A fotossíntese é um dos processos mais extraordinários e essenciais para a manutenção da vida na Terra. Diariamente, nosso planeta recebe do Sol cerca de 4,18 bilhões de bilhões de kWh na forma de radiação eletromagnética. Uma fração ínfima dessa energia é utilizada pelas plantas para a fotossíntese, cuja eficiência, em condições ideais, varia entre 0,1% e 0,2% da energia solar incidente. Esse processo converte energia luminosa em energia química, armazenada na forma de biomassa.
Cerca de metade da energia assimilada pelas plantas é consumida pela respiração celular para manter o metabolismo. A outra metade é alocada no crescimento e reprodução. Nas árvores, os primeiros órgãos a receber energia são as copas e as raízes, por sua função na captação de luz, água e nutrientes. Apenas o excedente é destinado ao tronco — parte de maior interesse para a produção florestal. De forma simplificada, a produtividade florestal pode ser compreendida como o saldo entre o carbono fixado e o carbono perdido, e a árvore perfeita reúne uma série de características que favorecem esta dinâmica.
Do ponto de vista funcional, cabe a nós silvicultores uma missão: prolongar ao máximo as condições ideais para a fotossíntese e minimizar perdas por meio de um manejo eficiente. A fotossíntese depende de CO2, água e luz solar, e sua eficiência está ligada à temperatura.No Brasil tropical, o intervalo ótimo para as principais espécies de Eucalyptus varia de 20°C a 25°C.
Historicamente, o avanço do eucalipto no País foi marcante. Com incentivos fiscais nos anos 1970, a produtividade saltou de 12 m³/ha/ano para cerca de 40 m³/ha/ano em plantios clonais na década de 2010. Entretanto, nos últimos 15 anos, houve estagnação ou declínio em várias regiões. Segundo dados da Ibá, a produtividade média nacional atualmente varia entre 33 e 35 m³/ha/ano.
Até os anos 2000, o cultivo se concentrava em Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e sul da Bahia, com cerca de 3 milhões de hectares plantados. A partir de então, houve expansão expressiva, especialmente para o Centro-Oeste, com destaque para o Mato Grosso do Sul, que hoje possui 1,4 milhão de hectares, inseridos em condições mais desafiadoras — solos arenosos, menor fertilidade natural, precipitação entre 1.200 e 1.300 mm e temperaturas que frequentemente ultrapassam 40°C.
Estudos do TECHS/IPEF indicam que, para cada 100 mm de aumento do déficit hídrico anual, a produtividade pode cair em até
5 m³/ha/ano, e para cada 1°C de aumento médio de temperatura, a redução pode chegar a 5,8 m³/ha/ano. Além das limitações hídricas, estresses oxidativos reduzem ainda mais o potencial fotossintético das plantas.

Outros desafios contribuíram para a queda da produtividade, como o chamado “distúrbio fisiológico”, observado no início dos anos 2010 em regiões litorâneas do sul da Bahia e Espírito Santo, causando paralisia do crescimento em clones antes considerados elites.
As causas ainda não são plenamente compreendidas, mas há forte indício de que variações climáticas atuam em interação com o material genético.
Ambos os problemas descritos são considerados importantes fontes da redução da média da produtividade brasileira e foram experimentados por clones atuais oriundos de espécies tradicionais. Uma importante estratégia para mitigar estas perdas é a diversificação de estratégias de melhoramento genético, incluindo a utilização de espécies não convencionais, como fonte de genes para enfrentamento das condições adversas a partir de características de interesse.
O avanço das pragas florestais representa outro problema para a produtividade. Em 2010, cerca de 14% das áreas apresentavam incidência (exceto formigas); em 2023, esse número saltou para 34%. A depender da praga e da intensidade do ataque, as perdas podem ir de 5 a 30% da produtividade. Em casos extremos podem resultar na mortalidade das plantações florestais.
Neste contexto, o manejo integrado de pragas, em especial o monitoramento constante e precoce de ocorrências e a manutenção de um programa de controle biológico são chaves para revertermos as perdas e, de maneira responsável e sustentável, restringirmos apenas e último caso as pulverizações com defensivos químicos.
A tecnologia pode ser aliada. Com inteligência artificial e big data, é possível entender melhor o comportamento fisiológico dos clones em diferentes ambientes, permitindo ajustar o posicionamento genético e práticas como espaçamento e adubação.
Esse conhecimento contribui para o aumento da eficiência e redução das perdas por mortalidade. Por fim, há um horizonte promissor no uso de ferramentas de engenharia genética, como a edição gênica e transgenia, para acelerar ganhos e respostas a ambientes adversos.
Integradas ao melhoramento genético convencional, essas tecnologias têm o potencial de transformar a produtividade do setor, ainda que careçam de mais abertura e discussão principalmente perante as certificadoras. O setor precisa avançar e falar disto com clareza e profissionalismo!
Reverter o declínio da produtividade passa por um caminho claro: favorecer a fotossíntese e reduzir as perdas que hoje limitam a conversão da energia solar em madeira.
Essa é a essência da busca pela árvore perfeita e uma missão contínua para a ciência florestal brasileira.