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Edimar de Melo Cardoso

Presidente do Conselho da AMIF (Associação Mineira da Indústria Florestal) e COO Aperam BioEnergia

OpCP67

As florestas plantadas e seu protagonismo no tripé da sustentabilidade
No atual momento, presenciamos eventos adversos, como o da pandemia da Covid-19, a invasão da Rússia à Ucrânia, a crise energética mundial, a pressão inflacionária, o mundo politicamente polarizado, contextos que geram rupturas no modo em que vivemos. Em todos esses eventos, é recomendável uma reflexão: esses conflitos - no campo das ideias ou das batalhas - estão nos direcionando a algo novo? Vivenciamos, hoje, o término de um ciclo e o início de uma nova era?
 
Diante de tantos desafios que se apresentam com velocidade diferenciada, esperamos que esteja em formação um novo mindset positivo aprendido. A humanidade possui, hoje, uma oportunidade para construir um mundo melhor, especialmente direcionado às novas e futuras gerações. Mais empatia entre os homens, conservação irrestrita dos recursos naturais, acesso incondicional à informação e ao direito, liberdade de expressão, com respeito e tolerância à rica diversidade de opiniões, de forma a proporcionar a integração e a inclusão, transformações nas relações e no modo de trabalho, chegando, assim, a uma nova forma de viver a sociedade. 
 
Entretanto, diante desse sonhado propósito mundial, estamos otimistas em relação a tudo isso? Como atuamos para, ao menos, alcançar as condições citadas? Proponho, aqui, fazermos essa reflexão relacionando esse contexto com o ciclo da indústria florestal.  Considerando nosso ciclo produtivo, ouso dizer que estamos no preparo de solo para um novo plantio.

Um tempo de oportunidades para se fazer melhor, cuidar conscientemente do nosso mundo e da humanidade, buscar recursos renováveis e meios sustentáveis de produção. Nesse cenário, as florestas plantadas podem demonstrar todo o seu potencial e protagonismo, contribuindo para melhorar e tornar mais sustentável o planeta em que vivemos.

De qualquer forma, podemos apontar para as novas oportunidades que vêm surgindo e se apresentando como excelentes estratégias para o setor de florestas plantadas. Se fizermos o dever de casa, temos todos os artifícios para sermos os principais protagonistas do fortalecimento da sustentabilidade dos diversos negócios, hoje representado pelo tripé ESG (Meio ambiente, Social e Governança).

Penso que, dessa vez, está soando diferente o comprometimento. As práticas se materializam por meio dos vários acordos firmados por mais setores da economia, que focam prioritariamente em metas de redução das emissões e também no consumo consciente e reduzido dos recursos naturais. O que está sendo citado permeará um novo ciclo, mais sustentável em todos os seus aspectos, especialmente ao olhar para a nossa história. 

A área estimada de florestas plantadas no Brasil totalizou, em 2020, 9,3 milhões de hectares, dos quais 70,6% concentrados nas regiões Sul e Sudeste. As áreas com cobertura de eucalipto corresponderam a 80,2% das florestas plantadas para fins comerciais no País, com 7,9 milhões de hectares certificados, gerando 7,9 bilhões na balança comercial e empregando mais de 1,4 milhão de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Árvores - Ibá.

Diante dos números, é nítido ver o potencial que o setor de florestas plantadas tem apresentado ao mundo, especialmente pelo estoque de CO2, que chega a aproximadamente 1,88 bilhão de tonCO2eq, e que contribui diretamente para um planeta mais sustentável. A descarbonização é, hoje, um dos principais objetivos das empresas que estão engajadas com a sustentabilidade. A neutralidade de emissões só será alcançada por meio de florestas, e, nesse quesito, somos especialistas.
 
O potencial energético do nosso país é tão grande que saltam aos olhos as oportunidades quando observamos a participação de renováveis em nossa matriz energética. A nossa utilização de fontes renováveis é maior que o índice mundial (Brasil: 46% x Mundo: 14%). 

É evidente a constatação do quanto a indústria de florestas plantadas pode contribuir para o fortalecimento das fontes renováveis na matriz energética nacional e mundial, ao participar diretamente das metas de descarbonização. Com certeza, a gestão de meio ambiente, representada pelo “E“ do tripé da sustentabilidade ESG, está no DNA da indústria de florestas plantadas.

As plantações florestais e suas respectivas indústrias, espalhadas por todo o País, tem o Eucaliptus como o principal gênero plantado, ocupando áreas importantes em diversos municípios e comunidades rurais. Quando observamos os impactos sobre essas localidades, notamos um aumento positivo no Índice de Desenvolvimento Humano - IDH, na geração de empregos e renda, que promove e oportuniza melhorias no acesso a serviços sociais, além de tantos outros benefícios. Nesse tom, a indústria florestal cria um ciclo de desenvolvimento e traz para a responsabilidade corporativa o real comprometimento com o “S“, de Social, no tripé de sustentabilidade proposto pelo ESG. 

Durante a pandemia, somente o setor de florestas plantadas doou às cidades brasileiras mais de R$ 170 milhões em equipamentos hospitalares, materiais de higiene, máscaras de proteção, alimentos e outros. O setor fez sua parte e continua atento às necessidades das regiões, mesmo em meio à crise que estamos enfrentando. Se temos bons exemplos junto às comunidades, quando olhamos para dentro das empresas, nos orgulhamos do que foi feito, através de ações responsáveis, que colocam o bem-estar e a saúde das pessoas em primeiro lugar. No quesito “segurança nas operações”, vimos que foi e é possível atuar de forma segura e saudável, através de protocolos eficientes e responsáveis com a vida, bem planejados e geridos, mostrando, aqui, o alicerce “G”, de Governança, do tripé ESG. 

Existem também desafios que nos motivam e nos impulsionam a fazer mais e melhor. Recentemente, a publicação da Rede Mulher Florestal mostrou o dado de que somente 19% da força de trabalho no setor é ocupado por mulheres, e, destes, apenas 11% estão em cargos de liderança. Observamos uma evolução, mas ainda é muito tímida. Podemos e iremos fazer mais. 
 
É sabido que uma empresa inclusiva e diversificada potencializa a inovação e amplia a geração de riqueza social e financeira. Empresas que geram riquezas estimulam novos ciclos, e, com isso, desejo que o “G” seja a base desse tripé da sustentabilidade, como gerador de riquezas e, consequentemente, prosperidade.

Enfim, a indústria florestal brasileira pode mostrar ao mundo que é protagonista e tem em seu DNA esse novo ciclo do ESG, que veio para qualificar. Se construirmos parcerias reais com os múltiplos atores da cadeia de valor, sejam eles públicos ou privados, aproveitando de maneira sustentável o nosso potencial edafoclimático e territorial, sempre em busca de práticas cada vez mais sustentáveis, responderemos com maior assertividade sobre nossa contribuição para a construção de um novo mundo, em constante aprendizado e respeito ao plural, que é o pilar da nossa sociedade.