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Ivan Tomaselli

Presidente da STCP

OpCP81

Seguindo a rota da agricultura
A evolução da humanidade nos ensina por que motivo devemos investir em plantações florestais. Na idade da pedra, o homem primitivo buscava alimentos, madeira e outros produtos na natureza. Os alimentos eram basicamente sementes, frutas, carne de animais silvestres, algumas raízes e folhas encontradas na natureza. A madeira, também encontrada na natureza, era utilizada para gerar calor, cozinhar alimentos, construir abrigos, produzir ferramentas para proteção e outros usos.
 
Não havia uma preocupação com a sustentabilidade dos recursos, pois a população era pequena e a natureza abundante. À medida que a população cresceu, se formaram grupos maiores de pessoas e cidades, e houve uma mudança. A história antiga, de antes de Cristo, tem inúmeros exemplos de períodos críticos quando eram formados centros com maior população, com falta de alimentos e de outros recursos como madeira para o aquecimento e para cozinhar, que levaram a revoltas, ao desaparecimento completo de cidades e até mesmo a queda de impérios. 

Com o aumento da população, o homem aprendeu que era necessário cultivar as terras para produzir mais alimentos, atendendo à crescente demanda. 

Como resultado, ao longo dos milênios e séculos foram desenvolvidas tecnologias para melhorar a produtividade dos cultivos, aumentar a oferta e reduzir os custos dos alimentos. Atualmente, uma parcela ínfima dos alimentos é produzida em áreas naturais não cultivadas. A agricultura usa tecnologias avançadas, o que possibilita atender às necessidades de bilhões de pessoas espalhadas no nosso planeta.

No caso da madeira, a mudança da fonte de suprimento ainda se encontra em curso. Atualmente, observa-se que uma parcela importante da madeira consumida é proveniente de florestas nativas. Existe um esforço importante para produzir madeira de forma sustentável a partir dessa fonte.

Os defensores dessa forma de produção apresentam vários argumentos para justificar a sua continuidade, como qualidade diferenciada da madeira, a contribuição da atividade para geração de renda e emprego às comunidades que vivem nessas florestas e outros. Por outro lado, existem os que consideram que a produção de madeira a partir de florestas nativas é uma atividade que leva à degradação dos recursos, com impactos indesejáveis na biodiversidade, no solo e na qualidade da água.

Seja qual for o argumento, o fato é que produzir madeira somente a partir de florestas nativas manejadas não atende à demanda dos 8 bilhões de habitantes de nosso planeta. O consumo mundial de madeira atual é de cerca de 4 bilhões de metros cúbicos ao ano e continua a crescer.

Para atender a esta demanda, em função da baixa produtividade das florestas nativas manejadas com base nos princípios de sustentabilidade, seria necessário ter uma área de “florestas nativas de produção” entre 4 e 6 bilhões de hectares. Essa área não está disponível e, com a crescente pressão para conservação de áreas florestais remanescentes, ainda menos estará disponível no futuro. 

A conclusão é que devemos mudar de rota, fazer o que a agricultura fez séculos atrás, ou seja, plantar florestas de alta produtividade para atender à exigência global de madeira e de outros produtos florestais. É obvio que parte do suprimento, especialmente madeiras com propriedades e características diferenciadas, poderá continuar a ser originária de florestas nativas, mas o grande volume será
produzido em plantações. 

Embora mais tarde que a agricultura, a mudança de rota na silvicultura já está em curso. Em alguns países como o Chile, a Nova
Zelandia, a Austrália, o Uruguai e a África do Sul, praticamente toda a madeira produzida é de plantações florestais. No Brasil e na Argentina, por exemplo, mais de 90% da madeira industrial também é desta fonte.
 
Plantações geram significativos impactos econômicos, ambientais e sociais, a grande maioria positivos. As plantações florestais têm produtividades muito superiores às de florestas nativas. A produtividade é de 20 a 50 vezes maior e, com isto, ocupa áreas proporcionalmente menores, ou seja, para atender ao consumo mundial de 4 bilhões de metros cúbicos, a área ocupada por plantações seria muito menor, talvez em torno de 200 milhões de hectares, dependendo da produtividade média. Ademais, as plantações em geral são implantadas em locais de melhor infraestrutura, tendem a reduzir os custos de logística, bem como facilitam o manejo e a colheita e proporcionam melhores resultados em bens e benefícios à sociedade por essas atividades.
 
Esses fatores têm, apesar dos investimentos na implantação e no manejo mais intensivo das florestas plantadas, um efeito positivo com a redução da área ocupada e impactam na redução do custo da madeira produzida. É difícil quantificar, de forma genérica, esse impacto econômico e social, pois existem muitas variáveis envolvidas, mas o fato é que o menor custo da madeira de plantações tem corroborado para a competitividade de produtos de madeira no mercado, para o aumento da renda e para a melhoria das condições sociais. Na realidade, são as plantações que têm contribuído para o Brasil ganhar maior participação no mercado internacional de produtos florestais.
 
Além do menor custo, a madeira de plantações tem outras vantagens comparativas. É um produto de características, propriedades e dimensões relativamente controladas. Isto facilita o planejamento da produção e o processamento, reduz os desperdícios e os custos e, graças aos desenvolvimentos tecnológicos industriais, disponibiliza produtos de madeira mais uniformes e de melhor qualidade. Esses fatores contribuem para melhoria da rentabilidade do negócio.
 
As plantações florestais no Brasil levaram ao surgimento de uma “nova indústria florestal”, mais moderna e competitiva, de maior escala e mais rentável. Isso levou a um aumento do emprego e à necessidade de qualificação dos colaboradores, o que resultou em um aumento de renda, com um enorme impacto social.   
 
A conclusão é que o suprimento global futuro de madeira será baseado principalmente em madeira de plantações, seguindo o mesmo viés da produção de alimentos. As florestas nativas continuarão sendo importantes no suprimento de madeiras especiais, mas terão uma contribuição marginal ao volume total. 
 
A redução da oferta de madeira de florestas nativas será crescente, fruto de limitações ao acesso ao recurso cada vez maiores por diversos fatores. Como resultado, o suprimento da indústria florestal será cada vez mais baseado em madeira de plantações.

Os fatores determinantes são, como já mencionado, o menor custo desta fonte de suprimento, a ocupação de uma área de produção significativamente menor, o maior controle sobre dimensões e qualidade da madeira. Esses fatores permitem melhorar a produtividade na cadeira de produção e a competitividade no mercado, gerando impactos econômicos, ambientais e sociais positivos.