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Manoel de Freitas

Diretor da Manoel de Freitas Consultoria Florestal

Op-CP-22

Fatores a considerar

A expansão da silvicultura no Brasil bem que se encaixaria num provérbio do budismo que diz que “se estamos olhando na direção certa, tudo o que temos que fazer é continuar caminhando”, pois os números do setor nos indicam que estamos na direção correta, restando encontrar as condições ideais dessa caminhada.

De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas - Abraf, no ano base 2009, o valor bruto da produção de plantações florestais alcançou o montante de R$ 46,6 bilhões, gerou arrecadações de R$ 8,1 bilhões em tributos e manteve 3,9 milhões de empregos, entre diretos, indiretos e por efeito renda.

Esses dados tomam por base uma área plantada de 6,8 milhões de hectares, onde predominam eucaliptos e pinus, mas também incluem quase 500.000 hectares com outras espécies, boa parte delas nativa.

Nesse cenário, seria bom recapitular as vantagens das plantações florestais, quais sejam: produzem mais renda ao proprietário rural – em terras sem vocação agrícola, geram número de empregos acima de outras atividades e trazem benefícios ambientais, entre eles, a conservação do solo, a redução dos extremos da temperatura dentro do perímetro florestal e a contribuição para o sequestro do CO2 da atmosfera, um dos causadores do efeito estufa.

Quando se apontam outras vantagens, como a diminuição da pressão sobre florestas nativas, a importância das plantações florestais sobe de patamar, afinal de contas, estima-se que consumimos entre 1,5 a 2,0 m3 de madeira por habitante/ano, o que nos levaria a um consumo entre 285 a 380 milhões de m3/ano. E, se for válida a tese de que o consumo total de madeira cresce a um ritmo igual ao crescimento da população – essa é uma constatação global –, a situação exigirá estratégias bem estruturadas de expansão da base florestal.

Como em toda caminhada, na expansão florestal, poderemos também encontrar obstáculos, alguns já existentes, ou que aparecerão durante o trajeto, criando impedimentos para o prosseguimento. Quais seriam esses obstáculos no caso em questão? A meu ver, uns seriam de natureza técnica, outros de natureza econômica e alguns de natureza ambiental.

Os de natureza técnica requerem encontrar o material genético adequado para o plantio em novas fronteiras florestais, tais como os estados do Maranhão, Piauí e Tocantins, e em outras regiões mais ao Centro-Oeste e Norte do País. Referimo-nos a novas fronteiras florestais para diferenciá-las das áreas produtoras tradicionais – regiões Sul, Sudeste e parte da Bahia – que se encontram, de certa maneira, esgotadas, absorvendo apenas crescimentos marginais de novos plantios.

Essas novas fronteiras dispõem de poucas pesquisas florestais e estão em climas normalmente mais secos, requerendo passar os grandes projetos florestais pelo crivo do tempo. Obstáculos de natureza econômica resultam, principalmente, da subida acelerada dos preços de terras nas regiões tradicionais, fenômeno esse que é esperado também nas novas fronteiras, tão logo avancem os grandes programas florestais previstos para essas áreas. Se os preços de terra serão compatíveis com os retornos financeiros, isso será objeto de análise caso a caso, doravante.
 
Não se refloresta até o ponto da colheita por menos de R$ 5.000,00/hectare, e, dessa forma, a disponibilidade ampla de linhas de crédito com juros e prazos de pagamentos compatíveis com uma atividade de longo prazo torna-se objetivo a ser alcançado.

Por último, os obstáculos ambientais. Complicados a meu ver. Muito tempo e muita exigência para licenciar uma área para plantio, mesmo as já antropizadas. O curioso é que as exigências ou a demora para licenciar variam muito de estado para estado. Sinal de que há algo subjetivo ou um grande espaço para simplificar.

Cabe notar que as plantações florestais talvez sejam a ocupação mais perfeita de uma área rural, pela gama de serviços ambientais fornecidos, além do fato de que o setor florestal está entre os que mais cumprem os requisitos da legislação, como Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente.

Finalmente, defronta-se o setor com o compromisso contínuo de explicar à sociedade que os mitos contra determinadas espécies não passam de crenças e ideologias, sem nenhum fundamento técnico-científico. Os obstáculos serão vencidos? A resposta é muito simples: sim, serão vencidos, pois, ao final, prevalecerá a lei do pêndulo, que tende ao meio, após sua ida para os extremos, eliminando os exageros.