desse investimento são evidentes nos indicadores de produtividade, que superam metas mensais e anuais. Não é à toa que esses investimentos em aprendizagem têm gerado uma conexão e um propósito aos colaboradores, que percebem o valor do aprendizado, fortalecendo seu compromisso com a empresa e sua evolução profissional.
No entanto, as ações de aprendizagem devem ir além do treinamento formal. O acompanhamento contínuo do colaborador no ambiente de trabalho é fundamental para consolidar os conhecimentos adquiridos e garantir aplicação prática eficiente.
Treinamentos que oferecem feedback imediato e suporte técnico em campo possibilitam uma curva de aprendizagem mais eficiente e uma melhor retenção dos conhecimentos adquiridos.
Precisamos avançar na personalização e na construção conjunta com o cliente, acompanhando também as tendências de aprendizagem, como a microaprendizagem e a nanoaprendizagem. A formação de competências operacionais na era digital exige metodologias dinâmicas e acessíveis.
O público atual consome informação de maneira fragmentada e ágil; portanto, reinventar o treinamento técnico é essencial para garantir o sucesso da capacitação e evitar desafios futuros ainda maiores.
Além disso, com a crescente automação e o uso de máquinas inteligentes, a curva de aprendizado precisa ser mais rápida e focada no desenvolvimento de novas habilidades, como a interpretação de dados, a operação de equipamentos automatizados e a resolução de problemas complexos. Empresas que investirem nessas abordagens estarão na vanguarda da capacitação profissional, preparando sua força de trabalho para um futuro altamente tecnológico e competitivo.
FOTOS:
1. Treinamento de hidráulica avançada no CTIF
2. Qualificação de tratorista: prática de condução e manobra
3. Qualificação na operação de forwarder
4. Centro de Treinamento Itinerante Florestal (CTIF) da Eldorado Brasil