As árvores plantadas, em harmonia com a preservação de florestas nativas, são um dos alicerces de um mundo mais sustentável, no qual produtividade, resiliência e responsabilidade socioambiental deixam de ser metas, para se tornarem exigências. Em um cenário de crise climática, que já impacta nosso presente e clama por respostas urgentes, esse modelo de uso da terra, que combina árvores plantadas com florestas nativas, tem elevado o potencial de atender à crescente demanda global por produtos renováveis e, ao mesmo tempo, dar uma resposta concreta aos desafios do planeta.
Construir esse futuro, contudo, requer mais do que inovação contínua; exige uma transformação na forma como cuidamos e utilizamos os recursos naturais e interagimos como sociedade, respeitando de forma irrecusável os limites do planeta.
Uma das características da indústria de produtos florestais é olhar o futuro e pensar além do curto prazo, uma vez que plantamos árvores que serão colhidas somente anos mais tarde. Todavia, imaginar o futuro se tornou muito mais complexo, diante das dúvidas e desafios impostos pela crise climática. Sobretudo quando constatamos que, em 2023, já atingimos uma temperatura média do planeta 1,45 grau acima daquela que tínhamos no período pré-industrial. Infelizmente, isso nos permite concluir que a Terra não tem mais conseguido ser resiliente à atividade humana.
Os eventos extremos, como inundações e ondas de calor, não se restringem aos centros urbanos. No campo, as árvores enfrentam, com uma frequência cada vez maior, condições de estresse hídrico e térmico, além de novas pragas e doenças. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o número de dias com ondas de calor no país aumentou de 7 para 52 por ano nas últimas três décadas, representando um crescimento de 642%.
Além disso, o período médio de dias consecutivos sem chuva subiu de 80-85 dias para cerca de 100 dias entre 2011 e 2020, especialmente no norte do Nordeste e no centro do país. Cientistas estimam que até 2050 podemos ter uma perda equivalente a 18% do PIB global em função de desastres e catástrofes causadas por problemas relacionados à crise climática.
Os dados disponíveis não deixam dúvidas e reforçam a gravidade dos fatos. Se, no passado, o ganho de produtividade era o principal driver de sucesso de uma operação de silvicultura, hoje está claro que a eficiência está diretamente ligada à resiliência. A incidência de pragas, antes medida em anos, agora é mensurada em meses. Com as mudanças climáticas, insetos, bactérias, fungos e vírus se adaptam mais rapidamente do que as árvores a essa nova realidade. E, consequentemente, enfrentamos mais problemas de quebra de resistência genética das árvores por essas novas pragas e doenças.
Para lidar com essa adversidade, o nosso principal antídoto continua sendo o desenvolvimento tecnológico. Programas de melhoramento genético, com ampla variabilidade, nos permitem gerar novos clones durante várias gerações, oferecendo uma solução sustentável no tempo, diante das mudanças no ambiente. Além disso, temos de continuar evoluindo no uso, a nosso favor, da interação genótipos x ambientes.
Atualmente, temos acesso mais fácil e barato a ferramentas de big data, inteligência artificial e modelagem avançada, visando aumentar a chance de se chegar ao melhor match clone x local de plantio, assegurando performance florestal e maior resiliência. Ou seja, diante de tanta complexidade ambiental, não é mais possível alcançar os resultados desejados apenas por meio de observação de campo. Ela continua sendo importante, mas temos de “turbiná-la” com o uso de tecnologias de ponta.
No entanto, é necessário ir além. O manejo adequado também é essencial. Isso inclui práticas como preparo de solo com foco na conservação desse recurso essencial, fertilização equilibrada e uso de outros métodos sustentáveis para assegurar a saúde das árvores. Um exemplo relevante é a evolução do controle biológico de pragas. Somente na Suzano, vamos fechar 2024 com a liberação de cerca de 310 milhões de insetos que atuam como inimigos naturais, o que tem contribuído, de forma decisiva, para proteger as nossas árvores e melhorar o equilíbrio ambiental nos ecossistemas onde atuamos.
Esse número é 5 vezes maior do que o praticado há apenas seis anos, mostrando o êxito dessa técnica, que replica a natureza no combate às pragas. E isso não é tudo. O tão desejado equilíbrio também é impulsionado pela coexistência de áreas de plantio intercaladas com áreas nativas preservadas, os chamados “mosaicos florestais”. Mais recentemente, estabelecemos o compromisso de conectar 500 mil hectares de fragmentos de matas nativas, por meio da formação de corredores ecológicos, contribuindo significativamente para o aumento da biodiversidade.
Contudo, ao analisarmos os desafios das árvores plantadas do amanhã, temos de também considerar outras questões, além dos desafios tecnológicos. Um ponto fundamental, e ainda pouco considerado, é a escala dos empreendimentos de base florestal, principalmente na indústria de celulose e papel. A mesma escala que tornou o setor extremamente competitivo no Brasil, também aumentou a sua vulnerabilidade. Por exemplo, os impactos nas comunidades vizinhas e o risco de pragas, doenças e incêndios são todos potencializados pela extensão territorial dos plantios.
