Gerente de Relações Institucionais de Responsabilidade Social da Bahia Specialty Cellulose / Copener Florestal
Op-CP-36
Quem nunca ouviu falar na regra de três? É aquela prática fórmula que permite – dado um conjunto de valores de várias grandezas direta ou inversamente proporcionais a uma delas – determinar o valor desconhecido, estabelecendo a correspondência com o grupo de valores restantes. Com certeza, todos nós, em nosso tempo de escola, utilizamos muito essa técnica, e alguns a utilizam até os dias de hoje.
Mas não é da regra de três aplicada às ciências exatas que desejo tratar aqui. Mas sim da regra de três aplicada à sustentabilidade. Aos três pilares da sustentabilidade, o Triple Bottom Line ou o tripé da sustentabilidade, que corresponde aos resultados de uma organização medidos não apenas em termos econômicos, mas também considerando as questões ambientais e o desenvolvimento social.
Com isso, as fronteiras entre os valores corporativos e humanos começam a se dissolver, já que as corporações precisam se empenhar em obter um desempenho bem-sucedido com relação aos três pilares. Pelo aumento do nível de exigência do mercado consumidor, as empresas tiveram que buscar, simultaneamente, não somente o tradicional pilar da lucratividade, mas também a qualidade ambiental e a justiça social.
Considerando que a sustentabilidade é o princípio que assegura que as nossas ações de hoje não limitarão a gama de opções econômicas, sociais e ambientais disponíveis para as gerações futuras e que o desenvolvimento sus- tentável proposto pelo governo e líderes corporativos como solução para os problemas que começam a fazer parte da pauta internacional, aumenta, a cada dia, a expectativa de que as empresas podem ser parceiras na busca por um mundo melhor.
Aliás, parceria é outro pilar que, juntamente com valores e transparência, forma mais um dos triângulos ou tripés da sustentabilidade. Nessa regra de três, buscamos encontrar um quarto elemento: o engajamento das partes interessadas e seu envolvimento em todas as etapas do projeto de uma organização.
As empresas precisam entender que mapear e envolver suas partes interessadas, ao longo de todo o seu projeto, pode trazer resultados inimagináveis e altamente produtivos. Quando as pessoas sentem-se participantes de um projeto, é como se elas estivessem sendo convidadas a fazer parte da construção de uma história para a qual elas terão o enorme prazer em contribuir.
As empresas sabem o que fazer para alcançarem os resultados econômicos desejáveis. Quando as questões ambientais passaram a ser consideradas com grande ênfase nas análises dos diferentes projetos, as organizações precisaram se preparar para entender, identificar e analisar os impactos ambientais para, então, propor medidas de mitigação.
Então, por que será que, com a área social, muitas empresas ainda insistem em oferecer pacotes prontos de projetos para as comunidades que vivem em suas áreas de influência? Por que essas pessoas devem aceitar qualquer ajuda que venha como se fosse um “cavalo dado, do qual não devem olhar os dentes”? Por que muitas empresas ainda não dão a devida atenção a uma área que está sendo considerada nos principais processos de certificação empresarial?
No caso das empresas de reflorestamento, por exemplo, a certificação mais desejada, a de manejo florestal do Forest Stewardship Council (FSC), considera as questões sociais com grande prioridade, incluindo dois princípios específicos para tratar do desenvolvimento da população e do respeito e reconhecimento das comunidades tradicionais, além de critérios que integram outros princípios, como os outros usos da floresta, o respeito aos direitos trabalhistas, os direitos costumários de comunidades tradicionais, a identificação, a análise e as medidas de mitigação de impactos sociais, dentre outros.
Dessa forma, mesmo que a empresa seja referência em plantio de eucalipto, em inovação tecnológica, em treinamento e capacitação profissional e em responsabilidade ambiental, se ela não buscar conhecer a realidade socioeconômica da região onde atua e envolver todas as partes interessadas no desenvolvimento de ações socioambientais, perderá espaço dentro de um mercado que não cansa de ser cada vez mais exigente.
E aí entra a próxima regra de três: a união dos pilares sustentados pelo governo, as empresas e a sociedade, na busca do quarto e fundamental elemento: a parceria pelo desenvolvimento integrado e sustentável. Como a própria palavra sustentabilidade já diz: é preciso habilidade para sustentar cada um desses pilares para que eles formem um tripé forte e duradouro.
Caso contrário, se cada um desses pilares tentar atuar de forma independente, não passará de traços, sem qualquer ligação de apoio. O que quero dizer é que as diversas áreas de uma empresa precisam estar alinhadas e trabalhar de forma integrada em busca de melhor desempenho.
Voltando ao exemplo das empresas de reflorestamento, de que adiantaria desenvolver projetos sociais, se, ao mesmo tempo, as comunidades se sentissem desrespeitadas por alguma atuação da empresa em qualquer uma das suas frentes de trabalho, como, por exemplo, durante o transporte de madeira? De que adiantaria contar com a melhor tecnologia para produção de mudas, se os impactos ambientais da atividade não fossem evitados ou mitigados?
De que serviria ter em sua carteira de clientes grandes empresas multinacionais e oferecer um produto de altíssima qualidade, se nada fosse feito pelo desenvolvimento das pessoas que estão dentro e nas áreas vizinhas à empresa?
Fica muito claro que uma coisa puxa a outra e que, se todos andarem em filas, ao invés de darem as mãos e trabalhar de forma integrada, os resultados esperados jamais serão alcançados.
É preciso enxergar a regra de três como a regra de nove, composta pelos três triângulos que formam um grande e coeso triângulo em busca de um elemento maior: a sustentabilidade em todos os seus sentidos.
Então, por que não inovarmos, chamando de ninesided triangle, ou o triângulo de nove lados? Se cada um dos nove pilares aqui citados for sustentado por todos os envolvidos, com certeza o resultado será o desenvolvimento de projetos melhores, mais viáveis economicamente, ambientalmente corretos e socialmente justos, como rege a teoria da sustentabilidade.
Para que a teoria realmente possa ser realidade na prática, ainda há muito a fazer, refletir, discutir e construir. Os pilares ambiental e social precisam possuir o mesmo valor do pilar econômico dentro de uma organização. Caso eles sejam vistos apenas como obrigações a serem cumpridas, jamais se tornarão sustentáveis.
A habilidade de sustentar, conforme falei anteriormente, tem que vir de cima para baixo, de baixo para cima, pelas laterais e até mesmo pelas tangentes. O compromisso da empresa precisa ser visto em toda a sua cadeia produtiva, independentemente de nível hierárquico.
Quando os funcionários de uma empresa enxergam que trabalham em uma organização ética, comprometida com seus valores, transparente com seu público interno e externo, parceira do governo e das comunidades, responsável com os recursos naturais e que investe em capacitação e tecnologia, entendem que possuem um papel fundamental na construção de uma história de sucesso.