Ao longo dos anos, o processo de colheita florestal evoluiu de forma significativa, alcançou um nível de mecanização extremamente elevado, transformou o ambiente de trabalho, deixando-o mais seguro, e reduziu os custos operacionais. Além disso, está exigindo maior qualificação da mão de obra operacional e da gestão, pois os recursos utilizados atualmente possuem alta tecnologia embarcada e precisam ser maximizados para trazerem, no menor tempo possível, o retorno do investimento realizado. Mesmo com tanta evolução, o processo de colheita ainda representa uma parcela expressiva dos custos de produção da madeira posto fábrica, merecendo, ainda, investimentos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para ganhos de performance.
Não há mais espaço para dúvidas em relação à necessidade de um exercício sistemático do planejamento para implementar as melhores alternativas. O objetivo é maximizar as operações e, consequentemente, os lucros das empresas, preservando o meio ambiente e as particularidades sociais das regiões de atuação. Para isso, diversas tecnologias estão sendo disponibilizadas no mercado para conferir ao planejamento operacional maior confiabilidade e, aos gestores, maior agilidade no processo decisório.
Nesse sentido, tecnologias via satélite estão ganhando força, pois disponibilizam, em tempo real, informações sobre o funcionamento dos equipamentos. A automação da colheita florestal tem permitido obter informações-chave para os gestores, aumentando, assim, as variáveis contempladas nos planejamentos operacionais.
Todos os movimentos e operações envolvidos na colheita florestal podem, atualmente, ser disponibilizados em tempo real, tais como: localização dos equipamentos e sua utilização, consumo de combustível, produção por equipamento, necessidade de intervenção mecânica, distância percorrida, bem como o horímetro e a distância e o tempo de transporte do equipamento, informações básicas para a tomada de decisão na rotina de gestão de uma operação de colheita.
O que antes demandava apontamentos em papel para posterior digitação, processamento e disponibilização para os gestores está disponível em tempo real em função da automação. Dentro desse processo, a telemetria – sistema tecnológico de monitoramento – permite extrair o máximo de cada equipamento, seguindo o que é recomendado pelo fabricante, o que proporciona ganhos de eficiência, flexibilidade e economia, com reduções de custos operacionais e de manutenção.
Toda essa tecnologia só faz sentido se utilizada de forma eficaz, monitorando diariamente o planejamento operacional para que os ajustes necessários para contornar possíveis desvios sejam feitos em tempo, o que garante eficiência operacional, disponibilidade mecânica e, consequentemente, produção por equipamento.
A demanda por sistemas que fazem essa ligação entre “plano e real” está latente, pois a inteligência por trás de algoritmos é muito superior ao que conseguimos colocar em planilhas, por mais sofisticadas que sejam. Essa inteligência é capaz de “rodar” o planejamento com informações atualizadas e sugerir mudanças que vão ao encontro do que foi planejado, além, é claro, de construir um planejamento com o máximo de variáveis otimizadas. Com esse recurso, fica ainda mais clara a identificação dos gargalos operacionais, e é possível disponibilizar aos gestores o caminho para os trabalhos de melhoria contínua.
Entretanto nem tudo será substituído pela automação, logo, padrões operacionais devem ser constantemente verificados in loco para assegurar que as atividades de colheita e pós-colheita sejam realizadas de acordo com as respectivas premissas técnicas. Contudo o controle de qualidade nas operações de colheita é fundamental para assegurar que o produto gerado em cada atividade esteja conforme demanda.
Portanto itens importantes devem ser monitorados, como altura e/ou danos na cepa; ângulo, número de árvores, uniformidade e encabeçamento/alinhamento dos feixes de madeira; sentido de arraste/baldeio, disposição e altura das pilhas de madeira na borda do talhão; árvores perdidas no talhão; comprimento das toras de madeira; limpeza da madeira, entre outros. Seguindo essa linha, o controle “quantitativo” tem considerável importância. Podemos destacar: tempo de ciclo de cada operação; quantidade de árvores cortadas por hora; tempo de parada do equipamento por motivos operacionais e mecânicos; balanceamento da produção entre as operações; e tempo de permanência da madeira dentro e na borda do talhão.
Quando falamos de controle “qualitativo e quantitativo” na colheita, entra, na minha visão, o segredo do planejamento, dos movimentos envolvidos e das operações de uma colheita florestal, pois estamos falando dos atores do processo: operadores e gestores. Evoluímos muito em equipamentos, recursos de monitoramento e ferramentas de controle, mas nada substituiu a habilidade e a liderança das pessoas.
Muito pelo contrário, temos sido cada vez mais exigidos. Afinal, de que adiantam os avanços tecnológicos nos equipamentos se não tivermos operadores capacitados e com habilidades para extrair do equipamento o máximo permitido? De que adiantam os avanços em monitoramento dos equipamentos se não tivermos gestores e lideranças capazes de utilizar essas informações, transformá-las em ganhos de performance e, consequentemente, redução dos custos operacionais?
O foco em desenvolvimento desses atores do processo de colheita deve ser prioridade no planejamento das empresas, haja vista sua importância, a grande dificuldade de encontrar mão de obra qualificada, principalmente para o setor de manutenção mecânica, e o alto custo de formação dessa mão de obra internamente. A isso soma-se o risco de formação e a perda desse profissional qualificado para o mercado. Resumindo: o segmento continuará desenvolvendo equipamentos e tecnologias para suporte às operações, logo, as empresas precisam desenvolver sua mão de obra interna para extrair desses recursos sempre o melhor.
Nesse sentido, atrair as pessoas certas para os cargos e estabelecer políticas de retenção e motivação dessa mão de obra qualificada, de modo a combinar objetivos próprios de carreira com os da empresa, é de extrema importância. Atrair e reter talentos é parte integrante do sucesso e da sustentabilidade da empresa, e isso não quer dizer apenas salários e incentivos. É algo maior.
É transformar toda a organização para criar um ambiente no qual as pessoas queiram entrar e permanecer. Afinal, encontrar e manter os talentos necessários para o sucesso é um dos maiores desafios enfrentados pelas empresas. Importante salientar que é preciso simplicidade para garantir a continuidade e despertar a percepção de valor pelos principais interessados, os colaboradores.
Alguns itens impactam fortemente na obtenção do engajamento: investir na ampliação do conhecimento técnico – formando operadores e mecânicos polivalentes para atuar em todos os equipamentos do processo de colheita; investir na capacitação e no desenvolvimento de operadores, buscando a autogestão e a divisão clara de responsabilidades; desenvolver programas de estímulo e valorização ao alto desempenho; incentivar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional para aumentar a qualidade de vida; e investir no desenvolvimento da liderança responsável pelo crescimento direto da equipe.
Ainda nesse contexto, investir na implantação de estruturas organizacionais que permitam um fluxo de trabalho ágil e eficiente, na comunicação clara e assertiva, em políticas de reconhecimento e consequência e nas relações de trabalho entre líder e liderado, são decisões que reforçam o impacto na obtenção do engajamento e, consequentemente, na efetividade dos profissionais. O engajamento é o vínculo afetivo, a vontade de ir além, e indica o entusiasmo pelo trabalho e pela empresa.
Em um cenário no qual as pessoas são um dos fatores determinantes para o sucesso organizacional e um ativo vital, é chegada a hora de receber a mesma atenção dos grandes investimentos em desenvolvimento de equipamentos e tecnologias para o setor florestal.