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Elizabeth de Carvalhaes

Presidente Executiva da IBÁ - Indústria Brasileira de Árvores

Op-CP-42

Desafios no longo prazo
O setor de florestas plantadas evoluiu muito nos últimos anos no Brasil, tornando-se um dos mais relevantes no mundo. Com uma área de 7,74 milhões de hectares de árvores plantadas, o setor é responsável por 91% de toda a madeira produzida para fins industriais no País, além de ser um dos que apresenta maior potencial de contribuição para a construção de uma economia verde. 
 
Sua importância na economia nacional vem crescendo, tendo representado 5,5% do PIB (Produto Interno Bruto) da indústria brasileira em 2014 e sido responsável pela geração de R$ 10,23 bilhões em tributos federais, estaduais e municipais. Isso tudo, sem deixar de mencionar os crescentes investimentos do setor de florestas plantadas, que, apenas em 2014, registrou um aumento de 8%. Apesar de representar menos de 1% do território nacional, a área de árvores plantadas para fins industriais vem sendo ampliada
ano a ano e deverá se expandir ainda mais diante das perspectivas de aumento populacional e da demanda por alimentos e produtos mais sustentáveis.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) prevê uma população mundial de aproximadamente 9,5 bilhões de habitantes em 2050, o que exigirá aumentar em 70% a produção de alimentos do planeta. Ainda, a FAO projeta que a demanda por madeira para uso industrial e geração de energia terá um acréscimo de 40% nos próximos 35 anos. Ao mesmo tempo, as expectativas são de que o setor de base florestal tenha crescimento significativo de sua área, condicionado ao desenvolvimento de mecanismo de valorização dos produtos e serviços da atividade, além de políticas públicas de incentivo. 

 
De olho nesse cenário, as empresas do setor trabalham para aprimorar as técnicas de uso da terra, da água e dos demais recursos, conciliando a produção sustentável dos chamados 4Fs (do inglês: food, fiber, fuel and forests). É fundamental entender que o aumento da produção não ocorre em detrimento do meio ambiente e, nesse contexto, as florestas exercem papel vital para equilibrar o atendimento às demandas da população com a capacidade de regeneração dos recursos do planeta.
 
As árvores plantadas atualmente são fonte de mais de cinco mil produtos e subprodutos e geram diversos benefícios climáticos, como sequestro de carbono e preservação de recursos hídricos. As florestas plantadas para fins industriais estão presentes na vida das pessoas em produtos como papel para impressão e papel higiênico, fraldas, móveis e painéis de madeira. Mas, além desses produtos, elas ainda podem contribuir para a matriz energética, com insumos como pellets, carvão vegetal e lenha.

Isso sem mencionar as pesquisas para elaboração do etanol celulósico e outros subprodutos da madeira. Dentro dessa necessidade de conciliar aumento na produção com sustentabilidade, a biotecnologia vem se destacando como instrumento para superar esse desafio. A inovação tecnológica levará ao cultivo de árvores com características específicas, como maior produtividade, melhor forma, mais densidade e maior quantidade de fibras, além de maior resistência a pragas e a doenças, à seca, ao frio ou à salinidade, características particularmente relevantes por causa dos efeitos das mudanças climáticas.

 
Outra ação de destaque é a Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF), que une diferentes sistemas produtivos na mesma propriedade e pode ser uma estratégia de inovação, com grande potencial de diversificar as receitas do produtor. Esse modelo tem sido incentivado nos programas de fomento com pequenos e médios produtores rurais ligados à cadeia das empresas do setor florestal e tem papel social importante ao gerar emprego e renda e contribuir para o desenvolvimento das comunidades nas quais os plantios e as unidades industriais estão inseridos. 
 
O setor florestal brasileiro já é destaque ao redor do mundo por ter a maior produtividade. Além de o Brasil registrar o menor ciclo de colheita de eucaliptos, de apenas sete anos, cada hectare plantado com essa espécie de árvore rende, em média, 39 m³/ha/ano. Nas plantações com pínus, essa média é de 31 m³/ha/ano. Para efeito de comparação, o Chile, outro importante produtor na América do Sul, registra uma produtividade média de 20 m³/ha/ano no caso do eucalipto e 18 m³/ha/ano em pínus.
 
Diversas ações têm sido adotadas para ampliar a produtividade das florestas plantadas brasileiras. Apesar disso, o setor sente a falta de amparo financeiro às pesquisas em áreas como inovação, melhoramento genético e biotecnologia. Cabe às companhias do setor manter seus programas de pesquisa independentes e buscar melhoria contínua em termos de produtividade. A verdade é que, apesar da liderança mundial, ainda há graves entraves que precisam ser considerados para a continuidade do crescimento do setor florestal brasileiro. Nos últimos anos, a produção de madeira ficou mais cara no País.
 
Enquanto, em 2000, o custo era 40% menor do que nos Estados Unidos, no fim do ano passado, essa diferença não chegava a 10%. Apenas em 2014, a inflação do setor de árvores plantadas, medida pelo Índice Nacional de Custos da Atividade Florestal (Incaf-Pöyry), foi de 7,9%, enquanto a inflação nacional medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) ficou em 6,4%. A redução dos custos passa por desafios que impactam o longo prazo, como a legislação ambiental complexa e de difícil aplicabilidade e restrições para a aquisição de terras por empresas brasileiras com maioria de capital estrangeiro, além da política de crédito incompatível com a realidade de longo prazo da silvicultura.

Mudanças em políticas de estímulo ao consumo de derivados de petróleo também são importantes para o setor de florestas plantadas, para que se crie um incentivo a fontes renováveis e à biomassa florestal e, além disso, às pesquisas envolvendo o etanol celulósico, que podem ampliar ainda mais a importância das florestas plantadas brasileiras no mundo.

 
As árvores plantadas desempenham função crucial na discussão dos desafios para atender às demandas futuras da população e conservar recursos naturais. Embora o setor adote metas e projetos independentes, resultados maiores poderão ser alcançados, desde que haja um diálogo transparente e propositivo com os diferentes setores, governos e fóruns nacionais e internacionais, além da sociedade civil. Apenas assim será possível construir pontes entre os diferentes setores de uso da terra, permitir uma visão mais ampla de uso do solo e a inclusão de aspectos sociais, ambientais e econômicos na tomada de decisão. 
 
A tendência para o futuro é de que o setor de árvores plantadas se torne ainda mais relevante para a sustentabilidade, seja pelo fortalecimento de fontes renováveis, seja pelo uso crescente da biomassa florestal. A superação dos desafios nacionais é cada vez mais necessária para manter o setor florestal brasileiro em destaque crescente no mundo, tanto em produtividade, quanto em inovação.