A silvicultura brasileira, em seus anos de existência, tem atendido a diferentes demandas, diversos objetivos e tem convivido com formas de gestão bastante variadas. Saímos da simples aquisição de madeira e plantios rudimentares do departamento de suprimento das antigas indústrias consumidoras, passamos pelas empresas constituídas para se beneficiar dos incentivos fiscais e formar florestas, com diretoria e diretores que lideraram o grande avanço da silvicultura dos anos 1970/1980, e chegamos aos tempos modernos, em que a floresta virou um negócio, às vezes antes de ser matéria-prima.
Aqueles diretores, de fato, que precisavam encontrar a receita para produzir a madeira para segurança das indústrias e que compartilhavam das decisões estratégicas da empresas, foram cedendo seus postos para disciplinados seguidores de regras que, no máximo, forneciam informações para tomadas de decisões. Depois de alguns anos, no final dos anos 1990, tivemos uma grande modificação na forma de se administrar o negócio florestal.
Desde então, na maioria dos casos, começaram a valer os números que entravam e saíam dos registros de campo e iam às mesas de decisões. E o diretor florestal, quando foi mantido, antes de conhecer de silvicultura, precisava ser um emérito condutor de planilhas e analista das inflexíveis variações numéricas. E as pessoas, como foram tratadas nesse processo?
Como sempre, continuaram peça fundamental em todo o processo produtivo, mas com algumas diferenças fundamentais. Antes, um grande reconhecimento pela competência, liderança, ética e comprometimento setorial; nos dias atuais, essas características não parecem fazer tanta diferença.
Um bom administrador de modernos instrumentos tecnológicos de programação e controle é candidato à direção florestal, e, fazer floresta, para muitos, é só uma questão de receita, cronogramas e planilhas. A participação do profissional de silvicultura nas decisões estratégicas das empresas foi diminuindo na medida em que a pesquisa evoluiu, os problemas foram sendo resolvidos e os estoques de madeira foram crescendo.
A criatividade e o apoio à pesquisa florestal e a valorização à informação técnica e científica foram cedendo lugar à disciplina e à obediência às receitas. O conhecimento biológico começava a ser batido pela exatidão matemática, e o equilíbrio biologia-matemática só ficou para algumas empresas, tidas até como conservadoras.
Na verdade, aquele dono fundador que tinha a missão de abastecer a indústria foi se afastando do dia a dia, e os que chegavam, que nunca tinham sentido o problema de falta de madeira, transformaram a silvicultura numa questão de logística e custo. Há no estoque? E o assunto voltou para o departamento de suprimento.
Tempos áureos aqueles dos diretores florestais que tomavam decisão e souberam, inteligentemente, construir os caminhos da rica silvicultura brasileira, que deve muito à dedicação de brilhantes pesquisadores, instituições de pesquisas e à interação com as universidades tão atuantes na época. Foi essa conjugação de esforços que permitiu a criação de instituições como Ipef, Sif, Fupef, Embrapa Florestas, dentre as inúmeras instituições de pesquisas florestais que construíram a silvicultura brasileira.
No final da década de 1990, surgiram os fundos de investimentos, e a silvicultura se transformou em negócio independente. Passou a ser analisada, administrada e monitorada pelos números na entrada e na saída. Surgiram novos donos, uma administração de cronograma e de planilhas. Na maioria dos casos, partiu-se do princípio de que formar floresta já não trazia nenhuma dificuldade.
A biologia estava resolvida e a questão passava a ser de matemática. Foram mudanças significativas na postura empresarial, no perfil dos profissionais que passaram a comandar os empreendimentos, e até a floresta foi apresentando novas características. A boa produtividade só passou a valer se emoldurada com novos adereços.
O social, o ambiental, o cultural, a integração com as comunidades regionais entraram em pauta, e os dirigentes mudaram o discurso. Numa linguagem mais sofisticada, tudo isso na direção da sustentabilidade. Se não deixassem para trás valores imprescindíveis para o sucesso dos empreendimentos florestais, seria possível até se afirmar que as mudanças, ao longo do tempo, só enriqueceram a silvicultura.
Mas, nos últimos anos, os dados setoriais mostram que a silvicultura brasileira, considerada altamente competitiva, em nível internacional, começou a dar os primeiros sinais de exaustão em suas regiões de plantios tradicionais, e, nas novas fronteiras, estão sendo encontradas dificuldades bastante complexas. Mas agora temos situações diferentes nas empresas. Não existe mais aquele diretor florestal com a liberdade de ir atrás de soluções para produzir. Aliás, na maioria dos casos, nem existe espaço em seu orçamento para promover pesquisa e participar ativamente de programas de desenvolvimento técnico-científicos.
Mas não se pode negar a significativa evolução no monitoramento e controles dos processos produtivos com os novos sistemas e os modernos instrumentos de tecnologia. E tudo ainda mais enriquecido com os melhoramentos agregados pelas inumeráveis contribuições da certificação florestal. Da mesma forma, a chegada dos investidores independentes, transformando a silvicultura em negócio, também foi muito oportuna e pode iniciar um processo de verdadeira valorização profissional.
A silvicultura brasileira seria muito enriquecida se, ao longo dessas transformações, se se mantivesse o respeito pela competência técnica, pela ética profissional e se se mantivessem os estreitos laços da integração com as instituições de pesquisas e seus brilhantes profissionais. Estamos vivendo momento oportuníssimo para que essas correções sejam feitas e possamos manter a competitividade de nossa silvicultura. Para nossa felicidade, as instituições de pesquisas, com certeza, com as dificuldades inerentes das circunstâncias, conseguiram se manter firmes e fortes.