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Caique Carvalho Medauar

Especialista Global em Tecnologia da Envu

OpCP75

Silvicultura de precisão: desafios e oportunidades
Nos últimos anos, o aumento significativo da demanda por produtos de segmentos florestais vem exigindo a adoção de novas práticas de manejo, com o objetivo de alavancar a produtividade. Na silvicultura, o planejamento adequado aliado a procedimentos operacionais, são os primeiros passos para alcançar o sucesso. É nesse cenário que se insere o conceito de Silvicultura de Precisão (SP), a qual representa uma nova forma de gerenciamento das florestas. 

Na agricultura, o uso da terminologia “precisão” com tecnologias embarcadas e aplicadas em âmbito operacional para diversas atividades já é uma realidade. Para a silvicultura, no entanto, essa difusão ainda está em evolução, com crescimento exponencial e elevado potencial de expansão. É nesse processo que a SP é o acelerador, trazendo de forma muito mais rápida e assertiva dados e informações (geralmente digitais) para antecipar tomada de decisões.

O conceito de SP é muito amplo e varia de acordo com as diferentes áreas de atuação, como:
a) para o geneticista, a SP pode significar a combinação entre a genética de uma espécie de planta com o local em que ela será cultivada, de tal forma a maximizar seu crescimento; 
b) para a equipe de silvicultura, a SP pode auxiliar de forma mais precisa a correção de adubação, aplicando os insumos de forma localizada e reduzir a competição com plantas daninhas, além de outras ações que visem minizar custos operacionais, elevando a produtividade; 
c) para a equipe de meio ambiente e sustentabilidade, a SP pode significar um grande avanço no auxílio do manejo de precisão das florestas que sofrem influência da variação climática, visando estimar as emissões de carbono causadas por desmatamento e queimadas e consequentemente, mitiga-las de forma mais efetiva e ágil.

Em linhas gerais, a SP apesar de ter definições bem amplas, consiste em um modelo, baseado no conhecimento prévio que envolve a variabilidade espacial e temporal dos fatores de produção, sejam esses relacionados ao solo, às plantas, ao ambiente ou a outro fator que possa ser mapeado e cuja variação possa ser, matematicamente, descrita.

Aliado a isto, a SP modifica o enfoque dado à silvicultura até então, pois, enquanto no manejo convencional a abordagem das atividades se dá de maneira uniforme, na SP esta mesma área é tratada geograficamente ponto a ponto. Um dos exemplos desta mudança de paradigma na compreensão da silvicultura está na possibilidade de ampliar o campo de visão nos processos, perpassando por um elevado controle de todos os processos operacionais envolvidos o que, em última análise, culmina com um melhor uso dos recursos naturais, dos insumos, dos equipamentos e, efetivamente, do capital investido.

Cenários e Aplicações:
A utilização de ferramentas computacionais associadas  à  variáveis climáticas, variáveis do ambiente, entre outras, é um desafio do setor florestal que visam automatizar suas análises diante de cenários extremos e de muitas incertezas. Nesse tocante, o processamento e interpretação de um grande conjunto de dados para áreas extensas é um dos pilares para se buscar a excelência das atividades operacionais.

A rápida expansão da área cultivada com eucalipto com seu elevado número de variedades e sua grande adaptabilidade às mais variadas condições edafoclimáticas, levou à necessidade de estudos que pudessem gerar no espaço e no tempo informações amplas, reduzindo riscos de incertezas sobre alguns fenômenos da natureza que ocorrem constantemente no ciclo da floresta. As florestas de eucalipto costumam se estabelecer em locais com alta demanda atmosférica, diferentes condições de cultivo e índices pluviométricos esparsos e irregulares em alguns períodos do ano, que colocam em risco os principais fatores de sucesso da SP, denominados 9S, quais sejam:
a) topografia;
b) clima;
c) genética;
d) fitossanidade;
e) plantas daninhas;
f) nutrição florestal;
g) plantio;
h) preparo de solo, e
i) fertilidade do solo;

Dentro do processo do manejo silvicultural os 9S são os fatores que necessitam diariamente de uma atenção detalhada, pois é a partir desse conhecimento prévio que surgem as especificidades de soluções, as quais são uma característica chave da SP. Nesse contexto as diversas aplicações da SP são implementadas, conforme:

• Ciências de dados x Meteorologia florestal: atualmente existem inúmeros repositórios online com banco de dados históricos de clima de todo o mundo, o que tem permitido aprofundar análises, criar visualizações, escalar processos e automatizar rotinas acerca da distribuição e probabilidade da chuva anual, de anomalias climáticas, da probabilidade de eventos de seca, da modelagem dos efeitos do sistema El Ninõ. Essas avaliações elevam o nível de gerenciamento das ações.
 
• Sensoriamento remoto x Monitoramento de plantas daninhas: desenvolvimento de um sistema de apoio à decisão para indicação de áreas prioritárias à intervenção no campo, baseado no monitoramento remoto de alta frequência, para detecção, mapeamento e alerta de plantas daninhas no campo. Sistemas como esse, já existem e oferecem diagnósticos confiáveis, compatíveis com a rapidez e a escala com que estes problemas se manifestam. O fluxo de trabalho para sistemas especialistas como este, envolve quatro principais etapas: 1) Monitoramento e diagnóstico; 2) Elaboração de mapas; 3) Análise temporal, e 4) Geração de alertas.

• Inteligência artificial x Zoneamento de risco para ocorrência de pragas: o zoneamento de uma forma geral é uma ferramenta importante para a delimitação de áreas com aptidões para possíveis incidências de pragas, podendo estar associados a indicadores climáticos, hidrológicos e características intrínsecas e extrínsecas das plantas. Nesse contexto, ferramentas para integrar sistemas especialistas como por exemplo: análises espaciais, sistemas de informação geográficas, lógica fuzzy, entre outras, são importantes para esse tipo de investigação mais aprofundada, podendo auxiliar na recomendação de manejos que visem reduzir os impactos da incidência da praga.

Evolução:
Há algumas décadas não imaginávamos que poderíamos vislumbrar uma silvicultura diferente da convencional, repleta de inovações tecnológicas como: pulverização aérea via drones, machine learning, reconhecimento de padrões, data mining, plataformas digitais, entre outras. Entretanto, essa evolução (apesar de lenta) está associada a três pilares fundamentais: 
a) criatividade; 
b) diversificação, e 
c) inovação. 

Uma visão ampla e direcionada requer uma abordagem complexa, conhecimento e capacitação, planejamento antecipado e apostar em soluções. Nesse caminho, é importante frisar  que a SP é uma evolução positiva para o setor florestal, com táticas de manejo automatizadas, mais eficientes, permitindo que as tomadas de decisões sejam mais assertivas.