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Brígida Maria dos Reis Teixeira Valente

Coordenadora de Melhoramento e Biotecnologia da Eldorado

OpCP65

O impacto do melhoramento genético na densidade

Desde o início do melhoramento de Eucalyptus, os caracteres de crescimento ficaram em evidência. A constatação de que híbridos de espécies diferentes potencializavam a obtenção de progênies produtivas, somada a evolução das técnicas de clonagem, fez com que as empresas obtivessem grandes incrementos iniciais, permitindo que se mantivessem estagnadas nessa linha de desenvolvimento por certo tempo. Quando novos avanços em produtividade foram requeridos, a busca por melhoria das propriedades tecnológicas da madeira foi evidenciada.


Por sua importância para os processos de produção industrial, tanto de carvão vegetal quanto para celulose, a densidade da madeira recebeu certa atenção, o que contribuiu para seu maior conhecimento. Já há algum tempo, sabemos que essa característica quantitativa apresenta herança aditiva, ou seja, as progênies (plantas obtidas por cruzamento) apresentarão valores que podem variar do menor valor até o maior valor dos progenitores (parentais cruzados para obtenção das progênies).


No melhoramento para a densidade da madeira, tanto para sua redução quanto para seu incremento, já fica clara uma oportunidade, o cruzamento de progenitores díspares pode ser utilizado para obter avanços mais significativos na direção desejada. Subsequente uma avaliação e seleção das progênies eficiente, possibilitará o sucesso da ação implementada.


No decorrer do meu trabalho, conduzindo estratégias de melhoramento, foram avaliados diversos experimentos, e, por vezes, caracteres da madeira possuíam herdabilidade mais alta que caracteres de crescimento, demonstrando novamente que é possível implementar estratégias de melhoramento com grandes chances de sucesso.


Acredito que o setor que apresentou o maior desenvolvimento em caracteres da madeira foi o setor de carvão vegetal para o setor siderúrgico. Como as características do carvão vegetal estão mais claramente ligadas às características da madeira, essa demanda ficou mais evidente e impulsionou a implementação de estratégias de melhoramento, avaliação e seleção para esse fim.


É possível evidenciar esse incremento no gráfico em destaque na página seguinte. Ele mostra a densidade média de clones selecionados em estratégias de melhoramento em prática, em duas empresas: a Empresa 1, do setor de carvão vegetal, e a Empresa 2, do setor de celulose. Essas fases mostram resultados para a densidade, obtidos com a mudança em estratégias de melhoramento genético em ambas as empresas.


Na primeira fase, as empresas ainda buscavam o incremento apenas de crescimento volumétrico, e as espécies que compunham as estratégias eram basicamente E. grandis, E. urophylla e E. saligna. Como mencionado anteriormente, foi uma fase de ganhos relevantes em produtividade.


Já na segunda fase, observamos um incremento significativo na Empresa 1. Nesse momento, eram colhidos os primeiros frutos da inserção de outras espécies nas estratégias de melhoramento, buscando a melhoria da qualidade da madeira para carvão vegetal. A espécie que impulsionou esse resultado foi E. camaldulensis, utilizado em cruzamentos controlados com E. grandis e E. urophylla. Essa estratégia ainda impulsionou ganhos em clones selecionados na terceira fase. Na terceira fase da Empresa 1, foram selecionados os primeiros clones híbridos de três espécies (tricross) e também clones com outras espécies, como E. pellita.


A Empresa 2 começou a desenvolver estratégias com outras espécies para qualidade da madeira mais tardiamente, mas, como podemos observar, já na terceira fase, apresentou clones com densidades muito próximas às da Empresa 1. O fator que favoreceu essa empresa foi a sua localidade, que permitia utilizar uma gama de espécies diferentes da Empresa 1. As espécies utilizadas apresentavam alto potencial para agregar densidade, entre elas:  E. globulus e E. dunnii.


Na quarta fase do gráfico, a Empresa 1 apresentou relevante aumento, pois era marcada, nesse momento, a saída de clones das estratégias do gênero Corymbia. Com a necessidade cada vez maior de aumentar a produtividade em carbono por hectare, a Empresa 1 voltou a direcionar energia no desenvolvimento de híbridos de espécies desse gênero, que possuíam alto potencial para agregar densidade.


É importante destacar que as diferenças no gráfico não apontam inferioridade ou superioridade entre as empresas, mas sim as diferenças entre as estratégias de melhoramento implementadas e os resultados obtidos.


Fica claro que as estratégias de melhoramento desenvolvidas por ambas as empresas foram relevantes para o incremento em densidade da madeira e que possuem alto potencial para capitalizar ganhos nos processos produtivos e industriais, tanto para carvão vegetal quanto para celulose.


Torna-se estratégico para as empresas do setor florestal manter sempre alinhados os objetivos de longo prazo do negócio com as estratégias de melhoramento implementadas.