Ou seja, os benefícios alcançados pela maior escala das fábricas são acompanhados de potenciais problemas, também em escala aumentada. Para mitigar essa questão, não bastam “apenas” árvores mais resilientes. Precisamos também fazer uma profunda reflexão sobre o atual modelo fundiário nos setores agrícola e florestal. Não se trata de sair da alta escala para o modelo familiar, pois este não parece ser a solução para atender à demanda crescente de alimentos e madeira.
Mas será que a única solução é a alta escala? Será que esse modelo, que nos trouxe com muito sucesso até aqui, será o mesmo que nos levará ao futuro? Atualmente, a agenda de diversidade, equidade e inclusão está na pauta dos negócios, felizmente. Será que essas dimensões também deveriam ser melhor consideradas quanto se trata do uso da terra?
Poderíamos ter, no futuro, um modelo híbrido, maior que a escala familiar, porém mais inclusivo e diverso que o atual, equilibrando melhor as necessidades de um número maior de stakeholders? Não tenho uma resposta pronta, uma “bala de prata” para encaminhar essa questão. Mas confesso que me sentiria melhor se percebesse mais fortemente essa reflexão nas agendas de hoje, para criar uma floresta plantada do amanhã superior aos modelos atuais.
Outro aspecto relevante: as nossas árvores plantadas precisarão ser cada vez mais “ambidestras”, um termo usualmente atribuído ao mundo dos negócios, mas que se encaixa na realidade das árvores plantadas do futuro. Por exemplo, o eucalipto, largamente usado para a produção de carvão, celulose e energia limpa, terá de ser, de certa forma, reinventado, pois precisará atender a uma variedade crescente de bioprodutos, cujos requisitos de qualidade da madeira poderão ser diferentes daqueles exigidos para os produtos atuais.
Ou seja, as árvores plantadas continuarão sendo importantes para manter a produção dos atuais produtos “e” – não “ou” – também serão essenciais como matéria-prima renovável para aplicações que impulsionem a descarbonização do planeta, algo essencial para a nossa sobrevivência.
Além da ambidestria das árvores atuais, principalmente pinus e eucalipto, possivelmente será necessário diversificar o portfólio de fibras, eventualmente até mesmo com espécies nativas brasileiras. Como a demanda por diferentes aplicações da madeira está aumentando, há que se estudar mais profundamente a imensa variabilidade existente nas espécies florestais brasileiras. Essa diversificação pode gerar soluções inéditas, desconhecidas atualmente, que atendam às demandas futuras de consumo mais consciente e tragam novas perspectivas para a agenda da bioeconomia global.
Importante ressaltar, todavia, que não haverá avanço tecnológico capaz de preparar o setor para o futuro se as pessoas não estiverem no centro dessa transformação. Isso se aplica às fazendas, laboratórios, escritórios e operações em geral. No campo, o maior desafio é o processo de urbanização e crescente desinteresse das novas gerações pelas atividades manuais. Mecanização e automação não representam, portanto, ameaça a empregos, mas sim a solução para que as atividades ligadas ao uso da terra continuem sendo capazes de fazer frente às mudanças nos padrões de produção da sociedade global.
Adicionalmente, precisamos considerar o contexto em que as florestas plantadas estão localizadas, agora e no futuro. Na Suzano, por exemplo, nossa atuação se expande por mais de 200 municípios, muitos dos quais distantes dos grandes centros urbanos e onde o poder público tem pouca atuação. Isso torna a ciência social uma dimensão essencial dos nossos negócios. Não há como pensar em expansão de plantios sem considerar a nossa responsabilidade diante da carência das muitas regiões em que atuamos.
No Brasil, isso não pode ser visto como um “favor” para a sociedade; ao contrário, temos de pensar em parcerias estratégicas com as comunidades que fazem parte das nossas áreas de plantio. E na floresta do futuro isso será cada vez mais importante, evoluindo definitivamente da filantropia para o desenvolvimento social sustentável.
As oportunidades são inúmeras e muito mais efetivas do que simples iniciativas assistencialistas. São os programas sociais que contribuem para a capacitação profissional, geração de renda e promoção de educação de qualidade. É o olhar para desenvolver o fornecedor local e engajar parceiros na promoção da qualidade de vida para todos, obviamente incluindo as nossas comunidades vizinhas. É a prática diária do diálogo aberto e transparente, sem fugir de dilemas e questões sensíveis.
Na Suzano, essa atuação reflete os nossos direcionadores de cultura: queremos "gerar e compartilhar valor" com nossos públicos de relacionamento, e, para isso, precisamos ser "gente que inspira e transforma", que atua com a premissa de que "só é bom para nós se for bom para o mundo". Sem essa abordagem, não construiremos a floresta plantada do amanhã no Brasil de hoje.