Secretário de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais
Op-CP-09
Quando examinamos as propostas e projetos governamentais e empresariais, de longo prazo, para o setor florestal, sentimos falta, logo de início, de sua conexão indispensável com as políticas públicas de desconcentração fundiária e de geração de empregos. Um país que precisa incrementar seus procedimentos de geração e de distribuição de renda não pode – sob pena de pagar, no curto, médio e longo prazos, um custo social adicional – negligenciar as oportunidades existentes de elevar a oferta de trabalho no campo, nos mais diferentes pontos de seu território.
E, portanto, não pode se esquecer, nesse capítulo, das vantagens comparativas do setor florestal. Ou seja, acreditamos que os planos, governamentais ou não, para o setor florestal, têm, necessariamente, de levar em conta dois aspectos fundamentais:
A nosso ver, o modelo inteligente e promissor é o que prevê plantios desconcentrados, feitos por fazendeiros florestais, associados a empresas consumidoras (ou não), capazes de atuar no processo como agentes transformadores, trazendo, aos agricultores, as modernas tecnologias, que lhes permitirão produzir matéria-prima florestal com a qualidade que o mercado exige, ao lado de plantios próprios, para garantir margem de segurança no abastecimento de matéria-prima.
Não é demais pensar nessa possibilidade como real e factível, face à mentalidade cada vez mais progressista e comprometida com a sustentabilidade, demonstrada pelos que se dedicam, hoje, ao agronegócio no Brasil, segmento econômico de menor passivo ambiental do país e que desponta como bom guardião de nossas áreas florestais, ecologicamente interessantes.
No caso de Minas Gerais, o que temos sempre em vista, na elaboração de nossos planos de médio e longo prazos para o setor florestal, é a preocupação constante com a sustentabilidade setorial, o que está prestes a acontecer e já é mesmo uma proposta do maior segmento de consumo de matéria-prima vegetal: a indústria siderúrgica.
No nosso estado, em especial, merecem atenção redobrada as áreas desgastadas do Vale do Rio Doce, uma das mais degradadas do país, e que temos o compromisso de resgatar para um patamar de aproveitamento econômico e ecológico decente. No que se refere ao cerrado como um todo, cumpre-nos reconhecer, sem demora, que estamos no momento de parar o processo de incorporação de novas áreas à fronteira agrícola.
O momento é diferente e nos convida a dar um passo mais sábio: o de conquista inadiável de melhores índices de produtividade nos cultivos das terras já desbravadas e não mais de expansão territorial, pois, em termos do cerrado, já atingimos o limite de capacidade. Pensamos ter chegado a hora, também, de o setor florestal, como um todo, deixar de ser mero produtor de material bruto e passar a cuidar de agregar valor ao que produz. Vamos deixar de ser simples fornecedores de ferro-gusa, verticalizar mais o setor e colocar no mercado produto com maior valor agregado e mais interessante para o país.
Minas Gerais, que detém 2% das florestas plantadas do país – e tem plenas condições de chegar a mais de 5% do total, sem prejuízo para o setor de proteção ambiental – pode dar uma grande contribuição nesse sentido, não só porque conta com um empresariado de primeira linha na área de florestas plantadas, como também com enorme tradição setorial de pioneirismo. Talvez, mais uma vez, surjam aqui as inovações que precisam contaminar todas as iniciativas brasileiras nessa área, e com esse objetivo muito claro que estamos trabalhando.
É preciso também, no que se refere a Minas Gerais, explorar toda a potencialidade do setor florestal para o mercado de carbono, dadas às características do perfil tecnológico de nosso parque industrial, especialmente o da siderurgia a carvão vegetal. Além disso, não podemos perder de vista o significado do segmento florestal para um estado, como o nosso, cuja matriz energética tem 1/3 do seu suprimento primário de energia, oriundo de biomassa florestal.
São esses fatores que nos levaram a buscar a parceria da UFLA – Universidade Federal de Lavras, com ampla experiência no setor, para fazer um retrato fiel e competente da situação florestal do estado – através do monitoramento contínuo de sua cobertura florestal – bem como para desenvolver um programa de um zoneamento ecológico e econômico, para embasar cientificamente nossas decisões, no âmbito da gestão florestal de Minas.
Em termos de país, um aspecto importante da política brasileira de biocombustíveis tem nos sensibilizado: a necessidade de impedir que ela se atenha, exclusivamente, ao biodiesel, dada a imensa oportunidade de desenvolvimento rural que representa ampliar essa visão, para valorizar os combustíveis sólidos, como o carvão vegetal e a lenha, oriundos de plantações florestais sustentáveis, que podem ter um protagonismo interessante na promoção da renda familiar dos pequenos e médios proprietários rurais brasileiros, aproveitando a experiência já existente nesse campo, não só em Minas Gerais, como em outros estados.
Temos a convicção de que estamos vivendo um momento especial de oportunidades múltiplas de desenvolvimento do setor florestal brasileiro e, com a indispensável competência gerencial, poderemos marcá-lo com decisões capazes de inscrevê-lo na história da mudança do perfil tradicional de nossa economia rural.