Edmundo Navarro de Andrade, o “pai do eucalipto”, quando decidiu criar os hortos da Companhia Paulista de Estrada de Ferro com plantios comerciais de eucalipto, 100 anos atrás, pode ter previsto o sucesso de seu uso, mas nunca imaginou que o Brasil teria os atuais 6 milhões de hectares plantados. E, daqui a 100 anos, quanto será essa área plantada? Vamos pensar...
O eucalipto foi plantado visando à produção de lenha e dormentes. Em meados do século XX, a madeira oriunda de árvores de Eucalyptus tereticornis com 15 anos de idade foi usada para postes, pois superaram a resistência daqueles em uso, de guarantã, com 110 anos de idade. Nas décadas de 1960 e 1970, o uso para celulose e carvão impulsionaram seu plantio, contando, inclusive, com incentivos fiscais para reflorestamento, época em que as Escolas de Agronomia abriram os cursos de Engenharia Florestal.
Atualmente, o eucalipto é responsável por cerca de 1,1% do PIB brasileiro. Os plantios comerciais para uso doméstico e industrial saíram de São Paulo e se expandiram para quase todos os estados. As áreas plantadas cresceram, e o eucalipto foi ocupando, em ritmo acelerado, áreas de cerrado e/ou substituindo ciclos de lavouras tradicionais e, mais tarde, a partir da década de 1980, passou, basicamente, a substituir pastagens degradadas. As técnicas silviculturais não pararam no tempo.
Melhoramento e manejo florestal fizeram a diferença no incremento da produção volumétrica de madeira por hectare plantado. Saímos dos históricos 10 a 15 m3/ha/ano para 40 a 50 m3/ha/ano, alcançando, em alguns sites, a produção de até 70 m3/ha/ano. O que precisamos para o futuro das florestas plantadas?
Grande parte do mundo já usa papel e aço. Muitas das frutas e verduras que chegam à nossa mesa usam o eucalipto na caixotaria. Nós ainda o encontramos em portas, janelas, móveis, telhados e decks. Na próxima década, poderemos utilizar a madeira nobre, premium, de eucalipto, que vem sendo preparada no campo para atender a mercados mais exigentes. O consumo tradicional aumentará em função do aumento da população, da desativação de fábricas obsoletas, de outros usos, principalmente com o uso da madeira para energia e nanocelulose.
O Brasil tem terras para plantios, e seus técnicos sabem como aproveitar as melhorias alcançadas nas novas fronteiras. Além do engenheiro florestal silvicultor, os novos tempos precisarão do engenheiro florestal socioambiental, aquela pessoa que vai para o campo, que toma a decisão técnica visando ao desenvolvimento da espécie plantada sem prespezar a comunidade circunvizinha, que converse, que respeite os anseios, que atue como facilitador, que crie oportunidades e faça com que a comunidade entenda seu trabalho e admire o empreendimento.
Ora o próprio consumidor inicia o plantio, ora busca regiões com plantios em andamento, desde que determinadas exigências em logística e infraestrutura satisfaçam suas necessidades. Cada vez mais demandarão do planejamento de onde implantar o empreendimento florestal. Além do solo, clima e espécie, o engenheiro florestal socioambiental necessitará de perfeita interação com as comunidades locais. Todos precisam ganhar com o novo empreendimento. Será fundamental que eles sejam submetidos às certificações florestais. Com isso, ficará claro que esse empreendimento está regido por normas e procedimentos que garantem o cumprimento da legislação, o menor impacto no meio ambiente e respeito às comunidades.
A duplicação da área plantada nos próximos 50 anos ou triplicação nos próximos 100 anos será uma tarefa árdua. Um exemplo é o estado do Mato Grosso do Sul, que, dos 152 mil hectares reflorestados em 2005, passou para 900 mil hectares, com uma boa expectativa de apresentar de 2 a 2,5 milhões de hectares em 2025/2030. Os estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste apresentam muitas oportunidades de incremento do reflorestamento. Estados do Sul e Sudeste certamente terão um menor ritmo de expansão da base florestal, entretanto caminharão para uma melhoria significativa da produção com o incremento da qualidade das florestas já plantadas.
Desafios e mais desafios virão adiante. Questionamentos, contestações, incertezas que sempre caminharam com o processo da silvicultura certamente continuarão presentes no futuro. Navarro de Andrade usou grande parte do seu tempo para justificar o plantio comercial de uma árvore exótica em um país com uma infinidade de espécies arbóreas. Os atuais silvicultores são constantemente bombardeados com uma série de questões que a Academia tão bem responde com dados científicos de extrema confiabilidade. O futuro não será diferente. Floresta plantada no Brasil é e continuará sendo muito importante para as novas gerações de brasileiros e do mundo.