Me chame no WhatsApp Agora!

Carlos Frederico Wilcken

Professor de Entomologia Florestal da Unesp-Botucatu e Coordenador do Proref/Ipef

Op-CP-35

Manejo integrado de pragas em plantio de eucalipto

Com o aumento expressivo da área plantada com espécies florestais no Brasil, se tem constatado aumento na ocorrência de pragas nativas e exóticas do eucalipto. A solução para resolver esse problema é o manejo integrado de pragas (MIP), uma filosofia baseada no uso de técnicas para manipulação do agroecossistema, visando manter os insetos na condição de não praga, de forma econômica e harmoniosa com o meio ambiente.

Dessa forma, não é necessária a erradicação da praga no campo, o que é quase impossível, mas apenas mantê-la em níveis baixos, possibilitando a convivência com o inseto no campo. O MIP é baseado em três premissas:
1. Avaliação do ecossistema, envolvendo monitoramento de pragas e inimigos naturais;
2. Tomada de decisão (controle ou não controle);
3. Escolha do método de controle, buscando, se possível, a integração entre eles. Os principais benefícios do MIP são a manutenção da produtividade da cultura florestal e a redução no uso de inseticidas químicos, pela utilização apenas nas áreas com infestação da praga, com possibilidade de uso de métodos alternativos ou pela integração entre os métodos. O MIP em florestas foi considerado estratégia básica pelo FSC, tanto que o órgão publicou, em 2009, um guia de manejo de pragas, doenças e plantas daninhas para florestas certificadas pelo selo FSC.

No caso de florestas plantadas de eucalipto, há poucos casos de MIP florestal, principalmente falta de mais pesquisas básicas, como a determinação do nível de dano econômico e de controle. Entretanto tecnologias recentes, como o sensoriamento aéreo, com uso de VANTs (veículos aéreos não tripulados), têm auxiliado na detecção de focos de pragas, como na avaliação de danos e perdas por desfolhamento. Os principais exemplos de MIP em florestas de eucalipto no Brasil são para formigas cortadeiras, cupins, lagartas desfolhadoras e pragas de viveiro.

No caso de formigas cortadeiras, o sistema envolve o monitoramento dos ninhos de saúvas e quenquéns, considerando o tamanho e a densidade de formigueiros por hectare. Após isso, os dados são analisados, considerando as informações do plantio, como idade do povoamento, tipo de clone, espaçamento e estimativa de produção. Após essa análise, que é feita por softwares específicos, é gerada a recomendação de controle ou não controle e a forma desse controle (qual tipo de formicida, quantidade estimada e forma de aplicação).

Atualmente, existem sistemas de monitoramento e manejo de formigas cortadeiras desenvolvidos nas próprias empresas florestais, como empresas prestadoras de serviços específicos para esse fim. Como resultado, o sistema de manejo de formigas cortadeiras tem possibilitado otimização na operação de controle e redução de custos, aumentando a precisão da recomendação e evitando desperdício de produto. Outro programa interessante é o monitoramento de cupins em plantios de eucalipto.

Os cupins são um tipo de praga de difícil previsão de ocorrência, pois são subterrâneos. Os danos principais são a destruição do sistema radicular ou o anelamento do caule das mudas novas. Na maioria dos casos, o produtor ou a empresa florestal faz controle preventivo, pela imersão das mudas em solução inseticida. O monitoramento de cupins, apesar de não ser considerado MIP, pois não há tomada de decisão baseado no grau de infestação, atinge os principais objetivos do manejo de pragas.

O monitoramento avalia a presença ou ausência de cupins-praga pela instalação de iscas de papelão no solo. Após 30 dias, essas iscas são avaliadas, e é feita a recomendação baseada apenas na presença da praga. Mesmo assim, a redução do uso de cupinicidas é expressiva, sendo, em média, acima de 60%, ou seja, esse programa tem demonstrado que os cupins têm ocorrência pontual, com possibilidade de determinar precisamente os focos de infestação para controle.

As lagartas desfolhadoras do eucalipto são um grupo importante, que causa danos em aproximadamente 50.000 ha/ano no Brasil. Algumas empresas florestais adotam um sistema de monitoramento baseado na conjunção de duas formas de amostragem: avaliação de excrementos das lagartas e uso de armadilhas luminosas, as quais avaliam a população de adultos.

De acordo com a progressão da infestação, é feita a recomendação de controle, com preferência pelo uso de inseticida biológico à base de Bacillus thuringiensis. Nesse caso, é possível determinar o momento mais adequado para a aplicação do bioinseticida, além da avaliação da eficiência do controle realizado, com a redução da população de lagartas e de mariposas. Outro exemplo é o MIP da mosca do viveiro, em viveiros de eucalipto.

A mosca do viveiro são várias espécies de moscas da família Sciaridae que colocam seus ovos no substrato, e suas larvas alimentam-se da estaca de eucalipto, impedindo seu enraizamento. As perdas podem passar de 90% de estacas, em viveiros com alta infestação. O controle sempre foi baseado em aplicação de inseticidas químicos, com aplicações semanais ou até mais frequentes, com resultados insatisfatórios ou extremamente caros e impactantes. 

O programa de MIP para a mosca do viveiro teve que ser iniciado com estudos básicos, considerando a taxonomia das espécies e a determinação de seus ciclos biológicos. Em seguida, foi desenvolvido o sistema de monitoramento da praga, para avaliar com precisão as infestações nas casas de vegetação (CV) e também determinar o nível de controle da praga.

Nesse caso, a amostragem é baseada na instalação de armadilhas adesivas amarelas nas CVs. Quanto à escolha da forma de controle, recomenda-se a escolha criteriosa da fonte de matéria orgânica do substrato para as mudas, pois o substrato é a mais provável fonte das infestações, e a aplicação do inseticida biológico à base de Bacillus thuringiensis var.

israelensis, específico no controle de moscas e mosquitos. Novamente, teve-se redução de custos e praticamente a eliminação da necessidade de uso de inseticidas químicos, reduzindo impactos ambientais no viveiro e risco de exposição dos trabalhadores dos viveiros. Para as pragas exóticas do eucalipto, como o psilídeo-de-concha, percevejo bronzeado e vespa-de-galha, os estudos para o desenvolvimento de sistemas de manejo ainda estão em andamento.

Entretanto as estratégias principais de controle são o controle biológico clássico, com a importação de inimigos naturais da Austrália, e substituição gradativa de material genético suscetível por clones resistentes.

Para o psilídeo-de-concha, o parasitoide Psyllaephagus bliteus se estabeleceu no Brasil e, após 9 anos das primeiras liberações, o inimigo natural se encontra estabelecido no País, com redução evidente das infestações e danos nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.

Esses resultados demonstram que é possível realizar o manejo integrado das pragas do eucalipto, apesar das dificuldades por ser uma cultura florestal, com redução significativa no uso de produtos químicos e atendendo às exigências dos sistemas de certificações florestais, sem comprometer a produtividade das plantações florestais de eucalipto.